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USP | "Hospital Universitário precisa disponibilizar teste pra gente", denuncia trabalhador do HU da USP

Há mais de 1 mês do primeiro caso confirmado do Covid-19, Hospital Universitário da USP continua expondo seus trabalhadores à maior risco por falta de EPIs

quarta-feira 1º de abril de 2020 | Edição do dia

Um trabalhador do Hospital Universitário da USP relata a angústia, pela qual também passam centenas de pessoas que procuram, em vão, realizar o teste para confirmar se foram contaminados pelo coronavírus:

“Depois de uma semana de terror aqui em casa, hoje estou um pouco melhor. Tive umas das piores semanas da minha vida. Terça-feira passada acordei com muita dor no corpo, coriza e no dia seguinte tosse. Trabalho no HU, mas fui ao postinho perto de casa, me avaliaram e disseram que poderia ser H1N1. Eu insisti para fazer o teste, mas disseram que somente os que tiverem falta de ar. Eu tive tosse, cansaço, dor no corpo e febre, mas nenhuma falta de ar. Então, me deram 14 dias afastado do trabalho, em isolamento. Aqui em casa, minha filha e esposa tem problemas severos de diabetes. Cada tosse delas ou espirro é um desespero, elas estão bem, mas é desesperadora minha situação, continuo distante, dormindo em quarto separado... etc, mantendo o máximo cuidado possível. Estamos traumatizados ainda, quando eu voltar a trabalhar no hospital não quero me expor sem EPI. Minha esposa está em pânico, ficamos revoltados com essa situação que a superintendência e a chefia estão fazendo.”

É alarmante a taxa de contaminação pelo coronavírus entre os trabalhadores da saúde, incluindo aí os que executam atividades administrativas de apoio dentro das unidades de saúde e também estão expostos ao risco. Ainda nem chegamos ao ponto mais alto de contaminação projetado pelo Ministério da Saúde e já são mais de 600 trabalhadores da saúde afastados. No HC da USP, 125 trabalhadores foram afastados, sendo 108 já confirmados positivo para coronavírus. Nos hospitais privados, Albert Einstein e Sírio-Libanês, foram 348 e 104, respectivamente.

Na Espanha, 5400 trabalhadores da saúde foram infectados, quase 14% do total de pessoas contaminados. Na Itália, cerca de 5mil médicos foram infectados.

As autoridades ligadas ao governo naturalizam que ocorrerá um aumento do número de trabalhadores da saúde que serão infectados. Vão construindo, através da mídia, dos gestores e até das chefias imediatas que muitas vezes também sofrem com essa condição, um discurso que aceita a escassez de materiais para EPIs, de insumos para realização de testes, de recursos para a contratação de mais trabalhadores. Constróem uma visão de que não é possível mudar essa condição, que o máximo a se fazer é racionar o uso do EPI, mesmo que coloque o trabalhador em risco. E depois que este trabalhador adoece, o hospital não se responsabiliza, como denuncia o trabalhado do HU.

O HU precisava disponibilizar testes logo para gente. Sinto tanta revolta e tristeza por como estão tratando a gente. Eles estão cometendo um crime. Eu estou preocupado com meus colegas que ainda estão tendo que trabalhar com uma única máscara cirúrgica o dia todo. A chefe nos pediu para usar uma máscara o dia todo, e guardar no bolso quando almoçar!! Tem gente que está comprando EPI para trabalhar. Eles estão praticamente sem proteção nenhuma, entramos dentro do PSA e de todas as clínicas, os pacientes chegam quase esbarrar na gente. Estamos sem insalubridade, sem EPI... É revoltante.

Podemos ver essa naturalização da escassez quando toda a estratégia do governo consiste em “achatar” a curva de contaminação aproximando da disponibilidade atual do sistema de saúde, nunca tomando medidas para aumentar de forma considerável essa capacidade.

Veja como é possível reverter o que a classe trabalhadora brasileira produz para combater o coronavírus.

No Hospital Universitário já são vários os trabalhadores afastados por suspeita de Covid-19 e continuam sem o direito a testes. A superintendência não disponibiliza esses dados e continua ignorando a necessidade de contratar funcionários efetivos e não temporários para preparar o hospital de acordo com a demanda que uma pandemia dessa magnitude vai exigir e, dessa forma, evitar mortes.

O Esquerda Diário está junto com os trabalhadores do HU e da saúde na batalha para que todos possam ser testados, para que nenhum trabalhador seja obrigado a se expor por falta de EPI e para que sejam imediatamente liberados todos que estão no grupo de risco ou que tenham filhos menores e idosos em casa.

Mande suas denúncias para o Esquerda Diário pelo email [email protected] ou mande mensagem de texto, áudio, vídeo pelo whatsapp 11 97750-9596. Saiba mais aqui.




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