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Dossiê Trostki - 76 anos | Inédito: Trotski em Coyoacán - Parte I

terça-feira 23 de agosto de 2016 | Edição do dia

Neste dossiê - 76 anos de morte de Trotski o Esquerda Diário traduziu parte do livro inédito no Brasil escrito pelo amigo e secretário do revolucionário russo. Traduzimos o capitulo Coyoacan do Livro "Con Trotsky de Prinkipo a Coyoacán. Testimonio de siete años de exilio" onde Jean van Heijenoort relata suas lembranças dos últimos anos de vida de Trotski no México.

Jean van Heijenoort (1912-1986) era estudante de matemática. Foi secretario de Trotski em Prinkipo desde novembre de 1932 até sua chegada a França. Acompanhou Trotski por quase todo tempo de exílio. Permaneceu com Trotski no México até novembro de 1938. Depois viveu nos Estados Unidos, garantindo importantes responsabilidades no secretariado internacional da Quarta Internacional até 1946. Em 1948 declara sua ruptura com o trotskismo e o marxismo em geral e inicia uma carreira reconhecida como matemático e historiador da matemática. Continuou contribuindo para a historiografia sobre Trotski e morre em 1986 em um trágico assassinato.

Coyoacán

Embarquei em Cherburgo em 28 de dezembro de 1936, no Expresso da Australia para Nova York. Era inverno e o barco, bastante grande, estava quase vazio. A bordo havia um grupo de estudantes norteamericanos que voltavam a seu país depois de uma estadia de vários meses na Europa. Esse foi meu primeiro contato com a juventude norteamericana, cuja vitalidade e espontaneidade pude sentir.

Passei alguns dias em Nova York, onde me reuni com trotskistas norteamericanos. Lembro-me de uma cena iluminada com velas na casa de James Burnham que me surpreendeu muito. Me alojei na casa de Harold Isaacs. Tomei o avião para México em Newark, no meio de uma tormenta de neve. O avião não foi além de Memphis. Um temporal atingiu todo o sudeste dos Estados Unidos e tive que atravessar de trem as planícies geladas. Finalmente cheguei a Laredo, onde tomei o avião para o México. Aterrizei no México em 11 de janeiro, ao meio dia. Do aeroporto tomei um taxi até Coyoacán. Na casa azul da avenida Londres, rodeada de policiais, me encontrei com Trotski e Natália que haviam chegado de Tampico uma hora antes. Lhes dei as notícias de Paris.

Escapado da armadilha norueguesa, Trotski estava cheio de entusiasmo. Devia organizar o secretariado o mais rápido possivel, em um país novo, com uma língua nova. Encontrei uma datilógrafa russa, muito competente, Rita Jakolevna, que começou a trabalhar em 16 de Janeiro.

Era neste período que se desenvolvia o segundo processo de Moscou, o de Rádek, Piatakov, Murálov, Sokólnikov e uma dúzia mais. Cada dia, aos escritórios da imprensa que detalhavam os pontos de acusação fabricados em Moscou, Trotski respondia com um artigo, demonstrando o mecanismo da fabricação. Havia que traduzir esse artigo imediatamente para o Inglês e Espanhol, destribuí-lo nas agências da imprensa internacional e entregá-lo aos diarios mexicanos. Pela noite, eu fazia a leitura dos periódicos do México. Uma das acusações falsas do processo de Moscou era que Piatakov havia chegado de avião a Noruega em dezembro de 1935 para encontrar-se com Trotski. Podemos estabelecer que nesta data o aeroporto de Oslo estava fechado, devido ao mau tempo. Em 29 de janeiro, Trotski me disse: "Assim como um corvo pode provocar uma avalanche, a história do avião de Piatakov pode ser o começo da queda de Stalin". E, no dia 31, depois da execução de Piatakov, "Isso custará muito a Stalin". Essa era uma perspectiva demasiada estreita. Sem dúvida pensava em Stálin quando em 31 de janeiro me disse: "A astúcia, qualidade inferior da inteligência".

Diego Rivera havia oferecido a Trotski a casa azul de Coyoacán, na avenida Londres¹. Ele vivia com Frida em San Ángel, a três ou quatro quilômetros. Os dois foram muito atenciosos com Trotski. Conhecemos os membros mais ativos do grupo trotskista mexicano. Eram jovens professores ou jovens operários. Logo começaram a vir de noite, um tanto, dois ou três para montar guarda até a manhã, o que me permitia descansar do trabalho de dia. Um alto funcionário mexicano, Antonio Hidalgo, assegurava a relação com o governo e logo o converteu em um amigo pessoal. Era um homem direito, de caráter forte, que havia participado da revolução mexicana. Trotsky e Natalia adquiriram afeto por ele. Enquanto eu corria a seu escritório quando havia algum problema para resolver com qualquer administração e sempre nos auxiliava.

No início de fevereiro, passamos com Hidalgo duas ou três semanas na casa de campo Bojórquez próximo de Cuernavaca. Era também um alto funcionário, amigo de Hidalgo, mas que guardava certa distância de nós. As relações entre Trotski e ele eram corteses, mas nada de mais. Durante essa estadia na residência de Bojórques, fomos passar o dia na casa de Mújica, que tinha um rancho muito próximo. Mújica era secretário de Comunicações e Obras Públicas; de fato, era o amigo e colaborador mais próximo de Cárdenas. Um encontro entre Trotski e Cárdenas, chefe de Estado, era impossível, mas não uma reunião com Mújica, que de certa maneira aconteceu no lugar da reunião com Cárdenas. Era um homem de grande inteligência. O rosto largo e os olhos brilhantes lhe davam uma certa semelhança com Trotski. A conversa foi amistosa e animada. Se falou do México, sobretudo de seus problemas econômicos e sociais, mas sem tocar em temas políticos imediatos.

Os trotskistas norteamericanos haviam organizado, para 16 de fevereiro, um encontro em uma grande sala de Nova York, o Hipódromo. Trotski devia falar por telefone do México, em russo e em Inglês. No final da tarde estávamos Trotski, Natália e eu em uma saleta do edifício da companhia de telefones do México. Um microfone havia sido instalado no meio da sala e um técnico havia dado instruções a Trotski sobre a forma de falar. Ficamos ali várias horas. Algumas vezes, a comunicação com Nova York parecia estabilizar, mas logo era cortada. Finalmente fomos obrigados a abandonar a ideia. Eu ainda conhecia pouquíssimo o meio mexicano. Se já tivesse a experiência que futuramente adquiri, talvez tivéssemos encontrado alguma solução alternativa. Em Nova York, Max Shachtaman tirou de seus bolsos o texto em inglês do discurso de Trotski enviado como medida de precaução uns dias antes e o leu ao auditório. As comunicações telefônicas, evidentemente, não tinham em 1937 a qualidade que têm hoje em dia. Mas estávamos, depois de tudo, na central de telefones, cercados de quadros técnicos. Não existe em meu espírito a menor dúvida de que a comunicação foi sabotada em alguma parte, seja por agentes russos, ou pelas autoridades norteamericanas. Jan Frankell chegou da Tchecoslováquia em 19 de fevereiro. Um membro do grupo trotskista norteamericano, Bernard Wolfe, morava na casa e se ocupava da correspondência em inglês. Há muito tempo que Trotsky não tinha um secretário tão completo. Trabalhava muito.

Em fevereiro, encontrava-se no México um escritor norteamericano, Waldo Frank. Possuia laços pessoais com os stalinistas dos Estados Unidos e da América Latina, mas os processos de Moscou o haviam deixado perplexo. Veio ver Trotski uma ou duas vezes. As conversas foram animadas, mas ficaram no ar. De Nova York, John Dewey convidou Frank para ficar no México para participar dos trabalhos da comissão de investigação quando seus representantes chegassem ao México. Frank encontrou um pretexto para "cair fora". Possuía uma grande vaidade. Havia escrito a Trostski solicitando-lhe uma entrevista. Antes de se decidir, Trotski me pediu que fosse ver Frank na cidade para tatear o terreno. O encontrei na entrada de seu hotel. A primeira vez que ele me disse para me apresentar, sabendo que era francês, foi: "Eu, saiba você, sou o André Gide² das Américas".

Desde fevereiro, Trotski reivindicava a formação de uma comissão de investigação internacional para examinar as acusações lançadas contra ele e seu filho nos processos de Moscou. O projeto deu um grande passo a frente quando John Dewey, o filósofo nortemericano, aceitou participar dessa comissão e inclusive ser seu presidente. Além de seis norteamericanos, a comissão compreendia um francês (Alfred Rosmer), dois alemães (Otto Rühle e Wendelin Thomas), um italiano (Cario Tresca) e um mexicano (Francisco Zamora). Suzanne La Follette foi extremamente ativa e ágil como secretária da comissão.

Uma subcomissão veio ao México ao ver a declaração de Trotski para interrogá-lo. As audiências dessa subcomissão se realizarão de 10 a 17 de abril, no salão da casa da avenida Londres, preparado para a ocasião. Havia uns quarenta assentos para os jornalistas e o público e tudo isso colocava grandes problemas de segurança.

As audiências da subcomissão significarão, para aqueles que estavam ao redor de Trotski, longas jornadas de trabalho. Documentações que haviam passado por Alma-Atá e Prinkipo foram abertas pela primeira vez desde a partida de Moscou. Deveria ler tudo para encontrar, aqui e ali, um documento útil. Dezenas de declarações, reunidas pelo mundo, relacionavam-se aos pontos do processo cuja falsidade se podia demonstrar.

Frequentemente devíamos obter declarações de pessoas que haviam sido sempre ou ser tornaram adversários políticos de Trotski; devíamos traduzi-las, fazê-las compreensíveis ao público, em particular, aos membros da comissão. Precisávamos esclarecer, explicar, coordenar inumeráveis pontos de detalhe. Inútil dizer que não houve, em todo este trabalho, nenhuma adulteração, nenhuma dissimulação, nem o menor dedo a mais na balança.

Foram semanas de atividade febril na casa de Coyoacán. Toda manhã as pessoas da casa se reuniam no estúdio de Trotski, onde se dividiam as tarefas. Sentíamos reviver em Trotski o organizador que havia sido nos anos da revolução. Jan Frankel se ocupava das relações com os membros da comissão e os trotskistas norteamericanos, bastante numerosos, que haviam vindo ao México. Eramos obrigados a passar, portanto, muito tempo na cidade. Um dia, Trotski, foi à casa de Frankel para pedir um documento. O documento não estava pronto. Trotski voltou a seu escritório batendo a porta que era de vidro dividido em cinco ou seis cristais. Com o golpe, os cristais caíram um atrás do outro e o estrondo cristalino de cada queda ressoou por toda a casa.

Até o final dos trabalhos, durante um alto da seção, Trotski e Dewey se econtravam no pátio. "Se todos os liberais fossem como você, senhor Dewey, eu seria liberal". A vivacidade do intercâmbio foi notável, mas não podia deixar de causar certas doses de diplomacia. Trotski tinha nesse momento respeito pelo impulso e a força do caráter de Dewey. Mas alguns meses mais tarde, após assistir por rádio o veredito da comissão de investigação, Dewey agregou algumas palavras pessoias sobre o bolchevismo, Trotski se enfureceu.

Havia no banheiro da casa, suspenso em cima da banheira, um quadro a óleo, posto ali sem dúvida por Frida quando esteve na casa. Era um nu espanhol do século XIX, coberto de uma espessa camada de verniz escuro, o nu menos nu que se pode imaginar. Durante as seções da comissão, todo mundo, membros da comissão e jornalistas precisavam utilizar esse banheiro. Às vésperas da primeira seção, o quadro desapareceu; Natália o fez a pedido de Trotski. Uma vez terminadas as seções, o quadro foi novamente colocado em seu lugar. O que significa este pequeno incidente? Uma desconfiança extrema frente aos jornalistas, o desejo de não dar o menor motivo para a malícia. Nesse caso, era ir muito longe. Custa imaginar que um jornalista norteamericano, o pior intencionado, poderia fabricar um escândalo por causa daquele quadro turvo.

Frida era uma mulher notável por sua beleza, seu temperamento e sua inteligência. Muito rápido, em suas relações com Trotski, começou a ter maneiras bastante livres. Seu francês era pobre, mas falava bem inglês, pois havia vivido um longo tempo nos Estados Unidos, quando Diego pintava ali seus murais. Com Trotski, portanto, falava muitas vezes em inglês e Natália, que não entendia nada desse idioma, via-se ali excluída da conversa. Frida não vacilava, um pouco à maneira norteamericana, em brandir a palavra "love". "All my love" dizia a TrotskI quando se despedia. TrotskI, aparentemente, caiu no jogo. Começou a lhe escrever cartas. Deslizava-as em um livro e as dava a Frida, frequentemente diante de outras pessoas, inclusive de Natalia ou Diego, recomendando-lhe que lesse. Eu não sabia de nada, obviamente, dessas astúcias neste momento, foi Frida quem me as contou tempo depois.

Tudo isso acontecia semanas depois do final das audiências da comissão Dewey. No final de junho, a situação foi tal que os que se encontravam mais próximos de Trotski começaram a inquietar-se. Natalia sofria. Enquanto Diego não se dava conta de nada. Era um homem com traços de ciúmes doentio e a menor suspeita de sua parte haveria provocado uma explosão. Pode-se imaginar o escândalo e suas graves repercussões políticas. Jan Frankel, se minhas lembranças não me enganam, se atreveu a falar a Trotski dos perigos que esta situação apresentava.

No começo de julho, para amenizar a tensão que crescia entre eles, Trotski e Natalia decidiram se separar por um tempo. Trotski se instalou na fazenda de um latifundiário, Landero, que António Hidalgo e Diego Rivera conheciam. Era próximo de San Miguel Regla, a uns 130 quilômetros a noroeste do México, pouco depois de Pachuca. Trotski morava ali com Jesús Casas, o oficial de polícia que comandava a pequena guarnição da avenida Londres e com Sixto, um dos motoristas de Diego Rivera. Podia pescar e andar a cavalo. Chegou ali em 7 de julho. Natalia ficou em Coyoacán.

Em 11 de julho Frida foi ver Trotski na fazenda. Tenho boas razões para crer que logo nessa visita Trotski e Frida decidiram por fim a suas relações amorosas. Até este momento se haviam deixado escorregar pela ladeira do flerte. De agora em diante não podiam mais seguir adiante sem comprometerem-se a fundo. O desafio era demasiado grande. Os dois deram marcha ré. Frida estava muito ligada a Diego e Trotski a Natalia. Por outro lado, as consequências de um escândalo poderiam ir longe demais.

Natalia, que havia tido conhecimento da viagem de Frida à fazenda, escreveu a Trotski pedindo explicações. Trotski, que acabava de cumprir com o que considerava seu dever rompendo com Frida, respondeu a Natália chamando-lha de "minha vítima" e declarava que derramava lágrimas "de piedade, de arrependimento e de […] tormento".

Algumas das cartas que trocavam Trotski e Natalia nessas três semanas de separação se conservaram. Depois de sua ruptura com Frida, Trotski sentiu que recuperava toda sua ternura por Natalia, e as cartas que lhe escreveu testemunhavam seu carinho. Em contrapartido, logo apareceu um tema mais obscuro. É o "tormento". Por um mecanismo psicológico bastante conhecido, Trotski se pôs a censurar Natalia, para aliviar seu sentimento de culpa para com ela, uma suposta infidelidade. Talvez pensasse também que a melhor defesa é o ataque. O motivo primeiramente aparece com hesitação. "Com vergonha, com ódio de mim mesmo te escrevo isto[…]" Logo, a voz se fez mais forte. Trotski fez perguntas a Natalia sobre as relações que havia tido com um jovem assistente, quando ela trabalhava no Comissariado do Povo da Instrução Pública, nos primeiro anos do governo bolchevique, ou seja, há um pouco menos de vinte anos. O assistente havia se apaixonado por Natalia, mas ela nunca havia respondido a suas demandas. O estalo mais intenso, por outro lado, não se produziu por carta, sim por telefone. Em 21 de lulho pela manhã, Trotski chamou desde Pachuca Natalia para fazer uma cena de ciúmes: Trotski falando em russo em um telefone mexicano que funcionava mal, para acusar Natália de uma infidelidade fictícia, que se havia produzido há quase vinte anos! Natalia queixava-se. "Meu pequeno León não confia em mim. Perdeu a confiança. É seu orgulho". Depois da chamada, Trotski se sentiu aliviado. "Parece que me acalmei. Posso, em todo caso, esperar até nos encontrarmos".

Essa crise de ciúmes não foi, aparentemente, um caso isolado. Trotski mesmo, em suas cartas, fala de "retorno" e considera seu "tormento" como uma espécie de febre cujos acessos se produziam periodicamente. Quando Trotski e Natália se conheceram em Paris, em 1903, ela possuía um amante e teve, antes de deixá-lo, alguma vacilação. Após a morte de Trotski, confiava a uma amiga: "Nunca me perdoou. Sempre voltava ao mesmo ponto".

Durante essas semanas de julho de 1937, Natalia, por sua vez, deu a Trotski um golpe muito duro. Em 18 de julho lhe escrevia: "Todos, no fundo, estamos terrivelmente sós", o que era, como Natália mesma o fazia perceber, uma observação bastante trivial. Trotski ficou muito sacudido pela frase. "Essa frase foi para mim como uma facada no coração". Pode haver duas razões que expliquem este sacudir. Em primeiro lugar, a frase traduzia, por parte de Natalia, o sentimento de sua solidão. Mas era também para Trotski uma ofensa a sua concepção de homem comunista.

Em meio aos tormentos do coração aparece, nas cartas, o desejo sexual. Em 19 de julho Trotski informa a Natalia sobre o estado de seu pênis (empregando uma palavra russa popular) e descreve, utilizando os termos mais crus, a mecânica dos jogos sexuais que sonhava poder gozar com ela. Trotski regressou a Coyoacán em 26 ou 27 de julho. Eu havia sido internado no Hospital Francês de México em 17 de julho, para uma operação de apêndice. Não estava, portanto, na avenida Londres quando Trotski voltou ou se estava já havia adormecido.

A vida na casa recuperou seu ritmo habitual. Para um observador externo, as relações entre essas quatro pessoas, Trotski e Natalia, Diego e Frida, só estiveram marcadas por diferenças sutis. Se estabeleceu certa distância entre Trotski e Frida. Já não se ouvia mais a palavra "love". A mudança mais sensível se produziu, talvez, na atitude de Natália perante Frida: havia momentos de frieza que alternavam com súbitas euforias. Trotski pediu a Frida que lhe devolvesse as cartas que escreveu. "Poderiam cair nas mãos da GPU", lhe disse. Frida as devolveu e, ao que parece, ele as destruiu. Foi então que Frida me falou um pouco do que havia se passado.

Estou convencido de que a aventura amorosa que Trotski teve com Frida foi a primeira, desde sua saída da Rússia. Na Turquia, França, Noruega, as circunstâncias não permitiam este tipo de coisas. Poco depois do final de sua aventura com Frida, Trotski tentou estabelecer relações amorosas de outro caráter com uma mulher jovem. Falarei em seguida sobre ela. À luz do que pude ver no México, pela maneira como Trotski se comportava frente à Frida e esta outra jovem mulher, por certa audácia e desenvoltura que usava em suas manobras, tendo a crer que teve, ao longo de sua vida, certo número de aventuras. Quando Clara Sheridan esculpiu em barro a cabeça de Trotski com ela e em toda sua atitude frente a ela havia um elemento de flerte.

Ouvi dizer (mas de alguém que não era imediatamente próximo a Trotski) que no momento mesmo da insurreição de outubro Trotski mantinha relações com uma jovem inglesa ruiva. Mas isso é um rumor que nunca soube nada preciso.
Bernard Wolfe regressou dos Estados Unidos em agosto. Final de setembro chegou um novo norteamericano, Joseph Hansen. No dia seguinte, quem sabe no mesmo dia de sua chegada, tínhamos que ir visitar a casa da família Fernandez, que vivia em um subúrbio do México. Era uma família mexicana cujos três filhos eram membros do grupo trotskista mexicano. Todos os membros da família tinham muito afeto por Trotski e Natália. Trotski gostava de estar com eles. Fomos em um automóvel. Joe dirigia, eu ia a seu lado, Trotski e Natalia atrás. Joe evidentemente não conhecia a Cidade do México. Eu o guiava. A cada cruzamento, eu dizia "left, right ou straight ahead". No dia seguinte a essa visita, não sei por qual razão, foi necessário que voltássemos à casa de Fernández. Duas visitas em dois dias, era extraordinário, mas no fim foi isso que ocorreu. O trajeto era longo e complicado e era impensável que Joe pudesse lembrar do itinerário. Logo, como na véspera, eu o guiva: "left, right, straight ahead." De volta a Coyoacán, Trotski me chamou em seu escritório. "Não cre você que deveria fazer com que Joe volte aos Estados Unidos?" Eu estava muito surpreso. "Nunca aprenderá!" Exclamou Trotski. Saí em defesa de Joe, tratando de lhe explicar as coisas. Sem estar muito convencido, Trotski me disse: "Veremos". Joe, de fato, tornou-se, de todos os norteamericanos que vieram viver em Coyoacán, o que melhor se entendeu com Trotski e por quem Trotski teve mais estima.




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