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EDUCAÇÃO | Greve dos professores: uma luta em defesa da educação

Com a crise econômica que ronda as economias mundiais e, assim sendo, com a alta inflação, o governo brasileiro se vê condenado a balancear os cofres públicos. Diante desse contexto, é praticamente inevitável a recessão da economia e os ajustes orçamentários. No entanto, vale considerar e ponderar quem pagará mais por estes ajustes, sendo, novamente, as classes mais baixas da sociedade que arcam com as maiores consequências. Assim, o corte de verbas de políticas sociais, como a educação, é colocado em prática.

terça-feira 2 de junho de 2015 | 00:30

A declaração da exclusão de 30% do orçamento da educação logo no início do segundo mandato do governo Dilma, além do fechamento de 3900 salas de aula no Estado de São Paulo, governado por Geraldo Alckmin, bem como a violenta repressão que os professores em greve têm sofrido são exemplos claros que mostram como o ensino público está sucateado e desvalorizado.

A luta dos professores, hoje em greve há mais de 80 dias só no estado de São Paulo, além da paralisação em mais seis estados (Paraná, Pernambuco, Santa Catarina, Pará, Sergipe e Goiás), não é apenas por melhores condições individuais de trabalho, mas sim pelo ensino público de qualidade, pela abolição dos privilégios e pelos direitos dos trabalhadores. Daí vem o sucesso com muita adesão e milhares de “curtidas” da campanha “Que todo político ganhe igual a uma professora”, impulsionada pelo Esquerda Diário, motivada pelos recentes reajustes salariais dos próprios políticos e funcionários de alto escalão. Não obstante, a situação de trabalho dos professores é mais que suficiente para mobilização: longas jornadas de trabalho, baixos salários (em São Paulo, o piso salarial é de apenas R$ 1917,78 para a rede pública), falta de recursos didáticos, degradação da infraestrutura escolar e a própria depreciação do professorado. Não é, portanto, culpa dos professores o atual estado da educação publica brasileira assim como não é uma luta que deve ser deslegitimada, como a grande mídia tende a afirmar.

Apesar da depredação da educação pública nos últimos anos, vale relevar que ela já foi de boa qualidade, apesar de não servir a ampla maioria da população. No período antecedente à Ditadura Militar, a escola pública brasileira superava o ensino particular em reconhecimento. Foi durante os governos militares que a rede educativa sofreu uma “modernização” conservadora. Dessa forma, verbas para a escola pública foram desviadas para o ensino privado e para o desenvolvimento acelerado, implantando o modelo educacional que conhecemos hoje, com objetivos mercadológicos e cientificistas. Tanto a educação básica quanto a superior sofreram com a Ditadura Militar, resultando na delimitação do acesso ao ensino de qualidade apenas àqueles como maiores níveis de renda. Considerando, ainda, a necessidade de controle ideológico existente mais nitidamente na ditadura, era comum a perseguição de professores que contrariavam o governo e até mesmo a criação de matérias como a “Educação Moral e Cívica”, que procurava moldar o pensamento hegemônico em prol do regime vigente. Não é, porém, característica apenas do ensino brasileiro o caráter disciplinar, uniforme e autoritário, senão dos padrões de educação universais.

O modo com que são formadas as crianças e adolescentes segue a função de produzir indivíduos padronizados que beneficiem o sistema capitalista em geral, ou seja, aptos para a competição e para o mercado (mesmo que isso só ocorra para poucos, já que existe um grande contingente populacional em situações precárias de trabalhos rotativos assalariados ou de desemprego). A escola, hoje, é um ambiente que estimula comportamentos obedientes e passivos e promove, muitas vezes, a alienação. A mecanicidade que o processo de aprendizagem adquiriu coloca todos os alunos sob uma mesma ótica de avaliação, mesmo padrão de grade curricular e mesmos objetivos finais, nos quais se aprende a aceitar positivamente o status quo e a reconhecer seu lugar dentro da hierarquia social. As vontades individuais, a curiosidade, a importância das relações humanas não são levadas em conta e os verdadeiros objetivos da educação, de promover uma base de experimentação, crescimento e descoberta, se perdem. A escola deve ser um local em que os alunos possam sim aprender o conhecimento na sua forma mais pura, desde que não limite o raciocínio critico e barre a individualidade por meio de ideologias utilitaristas e de mercado apenas.

O sucateamento do sistema de ensino publico é um reflexo desse viés unicamente comercial, que trata do conhecimento como mercadoria. Portanto, ao reconhecer o impacto da educação na sociedade, é inegável a importância da escola publica de qualidade. Não somente a escolarização voltada para o crescimento profissional, mas também como meio de garantia da cidadania, do pensamento crítico, da realização pessoal. Para tanto, o investimento em infraestrutura, material didático, programas educacionais que priorizem esse tipo de conduta, bem como a valorização do professor como formador de cidadãos e, acima de tudo, de indivíduos são extremamente necessários. A atual greve dos professores é o principal movimento que reivindica este tipo de atitude do governo e por isso merece total apoio e legitimação. Não se trata somente dos salários baixos ou da jornada exaustiva, mas do ensino publico todo, de sua qualidade, reconhecimento e organização, bem como dos direitos trabalhistas em geral e da ruptura ideológica dominante.




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