×

Ignorando massacre indígena, ministro da Justiça diz que manutenção do presidente da Funai é decisão de Temer

A semana passada foi marcada pela brutal repressão contra indígenas em Brasília, com Temer usando todo aparato de repressão contra mais de 3 mil indígenas do Acampamento Terra Livre, que manifestavam pelos seus direitos e pela demarcação de terras. Já no início dessa semana, no Maranhão, 13 indígenas do povo Gamela foram brutalmente feridos, alguns com as mãos decepadas, por um ataque de fazendeiros após a retomada de suas terras no Povoado das Bahias, no município de Viana.

Douglas SilvaProfessor de Sociologia

quarta-feira 3 de maio de 2017 | Edição do dia

Toda a repressão contra os indígenas em Brasília, só demonstra como o governo golpista de Michel Temer anda de braços dados com a bancada ruralista defensora dos latifundiários e genocidas dos povos indígenas brasileiros.

A violência policial que atingiu os índios com balas de borracha, cassetetes, spray de pimenta e gás lacrimogênio, é a mesma repressão utilizada por Temer e demais governos burgueses contra os trabalhadores e a juventude que esteve nas ruas no último dia 28 de abril protagonizando a maior greve geral das últimas décadas.

No Maranhão, dia 30 de abril, o ataque contra o povo Gamela foi uma nítida resposta de fazendeiros, com consentimento e participação da polícia e políticos, contra ações feitas pelos indígenas na histórica greve geral do dia 28 de abril. Neste dia, os Gamela fecharam pela manhã a rodovia MA-014 e em seguida, retomaram um terreno localizado ao lado da aldeia Cajueiro Piraí, que fica dentro do território tradicional reivindicado pelo povo Gamela.

O massacre mal tinha acabado de acontecer e deputados como Aluísio Guimarães (PTN-MA), afilhado político do oligarca maranhense José Sarney, vinha em defesa dos responsáveis pelo ataque aos Gamela. No próprio dia 28 de abril o deputado havia incitado numa rádio local a violência contra os indígenas chamando-os de “arruaceiros e “pseudoindígenas”. O deputado também destaca uma reunião que teve com o ministro da justiça, Osmar Serraglio (o mesmo que disse à imprensa que a greve geral tinha sido um “fracasso”) e fala de como Serraglio “se sensibilizou” com os fazendeiros da região.

De acordo com a Pastoral da Terra, 2016 bateu recorde de violência no campo, com 1.079 conflitos por terra, um aumento de 40% em relação ao ano anterior (que teve 771 casos). Desde que a entidade iniciou esse tipo de levantamento, em 1985, jamais havia aferido um número tão grande. Foram 61 assassinatos no ano passado, 22% a mais que em 2015. O único ano em que ocorreu um número maior de mortes pelos registros da Pastoral foi em 2003, com 73 mortos pelos ataques.

Se, por um lado, nos governos petistas não foram poucos os casos de ataques contra povos indígenas, por outro, o golpe institucional que levou Temer à presidência só fez aprofundar a violência e massacre contra camponeses e indígenas no Brasil.

Frente a repercussão do massacre dos Gamela, o ministro da justiça, Osmar Serraglio, disse em entrevista nessa quarta-feira, 3, que eventual troca de comando da Funai depende de partidos e do golpista Michel Temer. "Nós vivemos em coalizão. Nós construímos essa coalizão através de uma partilha com partidos. Assim também ocorre com a Funai. Não é o MJ que vai decidir em relação ao presidente [Antônio Costa], mas claro que vai identificar a proficiência e as competências necessárias se houver troca de presidente", afirmou o ministro da justiça.

Serraglio que é, nada mais nada menos do que nome de Cunha no governo golpista, fez de tudo para anistiar os crimes do ex-deputado Eduardo Cunha e quando esteve à frente da CCJ tentou diversas vezes adiar o processo de cassação de seu correligionário golpista. Agora, na Operação Carne Fraca, foi flagrado conversando com o ex-superintendente do ministério da Agricultura no Paraná – apontado pela PF como chefe de organização criminosa – a quem chama carinhosamente de “grande chefe”. Uma funcionária do Ministério da Agricultura, outro braço golpista da quadrilha, chama Serraglio de “velhinho que está conosco” em conversa com outros golpistas envolvidos no esquema.

Todo reboliço que coloca em dúvida a substituição da presidência da Funai, só pode, na verdade, ser uma forma dos golpistas darem uma resposta que esteja em diálogo com a bancada BBB (Boi, Bala e Bíblia, dos latifundiários, militares e policiais, e das igrejas evangélicas) e não com os povos indígenas e sua luta por direitos e demarcação de terras. Porque uma resposta real a essa questão, só pode vir a partir da luta e aliança da classe trabalhadora com esses povos, defendendo a reforma agrária em toda a extensão do país e com a expropriação dos latifundiários e do agronegócio e a demarcação imediata de todas as terras indígenas de acordo com os territórios históricos de cada povo, com completa autonomia para seus ocupantes e todo o apoio necessário por parte do Estado. Tarefas essas, que só podem ser levadas a partir de um greve geral até a derrubada das reformas e de Temer. E que, levante a partir da luta dos explorados e oprimidos, uma nova Constituinte Livre e Soberana que coloque fim a esse sistema podre brasileiro dominado por antigos senhores da casa grande, latifundiários e genocidas dos povos indígenas, e imponha a demarcação de terra indígenas e a reforma agrária.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias