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PLANO DE LUTA PARA ENFRENTAR OS AJUSTES DE DILMA | II Congresso da CSP-Conlutas: Faltou um plano de luta efetivo

Entre os dias 4 e 7 de junho ocorreu o II Congresso Nacional da CSP-Conlutas, na cidade de Sumaré, em São Paulo. Segundo os organizadores, o Congresso contou com a presença de 1702 delegados e 572 observadores, ou seja, 100 delegados a menos que o primeiro congresso da Central, em 2012. Reunindo setores da vanguarda de diversos estados do país, o Congresso da CSP-Conlutas poderia ter armado com uma política ofensiva e independente o conjunto dos trabalhadores e trabalhadoras presentes.

Marília Rochadiretora de base do Sindicato dos Metroviários de SP e parte do grupo de mulheres Pão e Rosas

Marcello Pablito Trabalhador da USP e membro da Secretaria de Negras, Negros e Combate ao Racismo do Sintusp.

quarta-feira 24 de junho de 2015 | 00:01

Consideramos que a CSP-Conlutas fez um grande esforço para reunir diversos lutadores e lutadoras de todo o país. Cada companheiro e companheira que esteve presente nestes 4 dias se organizou com muita força pra construção deste Congresso. E sem dúvida o II Congresso da CSP-Conlutas foi um importante momento para a vanguarda de trabalhadores no Brasil. Entretanto, consideramos que se perdeu uma oportunidade de fazer os debates mais fundamentais do momento pra conseguir se firmar como uma alternativa independente frente a ruptura de massas dos trabalhadores com o petismo. Os pontos que aqui citamos são parte das discussões que levamos pra contribuir seriamente com a orientação da CSP-Conlutas, em um momento onde não há tempo para meias orientações ou consignas vazias. Precisamos mais do que nunca que nossa Central tenha um plano de luta pra enfrentar os ajustes. Continuaremos debatendo nos locais de trabalho e com toda a vanguarda como avançar nesta perspectiva.

De onde virá a greve geral?

Os quatro dias de debates no Congresso trouxeram uma nova metodologia de discussão que prejudicou o livre debate entre todos os participantes. Desde a lógica inicial – não partir da “luta de classes” – até a orientação de que cada grupo deveria debater “a favor ou contra” todas resoluções apresentadas anteriormente, o formato de discussão não contribuiu pra fomentar um vivo debate de ideias no Congresso.

O que chamou a atenção foi a insistência do PSTU, direção majoritária da Central, com apoio de outras organizações menores, na agitação de uma “greve geral”. Entretanto, não houve nenhuma discussão para preparar um plano de luta efetivo pra construir essa greve geral. Isso porque uma séria discussão sobre o tema passaria por avaliar a política da Central em relação às burocracias sindicais. Viemos ressaltando, em vários artigos, a importância da CSP-Conlutas se colocar como alternativa frente à insatisfação popular com o PT e com o governo. Para tanto, seria fundamental a exigência às burocracias para a frente única, mas também deixar sempre claro a partir das ações independentes da CSP-Conlutas nossas diferenças com a burocracia sindical.

Infelizmente este debate não teve lugar no Congresso principalmente porque a direção majoritária da Central não queria fazer nenhum tipo de balanço de sua atuação nos últimos eventos da luta de classes. Longe de balanços desproporcionais ou destrutivos, uma Central se quer ser de massas e ser alternativa deveria estar a todo o momento revendo e repensando sua política pra ajustá-la o máximo possível à realidade. Mas o PSTU, junto com a maioria da Executiva Nacional da CSP-Conlutas apresentou um balanço tão exitista que sequer permitia um debate sincero.

Isso ficou claro com a discussão sobre a unificação das greves da educação, quando Danilo Magrão, professor de Campinas e do grupo Professores Pela Base foi respondido por cerca de 5 dirigentes do PSTU e outros grupos da Oposição Alternativa pra combater às críticas que havia feito da falta de política de unificação durante a greve de professores. Ao mesmo tempo, chamou atenção a pequena delegação de professores de São Paulo, que estavam em meio à greve. Do ponto de vista da luta dos professores buscamos contribuir não somente com estes debates mas com a proposta de que a CSP-Conlutas tome pra si a campanha para que todo político ganhe o mesmo salário de uma professora, o que foi aprovado pelo Congresso ganhando a adesão imediata de centenas de delegados.

Não é de hoje esta discussão sobre a burocracia sindical. Na greve dos metroviários do ano passado o PSTU, a partir da direção majoritária do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, deu “palanque” para a CUT, CTB, Força Sindical, UGT e tantos outros representantes da burocracia nas assembleias, dizendo que esses setores fariam uma “greve geral” caso os metroviários fossem atacados. 42 metroviários foram demitidos e nada fizeram esses burocratas.

Um dos principais debates que apresentamos neste Congresso era da necessidade de mostrar na base de todos os sindicatos da CSP-Conlutas que a burocracia já está traindo nossas lutas. A política da greve geral sem nenhum plano de luta efetivo, e sem diferenciação da burocracia sindical acabou não armando o conjunto dos delegados do Congresso. Isso porque, até o momento, nenhuma nova paralisação está sendo convocada pelas centrais sindicais governistas, e não há nenhuma tendência a que este cenário mude rapidamente, uma vez que nenhuma central governista ou patronal quer verdadeiramente enfrentar os ajustes. O MES de Luciana Genro, inclusive, soltou texto de análise da situação nacional onde a “greve geral” simplesmente sumiu.

Então o Congresso da CSP-Conlutas bradou uma consigna que não irá se materializar rapidamente nem em paralisações nacionais, uma vez que esta burocracia nada fará para enfrentar o governo. Sem um plano de luta efetivo, nos próximos meses a vanguarda anti-governista fica desarmada pra enfrentar a situação. Seria fundamental neste momento reunir a Coordenação Nacional da CSP-Conlutas para fazer um balanço do Congresso e definir um plano de luta efetivo.

Era necessário colocar a luta de classes como centro

A importante mesa das lutas operárias acabou sendo um elemento secundário no Congresso, e não a ponta de lança de toda a reflexão. Realizado no sábado a noite e com plenário vazio, esta mesa poderia ter dado a largada do Congresso colocando no centro as lutas operárias de todo o país e a necessidade de fazer um balanço da atuação nestas greves, a coordenação das lutas e a participação da central nas paralisações nacionais, bem como a política de denúncia e exigência às burocracias sindicais.

Para isso teria sido importante a presença de muitas professoras do Paraná, e não apenas o militante do PSTU Rodrigo Tomazini, a presença de operários da Volks, GM e outras montadoras que protagonizaram importantes lutas, e a presença dos professores de São Paulo e outros estados. Entretanto, o que deu largada ao Congresso foi uma mesa com representantes dos partidos da esquerda, PSOL, PSTU e PCB, onde a reflexão sobre a luta de classes ficou secundarizada. Luciana Genro se apoiou nos exemplos internacionais como Syriza e Podemos para defender um projeto político no país de mudanças por dentro do Estado Burguês através de uma estratégia eleitoralista, e Zé Maria contrapôs a atuação parlamentar com a luta sindical para explicar para seus próprios militantes a situação atual do PSTU após seu fracasso eleitoral em 2014.

Mais uma vez sem programa para os terceirizados

Desde a fundação da CSP-Conlutas em 2006 está colocado o debate da terceirização e qual programa levantar para responder à situação dos mais de 12 milhões de terceirizados no país. Neste Congresso, o PSTU mais uma vez impediu que a CSP-Conlutas desse um passo à frente que pudesse colocá-la nacionalmente como alternativa pro conjunto dos terceirizados, adaptando-se nesse caso ao setor da Central que tem a posição mais conservadora sobre o tema, como sindicalistas do serviço público como o Andes. Apresentando em forma de destaque, foi o PSTU que propôs retirar a proposta de resolução do grupo de mulheres Pão e Rosas que exigia a efetivação de todos os terceirizados sem necessidade de concurso público ou processo seletivo. O argumento seria que “faltou discussão”.

Com uma forte e impactante defesa, a companheira Diana Assunção, diretora do Sintusp e referência na luta em defesa dos terceirizados, demonstrou como este era um debate antigo e extremamente atual, com o PL 4330 impondo que todas as centrais tenham que se posicionar. Enquanto a CUT oferece a regulamentação, que significa perpertuar a situação de terceirização, e a UGT e outras centrais patronais oferecem bate-paus (burocratas sindicais armados) para esmagar as greves de terceirizados, a CSP-Conlutas infelizmente não tem um programa concreto. Apesar disso, é inegável que o programa de efetivação imediata dos terceirizados, que defendemos há anos, vem avançando cada vez mais no movimento.




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