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GREVE NAS UNIVERSIDADES | Greve em 48 Universidades Federais escancara crise da educação

André BofSão Paulo

terça-feira 2 de junho de 2015 | 00:33

Como parte da decisão de professores e trabalhadores organizados nos sindicatos ANDES-SN e na FASUBRA, neste momento 48 das 63 Universidades federais do país encontram-se em algum nível de greve. Em 30 delas a greve se mantém apenas de funcionários; em outras 15 combina greve de professores e funcionários; e em 3 a greve é apenas de professores.E várias delas combinam com greves ou mobilizações estudantis, que o que é está dando um novo ânimo a este mobilização dos trabalhadores universitários.

O último movimento grevista deste porte nas universidades federais ocorreu em 2012, tendo atingido cerca de 57 das então 59 instituições em todo o país. Na ocasião, as reivindicações também tratavam de reajuste salarial e da reestruturação da carreira dos professores, sendo o maior movimento já visto nas federais desde seu início, com a expansão do programa federal conhecido como REUNI, criado em 2007. Ainda é necessário esperar o desenvolvimento do movimento para assegurar-se da intensidade e extensão do mesmo, e apesar das diferenças com 2012 é dos maiores, e combina-se a este grande protagonismo estudantil em meio a uma crise mais aguda das universidades.

A razão imediata da crise: corte de 9,4 bilhões na educação

Com o objetivo de descarregar a crise nas costas da juventude e dos trabalhadores, o governo federal tem imposto cortes profundos nos direitos básicos e enxugado fortemente orçamentos já insuficientes.

É para isto que Dilma e sua equipe econômica impuseram o corte de 69,9 bilhões de reais como suposta “resposta” para a crise, sendo as áreas mais afetadas as de educação, com corte de 9,4 bilhões, e saúde, com 11,7 bilhões cortados.

No país do lema “Pátria educadora”, a educação tem sofrido ataques “nunca antes vistos neste país”: Apenas nas universidades federais, o corte orçamentário tem variado de 30% a 40%, ou seja, a mais de um terço de toda a verba com que contavam.

Isto tem afetado diretamente o funcionamento de diversos serviços e instalações das universidades e levado prejuízo tanto à comunidade universitária quanto à população que se utiliza de alguns serviços das universidades.

Restaurantes universitários, bolsas, moradia, auxílios estudantis, que, para os filhos da classe trabalhadora que conseguem entrar na universidade são absolutamente necessários, estão sendo cortados; milhares de trabalhadores terceirizados de limpeza, vigilância e setores administrativos estão sendo demitidos ou ficando sem pagamento; o atendimento de clínicas e hospitais universitários tem chegado a um estado crítico, deixando de atender milhares de pessoas, etc.

Exemplo disto é o hospital universitário da UNIFESP de Guarulhos, o hospital São Paulo - referência em todo o estado e que atende milhares de pessoas em todas as áreas, todos os dias - que, com o corte de mais de um terço de orçamento da universidade, tem encontrado dificuldades extremas de seguir operando.

A situação, calamitosa em todo o país, tem encontrado traços agudos em algumas universidades como a UFMG, que deixou de pagar as contas e luz e água por falta de verba e a UFBA, que há três meses não paga o salário dos trabalhadores terceirizados da limpeza e vigilância, os quais estão em greve desde o dia 13 de maio.

Uma oportunidade única para a luta da juventude e dos trabalhadores

Diante da maior crise da educação em muitos anos no país - que além dos cortes nas federais, ainda conta com o drama de 700 mil estudantes que perderam a possibilidade de estudar graças ao corte de metade das verbas para o financiamento universitário federal, chamado FIES[1] -, abre-se uma chance única de criar um movimento nacional que possa impor os interesses da maioria do povo, contra os ajustes e cortes.

Ainda que inicialmente articulado por trabalhadores e professores, diante da verdadeira decadência das universidades federais provocada pelos cortes o movimento pode adquirir um caráter explosivo e entrar com força no cenário nacional.

A situação da permanência estudantil e das políticas de assistência (como bolsas, moradias, instalações, creches, iniciações científicas, etc) tem apenas se agravado e aí também tem se imposto cortes profundos. Nas universidades elitizadas do Brasil, o vestibular é apenas o primeiro filtro social e a falta de condições para se manter na universidade é um verdadeiro segundo filtro, lançando milhares de jovens para fora da educação.

Movimentos de resistência pipocam em todo o país, como o caso dos estudantes da UFRJ[2], que, privados dos mínimos instrumentos para estudar, entraram em greve, mesmo contra a decisão de seus professores sendo contrária; da UNIFESP, que seguem a luta por transporte, moradia e instalações no campus[3]; ou da UFF, que ocuparam a reitoria por restaurante universitário e bolsas.

Em diversos destes casos - como na UFRJ e UFF -, um elemento crucial para a união de forças tem se verificado: a solidariedade entre os estudantes e trabalhadores, neste caso, os terceirizados, que contaram com a juventude para lutar por salários atrasados e contra as demissões.[4]

Se, junto da articulação nacional de trabalhadores e professores, se soma um movimento estudantil combativo, que questione a falsa promessa da “ascensão social” do PT e exija que não apenas terminem os cortes na educação, mas se ampliem os investimentos nas universidades, garantam bolsas e permanência estudantil para toda a necessidade, construam moradias aos milhares de jovens que as necessitam para seguir estudando e que, diante dos cortes de vagas no FIES, se estatizem os grandes grupos privados que lucram com as dívidas da maioria da juventude nas instituições pagas e com bilhões dados pelo governo[5], então a partir da educação, a aliança entre trabalhadores e estudantes poderá abrir caminho para uma “terceira via” de resposta a crise econômica do país.

Esta “terceira via”, oposta aos interesses do PT, por um lado, e da oposição de direita e PSDB, por outro, pode levantar a sociedade de conjunto. Como no Chile, em que mineiros, professores, donas de casa, trabalhadoras e trabalhadores de diversas categorias saíram para apoiar a juventude que lutava por direitos, poderíamos no Brasil barrar a onda de ataques daqueles que, ontem, prometiam uma “vida melhor” para o povo.

Para isto, temos uma primeira oportunidade. Irão ocorrer dois congressos estudantis, este junho: o da UNE - dominada pelo governo - e o da ANEL. Em ambos, correntes como PSOL e PSTU intervirão e se propõem a pensar os rumos do movimento estudantil para os próximos meses e anos.

Em nossa opinião, nestes congressos é necessário determinar uma mesma política que responda à crise na educação tanto nas privadas como nas universidades públicas. Um primeiro passo seria coordenar as lutas verdadeiramente, por cidade, estado e região como parte de construir um grande encontro nacional dos setores em luta, que se apoiando na força do movimento estudantil nas públicas se dirija a maioria dos estudantes que estão em universidade privadas e também aos secundaristas. Esta coordenação multiplicaria as ações que já estão ocorrendo em solidariedade aos terceirizados, por assistência estudantil, conttra a repressão nas universidades como aconteceu escandalosamente na UERJ, coordenaria o papel dos estudantes na luta contra os ajustes, o PL 4330, MPs, as demissões. É preciso dar passos reais para fazer da agitação que muitas correntes tem feito de "greve geral da educação" algo concreto.

[1] http://www.esquerdadiario.com.br/Verba-para-FIES-e-cortada-pela-metade-e-se-esgota-para-2015-827
[2] http://www.esquerdadiario.com.br/Assembleia-geral-estudantil-da-UFRJ-aprova-greve-por-unanimidade
[3] http://boainformacao.com.br/2015/05/em-greve-alunos-da-unifesp-invadem-diretoria-do-campus-de-guarulhos/
[4] http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2015/05/alunos-da-uff-ocupam-reitoria-apos-anuncio-de-greve-nesta-quinta.html
[5] http://www.esquerdadiario.com.br/Dilma-corta-30-da-verba-das-universidades-publicas-mantem-bilhoes-a-instituicoes-privadas




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