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II GUERRA MUNDIAL | Há 70 anos do fim da Alemanha nazista

terça-feira 12 de maio de 2015 | 00:30

Neste mês de maio completam-se setenta anos da queda da Alemanha nazista, decorrente da sua derrota na segunda guerra mundial. A data está sendo comemorada a partir deste final de semana em diversos países, mas sem dúvida um local se destaca na magnitude destas festividades: a Rússia. Considerado um dos mais importantes feriados nacionais russos, o "Dia da Vitória" (9 de maio) já é tradicionalmente celebrado com muita pompa neste país: desfiles militares, concertos, apresentações artísticas e queima de fogos de artifício.

Neste ano, contudo, devido ao simbolismo da data, o governo do presidente Vladimir Putin planejou celebrações especialmente grandiosas, com direito à maior parada militar já realizada na Praça Vermelha. Este evento, muito além de uma mera comemoração, está repleto de significados históricos e geopolíticos sobre os quais traçaremos a seguir algumas considerações.

A União Soviética na 2ᵃ Guerra Mundial

Apesar do uso político feito pelos governantes, os russos e outros povos da ex-URSS tem uma relação verdadeiramente afetiva com esta data, tomando parte nela massivamente. E não é por menos. Mais de vinte milhões de soviéticos morreram no conflito, de longe o maior número de vítimas de um só país em qualquer guerra moderna.

Esta cifra difícil de dimensionar torna-se mais estarrecedora ao saber que a maior parte destes mortos foram civis, fruto da guerra de extermínio levada a cabo pelos invasores nazistas. Cidades inteiras reduzidas a ruínas, estupros, torturas e fuzilamentos em larga escala; fábricas e linhas férreas destruídas, o frio e a fome como realidade constante daqueles que permaneceram vivos.

Este quadro tétrico ainda hoje acarreta profundas consequências psicológicas e demográficas aos povos da antiga URSS. Surpreendentemente, este país conseguiu não apenas resistir e retomar seu território, mas derrotar a própria Alemanha, varrendo o domínio nazista de grande parte da Europa e tomando Berlim em maio de 1945.

Stálin e o nazi-fascismo

A cúpula de burocratas que governava a URSS após a guerra, dirigida por Josef Stálin, utilizou-se da vitória para legitimar seu domínio ditatorial e, particularmente, cultuar o papel "da liderança genial" de Stálin na luta contra o nazi-fascismo. Nada mais distante da realidade.

Na ânsia em se agarrar ao poder, a burocracia stalinista havia privado o Exército Vermelho, às vésperas da guerra, de seus melhores oficiais. Isso ocorreu como resultado dos infames expurgos que vitimaram milhões de soviéticos, dentre os quais se encontravam grande parte da vanguarda que havia dirigido política e militarmente a Revolução Bolchevique ao lado de Lenin e Trotsky. O próprio Trotsky, não obstante o fato de ter sido o organizador do Exército Vermelho, foi perseguido e assassinado por sua denúncia à burocracia.

Stálin não teve pudores ao acertar com Hitler a invasão e repartição da Polônia, em 1939, bem como a absorção dos Estados Bálticos. Tais anexações deram-se em total contradição com a política de autodeterminação dos povos levada adiante pelos bolcheviques após a Revolução de Outubro, por meio da qual a própria Polônia veio a se tornar um país independente do antigo Império Russo. Além disso, não querendo perturbar seu acordo com Hitler, Stálin orientou os partidos comunistas europeus a abrandar sua política antifascista, subordinando, como sempre, a luta de classes internacional aos interesses da burocracia moscovita.

De fato, o stalinismo teve um papel importante na própria ascensão do partido de Hitler: o Partido Comunista da Alemanha (KPD), seguindo as diretrizes do Kremlin, recusou-se a qualquer frente única com o Partido Social Democrata (o qual contava com uma base social de milhões de operários) para impedir a tomada do poder pelos nazistas. Esta política desastrosa e sectária foi duramente criticada por Trotsky, o qual sempre diferenciou o papel nefasto da burocracia stalinista da necessidade de defender a URSS por suas conquistas sociais históricas.

Comemorações em um mundo dividido

Com o imponente desfile militar promovido em Moscou – que envolveu mais de 16 mil soldados, 194 veículos blindados e 143 aeronaves – o governo Putin pretende deixar claro que a Rússia merece ser tratada como uma grande potência. A mensagem foi dada pela exibição de um aparto militar não apenas numeroso, mas também sofisticado: foram exibidos mísseis balísticos intercontinentais, sistemas de defesa antiaérea e bombardeiros nucleares, além de equipamentos de última geração mostrados pela primeira vez, como o novo blindado T-14 “Armata” e uma atualizada versão do famoso fuzil Kalashnikov.

Contudo, talvez o que chamou mais atenção não foi a espetacular parada militar, mas a tribuna de honra. A recusa dos governantes dos EUA e dos países da União Europeia em comparecer é reveladora do enorme abalo das relações entre estes países e a Rússia, em virtude da crise na Ucrânia. No lugar do presidente Obama ou da chanceler alemã Angela Merkel, Putin assistiu ao lado do líder chinês Xi Jinping um grupo de tropas chinesas marcharem pela primeira vez junto aos russos na Praça Vermelha. Salta aos olhos a analogia destes eventos com as atuais tensões e alinhamentos geopolíticos da arena internacional. Há 70 anos do fim da maior de todas as guerras, o espectro do conflito continua a pairar sobre a humanidade.




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