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RELAÇÕES EXTERIORES TEMER | Interesses imperialistas por trás do golpe: Serra, ministro das Relações Exteriores de Temer

O governo dos golpistas promete completa subordinação aos interesses imperialistas com José Serra (PSBD) nomeado Ministro do Comércio e Relações Exteriores.

sexta-feira 13 de maio de 2016 | Edição do dia

Com o avanço do golpe institucional no Senado nesta quinta-feira (12/05), e afastamento de Dilma, se confirma a tendência que vem primando na conjuntura latina, de fim dos governos pós-neoliberais e avanço da direita na superestrutura política. O primeiro a comemorar o feito golpista foi o presidente Macri da Argentina que se apressou em dar declarações de legitimação ao governo Temer, já que a consumação do golpe sinaliza que o Brasil entrará de cabeça na agenda de ataques aos trabalhadores, corte de gastos com educação e saúde, e subordinação política ao imperialismo estadunidense. O primeiro discurso de Temer como presidente em exercício confirmou essa agenda mencionando uma série de medidas neoliberais como privatizações, ajustes, reformas trabalhista e previdenciária.

Os ministros anunciados por Temer, além de serem em grande número investigados em esquemas de corrupção, representam banqueiros e membros de famílias da velha oligarquia brasileira. Se antes era dúvida a participação do PSDB no interior do governo Temer, Serra tratou de articular sua entrada de cabeça no governo golpista para mostrar serviço ao imperialismo americano, encabeçando o ministério das relações e comércio exteriores.

Dilma, em seu discurso, entre outras questões contraditórias apontou que “O que está em jogo é também a grande descoberta do Brasil, o pré-sal”. Ainda que o PT tivesse optado por modelo que havia desagradado as grandes multinacionais do petróleo, a verdade é que Dilma já havia fechado um acordão com Serra e Renan para aprovação de lei que entregava o pré-sal ao imperialismo.

Serra, pré-sal e o imperialismo: como deve ser a política externa de Temer?

O petróleo é fonte energética fundamental ao funcionamento de toda economia capitalista. Quando se iniciou a descoberta do pré-sal no Brasil grandes multinacionais brilharam os olhos. O site Wikileaks já havia publicado revelações de Edward Snowden (ex-administrador de sistemas da CIA e ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos) mostrando intensa atividade de espionagem dos EUA em busca de informações que favorecessem os negócios capitalistas envolvendo o pré-sal. Longe de querer combater os interesses imperialistas, o PT logo anunciou um processo de privatização da Petrobrás à sua forma. Optaram por um formato de concessões que, contudo, continha exigência da Petrobrás como operadora única de todos os poços de exploração do Pré-Sal e participação de pelo menos 30% de cada bloco licitado. Este modelo não foi bem aceito por grandes empresas internacionais, que queriam a entrega total do pré-sal, sem nenhuma dessas exigências.

Foi então que as multinacionais tentaram articular a mudança do modelo de privatização utilizando seus representantes políticos brasileiros, como Ricardo Ferraço, senador do PMDB que chegou a se reunir com representantes da Shell neste contexto, e, sobretudo José Serra e o PSDB, que tanto agradaram com FHC nos anos 1990 e suas privatizações sem limites e seu seguimento à risca das cartilhas neoliberais do Banco Mundial e FMI.

O PT não deixava de se articular aos grandes empresários para garantir seus interesses. Por exemplo, abrindo leilões que foram algumas das maiores privatizações da história, como da Bacia de Libra em 2013, uma das maiores reservas do Pré-Sal. Na ocasião saíram ganhando um consórcio formado Petrobrás (com participação de 40%), ao qual aderiram a anglo-holandesa Royal Dutch Shell (20%), a francesa Total (20%), e as empresas chinesas de petróleo China National Petroleum Corporation (CNPC, com 10%) e China National Offshore Oil Corporation (CNOOC, com 10%).

Porém, ainda que algumas outras grandes multinacionais com leilões feitos a preço de banana também tenham se beneficiado de privatizações, como a Shell, a verdade é que algumas das gigantes do petróleo seguiam uma pressão contra o modelo de privatizações adotado pelo PT, se articulando com PSDB e PMDB, como as norte-americanas Exxon Mobil e Chevron. Serra se empenhava, então, para modificar pela lei o modelo de concessões, utilizando a corrupção como argumento de suposta ineficácia de gestão na Petrobrás, para abri-la completamente ao capital estrangeiro.

Outros vazamentos de documentos pela Wikileaks mostraram que há anos José Serra se articulava com as gigantes do Petróleo em negociatas. Em documento de 2009 o então candidato a presidência negociava formas de garantir a privatização completa.

Desde o ano passado se intensificaram as táticas de pressão sob o argumento da corrupção para abertura da Petrobrás ao capital internacional. Com uma série de outros fatores determinantes, aqui se encontram três elementos que possuem algo em comum: a política de desgaste de Serra do PSDB e do PMDB, a operação Lava-Jato e manobras de desgaste do judiciário com apoio do “partido midiático”, e o avanço do processo de Impeachment de Dilma Roussef. O elo destes três elementos são os grandes interesses do imperialismo estadunidense e de suas multinacionais. Cada um destes atores políticos sujou suas mãos em um processo que se imbricou ao golpe institucional, e que certamente trará enormes ganhos a determinado setor do capital internacional.

Em pesquisa realizada pelo Esquerda Diário desvendamos as ligações do juiz Sérgio Moro com o PSDB e com a Shell, e a enorme disputa entre setores da burguesia por trás das investigações seletivas da operação lava-jato. Como afirmamos nesta pesquisa “A operação Lava Jato está concentrada em três diretorias da Petrobras, porém são quatro diretorias que movimentam muitos recursos. A mais estratégica ficou blindada.”. Nesta operação, parte dos esquemas de corrupção que atingiam alguns empresários e políticos foi investigada, mas seguiu uma disputa entre, por exemplo, as empresas SBM, Schlumberg, Haliburton,Transocean, ligadas a destacados global players, e a empresa Sete Brasil que ameaçava seus monopólios de navios sonda.

Parte de importantes esquemas de corrupção segue sem ser golpeados, nem sequer tocados pela operação lava-jato de Sérgio Moro. Com as manobras do STF, e com a campanha feita por PMDB, PSDB, e de uma série de partidos da ordem sob a égide do combate à corrupção, se alçam agora ao poder no novo governo Temer uma camarilha de políticos envolvidos profundamente em esquemas de corrupção. Mas ao mesmo tempo se desenha uma política externa brasileira, assim como tendencialmente no conjunto da América Latina, aberta e mais diretamente subordinada aos interesses do imperialismo estadunidense, com nada mais nada menos do que Serra no Ministério das Relações e Comércio Exteriores, legítimo representante político nacional dos interesses de multinacionais como Chevron e companhia.

Os atores políticos se confundem com atores econômicos, e, nas crises capitalistas nesta época imperialista, é garantido que, se por um lado um setor da burguesia sai golpeado, por outro, grandes monopólios se tornam ainda maiores, grandes milionários passam a concentrar ainda mais a riqueza do mundo. Assim como no início da crise em 2008, com os salvamentos seletivos do Federal Reserve norte americano que deixaram quebrar o banco Lehman Brothers, em beneficio de JP Morgan que crescia extraordinariamente, também nos países que agora vivem recessão econômica como o Brasil há uma reorganização das forças políticas mediante as disputas de frações do capital. Com o esgotamento das condições de governo do PT que tanto serviu ao lucro dos banqueiros, agora os grandes imperialistas encontram no governo Temer, e no novo Ministro Serra grandes aliados para seus negócios, às custas dos ataques à classe trabalhadora.

Para os trabalhadores a promessa são ataques. Corte na educação, na saúde, reforma trabalhista atacando direitos, reforma da previdência atacando aposentados, pedirão para que sangremos pelo lucro dos grandes monopólios, que paguemos pela crise. Os golpistas da Fiesp querem que almocemos com uma mão enquanto trabalhamos com a outra para que não “paguem o pato” da crise. A agenda neoliberal radical de subordinação política ao imperialismo é o que prometem os golpistas. Assim como era necessário uma luta de toda classe contra os ajustes que Dilma anunciava, agora mais do que nunca é necessário romper com as amarras das burocracias sindicais, com métodos históricos radicalizados da classe trabalhadora para impor que os capitalistas paguem pela crise, contra os cortes, contra as privatizações, e contra a precarização da vida dos trabalhadores.




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