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CRISE NO GOVERNO | Impeachment de novo na pauta?

Thiago FlaméSão Paulo

terça-feira 7 de julho de 2015 | 00:56

Variadas hipóteses estão sendo lançadas ao vento. A reprovação das contas de Dilma no TCU poderia abrir o caminho para o processo de impeachment. Ou a descoberta de irregularidades nas contas na campanha poderiam levar a anulação das eleições. Há quem diga que saindo Dilma, sairia Temer também e o presidente do Congresso Eduardo Cunha poderia assumir a presidência. Outros defendem a convocação de novas eleições, nas quais Aécio ganharia fácil, dizem. Outros dizem que o melhor seria Temer assumir, integrando os partidos da oposição no governo.

Entre as ondas de boatos e os discursos mais elevados que surgiram na convenção do PSDB neste domingo, é difícil ver onde está o fogo por trás da cortina de fumaça. Diz o ditado que onde há fumaça há fogo, porém é sabido também que fogo de palha produz muita fumaça mas dura pouco. Assim, enquanto nenhum setor se decide a passos mais concretos, o que predomina são os arranjos e os conchavos da pequena política.

Para além das especulações e dos balões de ensaio, o fato é que Dilma apresenta níveis muito baixos de popularidade e o PT se arrasta em meio a maior crise de sua história. É impossível para o PT responsabilizar apenas os ataques da chamada mídia golpista para explicar sua situação atual. Ao contrário, boa parte dela se deve ao próprio DNA do projeto lulista.

Cada país com as suas particularidades e suas dinâmicas próprias, em toda a América Latina os governos populares ou nacionalistas estão chegando no seu limite. “Este retrocesso não se deve a “erros” circunstanciais, pois tem alcance “estratégico”, expressando o esgotamento das possibilidades expansivas do ciclo de reformas da década passada. Entrou numa nova etapa na qual diante das condições internacionais adversas e o declínio econômico, os governos autodenominados “populares” optam por adaptar-se mais abertamente às necessidades do capital na administração das crises”.

O discurso da retomada de um “projeto de governo”

Em manifesto lançado por sindicatos e movimentos sociais governistas, cujo título é “movimentos sociais se levantam contra o golpe” , afirma que “nunca se viu o que se está vendo agora: a tentativa, por parte do presidente da Câmara dos Deputados, às vezes em conluio com o presidente do Senado, de usurpar os poderes presidenciais e impor, ao país, uma pauta conservadora que não foi a vitoriosa nas eleições de 2014”.

Em um tom mais moderado , o jornalista Luis Nassif defende que a única forma de Dilma recobrar força seria se retomar um projeto de governo, fazendo referencia ao projeto defendido nas eleições e vitorioso nas urnas. Ou seja, a manutenção do ciclo lulista de pequenas avanços sociais, sem nenhuma ameaça de ruptura da ordem.

Apesar da forma distinta, estes setores apontam uma retomada do projeto petista, com o fim das políticas de ajuste fiscal implementadas no governo Dilma 2, como via para enfrentar as ameças “golpistas”. Uma caminho barrado pela atual situação econômica, que já não permite mais pequenas concessões aos trabalhadores e ao povo, mantendo importantes margens de manobra para os empresários locais no mercado internacional e lucros volumosos nos seus negócios com o estado. Lula, que tem feito discursos dando folego para todos os petistas que defendem uma retomada do “projeto”, atuou de forma diferente. Quando confrontado com uma situação de crise no inicio do seu mandato, também aplicou as medidas exigidas pelo grande capital.

A dura realidade de tomar para si as bandeiras da direita

O caminho que está tomando Dilma para se manter no governo é o contrário deste que apontam seus apoiadores. Em cada uma das questões importantes, Dilma e o PT rasgam tudo que disseram nas eleições e adotam a agenda conservadora.

Nesta segunda-feira Dilma tomou uma medida importante para conter a crise política... Ela se reuniu com os ministros, e logo após a reunião Michel Temer saiu dando declarações de apoio à presidente e afirmando que “não há nenhuma crise política no momento”. Para fundamentar sua visão, argumentou que todas as medidas do ajustes fiscal estão sendo aprovadas no Congresso.

É nesse marco que deve ser encarada também a visita de Dilma aos EUA. Foi lá buscar apoio político junto ao grande capital norte americano, oferecendo em troca a oportunidade de rentáveis negócios, através de novas rodas de privatização e abertura econômica.

Nesta segunda-feira, enquanto buscava o apoio de Michel Temer, Dilma também teve tempo de aprovar uma nova medida provisória, que visa facilitar a suspensão de contratos e redução de salários. A situação é mais ou menos assim: A direita ataca Dilma, que responde aprofundando seu próprio curso a direita.

Seguindo este curso, dois grandes caminhos estão abertos na evolução do governo Dilma. Pode aplicar até o final o ajuste fiscal pedido pelos empresários, se render ainda mais as pautas conservadoras, se aproximar dos EUA e aumentar a entrega do país ao capital estrangeiro. E dessa forma chegar se arrastando até o fim do mandato em 2018. Ou então, seguindo pelo mesmo caminho, pode ser descartada antes de 2018, depois de ter ela mesmo aplicado o fundamental da agenda conservadora, antipopular e pró-imperialista.

Nos dois cenários, é o povo quem paga a conta. A única forma de mudar esse roteiro, não é apoiando o governo Dilma e pedindo dele o impossível, ou seja, a volta de uma política reformista ultra moderada, como a do auge do lulismo. O movimento de massas, com os trabalhadores a frente, precisa entrar em campo, em defesa de suas demandas e contra o governo Dilma para abrir a possibilidade de que o ciclo lulista seja superado pela esquerda e não pela direita.




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