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FERNANDO HOLIDAY | Holiday, o Capitão do Mato

Fernando Holliday, membro do MBL e direitista que parou no tempo, defende contra as cotas raciais.

Vanessa OliveiraProfessora do ABC

quinta-feira 7 de abril de 2016 | Edição do dia

Está circulando um vídeo na internet do direitoso Fernando Holiday criticando as cotas raciais. Holiday é membro do MBL e apresenta as posições mais retrógradas em relação aos temas políticos da atualidade, atuando assiduamente ao lado dos capitalistas. É incontestável sua falta de conhecimento histórico e legislativo. Com falas superficiais, repletas de ofensas e até mesmo incitações machistas, ele alega que os negros não precisam de cota raciais e podem conseguir as vagas nas universidades de acordo com a meritocracia.

Vamos lá para o óbvio: Ainda hoje, o número de negros nas universidades ainda é bem pequeno, se comparado ao número de brancos. Após a Abolição da escravatura, os negros ditos “livres” foram esmagados pelo processo Imigratório e encurralados a se entregarem aos piores postos de trabalho. Simplesmente não havia a menor condição de estudo, nessa situação. Os negros precisavam trabalhar para sobreviver e construir algo por fora de senzalas. E esse jugo pesa estruturalmente sobre o país inteiro até hoje, que possui a maior população negra do mundo, exceto a África.

Ao falar que o negro não precisa de cotas para entrar na universidade expressa a falta de compreensão do contexto histórico do Período Colonial do Brasil, onde os brancos tiveram oportunidades privilegiadas para conseguir ascensão social e o negro não.

As cotas, assim como outras políticas públicas voltadas aos negros, são políticas que possuem prazo de validade. Políticas que tentam reduzir uma parte dos impactos que anos de escravização geraram aos negros no país não possuem, infelizmente, a capacidade de "reparação histórica", ou seja, de reverter anos de genocídio, violência e racismo que geraram lacunas estruturais no país, mas têm sua devida importância em um país em que a maioria da população negra ainda está longe de alcançar as mínimas condições de emprego, estudo e mínimas condições de vida num geral.

Sabemos que dentro desse sistema capitalista, tais políticas públicas ainda são mínimas, pois não possuem a capacidade de garantir educação gratuita para todos os negros que queiram estudar, por exemplo. E mesmo sendo mínimas, ainda não foi garantida na maioria das universidades do país.

É inegável que os ricos e os pobres competem em situações desiguais nos vestibulares e em quaisquer processos seletivos que meçam qualidade de ensino e educação. As cotas existem e devem ser implementadas para ser parte de reverter esta situação, mas junto de outras políticas que imponham uma real democratização das universidades, que sejam de fato abertas a todos que queiram estudar, que estejam a serviço de toda a população que financia a universidade pública.

A população pobre no Brasil tem cor: tem sua maioria que se autodeclara negra. Tem endereço: mora nas favelas ou em bairros periféricos. E tem história: conquista seus direitos em base a muita luta e é dessa forma que arranca essas políticas públicas. Não falar de cotas raciais em um país com essa composição é fechar os olhos pra realidade que grita por direitos e tem sua voz abafada, inclusive por reacionários como Holiday.

É nítido que ele reproduz um discurso - que infelizmente ainda muitos negros concordam por estarem inseridos nessa lógica - que coloca o problema em nível individual e não como um problema social gerado pelas desigualdades que esse sistema de produção criou.

Eu, como mulher negra, repudio Holiday e essa posição, pois seu discurso favorece apenas a Casa Grande, e ele como bom "Capitão do Mato" - tal como disse recentemente Ciro Gomes, que contraditoriamente também não tem nenhuma política para os negros que se coloque na perspectiva de acabar com o racismo estrutural - defende os interesses de uma classe social que tem interesses antagônicos aos interesses dos negros.

Nós devemos nos posicionar a frente nesta luta, seguindo sim exemplos de resistência como do Zumbi dos Palmares, pois práticas racistas só terão fim quando o capitalismo cair. Essa falácia de "democracia racial" só existe para quem ainda não percebeu sua cor e as desigualdades que nos cercam. Devemos construir uma sociedade de fato livre para os negros e para todos, para assim nos livrar desses grilhões que ainda nos perturbam diariamente. E Holiday é um desses grilhões.




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