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HAITI | Haiti: primeira vitória “da rua” contra o candidato de Washington

Milhares de haitianos celebraram este fim de semana a primeira vitória do movimento contra as eleições das altas elites corruptas e a intromissão imperialista. O movimento continua contra o Presidente Martelly, marionete dos Estados Unidos.

quinta-feira 28 de janeiro de 2016 | 00:26

“Pedimos encarecidamente aos Estados Unidos, a Comunidade Internacional no Haiti e ao Governo do Haiti, junto com suas instituições assim como também aos políticos, a rechaçar a violência e adotar todas as medidas necessárias para preparar o caminho para a eleição pacífica de um novo presidente e para encher as cadeiras restantes tal como previsto na Constituição.

Como no passado, os Estados Unidos segue com grande interesse nas eleições que aconteceriam no Haiti e esperam que as pessoas organizadas para intimidar e criar violência antes das eleições desistam de sua ação, rendendo-se em conformidade com as leis haitianas.”

Extraído da declaração do Departamento de Estado dos Estados Unidos, 24 de janeiro de 2016.

O tom agudo da declaração do domingo passado por parte do Departamento de Estado dos EUA expõe o incômodo de Washigton frente ao adiamento das eleições no Haiti.

Havia um único candidato, Jovenel Moisés. Para o presidente Martelly e Obama, pouco importa a presença do Haiti na “comunidade internacional”, pois o mundo todo sabe que os poderes imperialistas são os que designam os governos. Frente ao aumento da controversa, o CEP (Conselho Eleitoral Provisional) do odiado Opont se viu obrigado a cancelar as eleições.

Depois das manifestações de segunda e terça, a participação massiva da população na sexta-feira havia sido decisiva, sendo mais forte que no início da semana. Os jovens e as pessoas que vivem nos bairros pobres não hesitaram em enfrentar a Polícia Nacional do Haití (PNH), mudando a situação.

Oficialmente, as eleições foram canceladas por “razões de segurança”. Vinte centros de votação foram saqueados, alguns pneus e veículos foram queimados, mas a maior parte da violência se deu na repressão contra os manifestantes.

As imagens de alegria que se viram nas manifestações do fim de semana são suficientes para demonstrar o caráter popular dessa primeira vitória. Nas fotos que circulam pela imprensa, podemos ver as bandeiras das agrupações de estudantes e jovens dos bairros, como MOLEGHAF e suas consignas contra a intervenção do imperialismo e a ocupação militar.

As mobilizações chegaram às portas do Palácio Presidencial no sábado, domingo e segunda, para exigir a saída do presidente Martelly. Todas as manifestações terminaram com violentas repressões.

O adiamento das eleições precipitou uma crise política, que contraria os planos de Washington e da ONU. Os membros do Conselho Eleitoral Provisório disseram que eles representam a "sociedade civil" , ou seja , não representam a sociedade haitiana. Jovene Moisés, o candidato designado, falou com os jornalistas no sábado visivelmente irritado, com mais de uma hora e meia de atraso. Em um breve e retórico comunicado de dez minutos, declarou que queria continuar com a campanha eleitoral, a pesar de ser o único candidato.

A oposição está tratando de mudar de lado e posicionar-se a favor do protesto mediante um G-8, um grupo de oito ex-candidatos ao redor de Jude Celestin, que supostamente iria enfrentar Moisés Jovenel no domingo.

Mas esse movimento nas ruas tem demonstrado que aspira muito mais que a limitada alternância política. A vontade de colocar um fim na ocupação militar da ONU e a interferência da “comunidade internacional” se expressa em todas as partes. Esse caráter profundamente anti-imperialista é o que mantém o interesse internacional pelo movimento do Haiti.

Nas ruas de Porto Príncipe foi conquistada uma primeira vitória, simbólica, mas nada menos que diante da primeira potência do mundo. No entanto, devemos estar atentos a comunidade internacional, que já está preparando a normalização com uma grande quantidade de forças armadas de paz e o habitual discurso humanitário demagógico.

Quem melhor que o escritor Lyonel Trouillot para expressar essa consciência anti-imperialista? Sua entrevista publicada na sexta em “liberation” é um exemplo nesse sentido.

“Quanto mais o país vai à pior, mais necessitará da ajuda das ONGs. Essa dependência das instituições do Estado se vê reforçada pela forte presença das ONGs. Essa é a “carícia” da ocupação. Somos os bons, - nos dizem – nós os ajudamos. Traremos livros. Vocês gostam de livros?”

O Haiti se radicaliza contra a dominação imperialista. O objetivo hoje será terminar com esse governo corrupto criado pelo imperialismo. O Haiti é um paciente que está sedado durante dez anos.




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