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TRIBUNA ABERTA | Independência ou Golpe!

quarta-feira 7 de setembro de 2016 | Edição do dia

Pintura de Pedro Américo

Não é hoje que criam falsos heróis no Brasil. Falsas verdades são repetidas várias e várias vezes até chegarem aos livros de História. Lembro que aprendi na escola que Dom Pedro I fora um salvador que sobre o seu cavalo, sobre o seu alazão nos desagrilhoou de Portugal e n’um extremo ato de coragem reivindicou a Independência do Brasil.

Eu que obviamente não vivi essa época, posso imaginar o que diziam quando souberam de tal ato heróico:

“O problema é Portugal, Dom João. É só tirar Dom João VI do poder que tudo melhorará. Portugal tem que cair para estancar essa sangria que a colonização causara”

Realmente, a metrópole nunca pensou nos colonizados desde que chegou no Brasil por “engano”. Escravizou e catequizou os índios nas reduções jesuíticas, levou do nosso pau-brasil para colorir os panos da Europa e o nosso açúcar, produzido por afro-brasileiros e africanos que arrancados das suas terras natais, produziam riqueza para os senhores do engenho.

Se pararmos para pensar, Dom Pedro I, após ter declarado a Independência no lombo de uma mula, não transformou radicalmente o país em que moramos. Na verdade, instituiu uma Constituição que sequer emancipava os escravos. Quando teve a oportunidade de assumir o trono em Portugal após a morte de Dom João VI, não pensou duas vezes em sair do Brasil e deixar o trono para um adolescente de 15 anos, seu filho, Dom Pedro II.

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Não é de hoje que criam falsos heróis no Brasil. Falsas verdades são repetidas várias e várias vezes até chegarem nas páginas de jornal, no Facebook. Lembro que li na Internet que Temer seria a salvação frente à crise econômica pela qual estamos passando. Ele, com seu português rebuscado e elitista, nos salvaria do “comunismo-lulo-petista-dilmista-bolivariano”.

Eu que vivo essa época, digo com ‘sem temer’, que ouvi de parentes próximos, das ruas abarrotadas de verde e amarelo, bolo e Champagne, da Veja, do MBL, do “grande Olavo de Carvalho”, dos deputados (que votaram em nome da família e de Deus):

“O problema é a Dilma. É só tirar a Dilma do poder que tudo melhora” “Ó, só tem condições de [inaudível] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca... É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional. Com o Supremo, com tudo”, nas palavras de Romero Jucá e Sérgio Machado.

Realmente, Dilma nunca foi uma ótima presidente. Após assumir o seu mandato, tomou diversas medidas antipopulares, como sancionar a lei antiterrorismo, nomear Kátia Abreu, uma latifundiária envolvida no agronegócio (que por sinal assassina índios todos os dias) e Joaquim Levy (que fora diretor do Bradesco), cancelar a distribuição dos kits anti-homofobia nas escolas, ser abertamente contra o aborto (vide Pacto Brasil-Vaticano), reprimir as manifestações contra a Copa do Mundo em 2014, intervir militarmente na favela, sem falar nos ajustes que já vinha fazendo contra os trabalhadores.

Se pararmos para pensar, Dilma caiu “merecidamente”, mas foi golpe porque há diversos interesses por trás do Impeachment, o que não é o foco desse texto. Todavia, quem assume a cadeira deixada pela presidenta é um homem insano, que está abrindo a Petrobras para o imperialismo, que cortou os novos contratos do FIES, PRONATEC, está para alterar a lei de responsabilidade fiscal (pela qual Dilma foi acusada de infringir). Temer que fala na privatização do aquífero Alter Do Chão, que faz reformas na previdência e nas CLT’s, que sancionará a terceirização. Temer que nomeou Romero Jucá, acusado de genocídio dos índios ianomâmis quando presidente da FUNAI por dar abertura aos madeireiros explorarem áreas já demarcas e José Serra, que em 2010 trocou mensagens com a Chevron prometendo que se ganhasse alteraria a lei de partilha imposta pelo Governo Lula após a descoberta do Pré-Sal e que hoje se reúne com a Royal Dutch Shell. O mesmo Serra acusado de receber 23 milhões da Odebrecht e de participar do Trensalão. Temer que reprime as manifestações contra o seu governo, seja nas Olimpíadas e agora nas ruas de todo o Brasil. Temer, o cristão, “abençoado” pelo Pastor Marco Feliciano. Temer do PMDB (antigo aliado do PT) de Eduardo Cunha e Renan Calheiros. Temer que lançou um plano de governo chamado “Ponte Para o Futuro”.

Estranho. Estranho mesmo. Os “heróis da nação” não são verdadeiramente heróis. Nem Dom Pedro I, nem Michel Temer. Idealizar os líderes que mantém a ordem (“e progresso”) faz com que o povo continue reproduzindo falsas verdades e sofrendo com as mazelas impostas por eles. Idealizar falsos líderes é apenas uma maneira de alienar-se e conformar-se com que está aí.

O mais irônico disso tudo é que falamos em “Pontes para o FUTURO”, mas na verdade, o que me parece é que continuamos repetindo e sofrendo com os erros do PASSADO.

Independência ou Golpe! É hora de transformar o país e o Mundo que vivemos.

Feliz Dia da “Independência”, brasileiros de todo o Mundo (uni-vos).




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