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FUTEBOL BRASILEIRO | Greve dos jogadores do Figueirense: solidariedade e um sopro de vida no futebol brasileiro

A cerca de uma semana os jogadores do Figueirense, um dos principais clubes de Santa Catarina, que joga a Série B do Campeonato Brasileiro, estão em greve, por conta de atrasos no pagamento de seus direitos de transmissão televisiva, e atrasos salariais do elenco principal, dos jogadores das categorias de base, e dos funcionários administrativos no clube.

quinta-feira 22 de agosto de 2019 | Edição do dia

Uma cena chamou muita atenção nesta última terça-feira para os que acompanham o futebol brasileiro, e para os torcedores catarinenses. O Figueirense, um dos principais clubes de Santa Catarina, perdeu por W.O. um jogo da Serie B do Campeonato Brasileiro. Mas o W.O. foi fruto de uma luta mais do que justa e necessária dos jogadores do clube, e que pode servir de espelho para o futebol brasileiro, e para aqueles que acham que o futebol de nosso país de proporções continentais se resume à toda a ganancia e gastos milionários de times como Flamengo, Palmeiras e etc.

Os jogadores do Figueirense estão desde domingo (18) em greve, contra o atraso no pagamento de salários de jogadores do time profissional, das categorias de base, e dos funcionários administrativos do clube, além de mais de 3 meses de atrasos nos pagamentos dos direitos de transmissão televisiva. No início da semana o conjunto do elenco ameaçou não jogar a partida do campeonato nacional conta o Cuiabá na Arena Pantanal, se não houvesse avanço nas negociações.

O futebol do Figueirense é administrado por uma empresa chamada Elephant, que gerencia tanto o futebol profissional, como a base do clube, e é responsável pelos salários de todo o setor administrativo do futebol da equipe alvinegra. Após o W.O., as torcidas organizadas do clube, e diversos torcedores não organizados saíram em defesa dos atletas, e da sua luta por suas condições de trabalho.

Não jogar uma partida por uma greve é algo bem incomum no futebol nacional. Pode ser considerado um ato bastante radical. E no caso dos jogadores do Figueirense, a ação e o apoio da torcida surtiram efeito, e pressionaram a empresa Elephant a negociar com os atletas, que já não treinam a dias. A empresa vinha considerando os dias sem treino como “faltas ao trabalho”, como qualquer patrão que se recusa a aceitar o direito constitucional de greve que tem os trabalhadores, ameaçando tirar da folha salarial os dias não treinados.

Os jogadores do Figueirense, por outro lado, deram um grande exemplo de como unificar todos os jogadores e funcionários do clube, se mostrando muito solidários aos setores mais fragilizados da equipe. Em entrevista à imprensa, Tony, jogador do clube, disse que os atletas voltam a treinar nesta semana se a empresa responsável pela gestão do clube fizer o que prometeram na reunião de negociação, que consistia em pagar o salário dos jogadores da base e dos funcionários administrativos. Na negociação ficou acordado também que os salários dos jogadores do elenco principal devem ser pagos até dia 28. Um grande exemplo dos atletas, que numa dura situação, de um time que vive uma realidade muito distante da dos supersalários de centenas de milhares de reais que os grandes clubes brasileiros vivem, se colocam na defesa de todos os funcionários do clube em primeiro lugar.

A greve dos jogadores do Figueirense é um grande exemplo para todo o futebol nacional. Naõ o futebol dos milhões, mas o verdadeiro futebol brasileiro, que esconde por trás dos grandes espetáculos e das arenas, que hoje mais de 40% dos jogadores profissionais recebem menos do que 1500 reais por mês, e tem mais um emprego além do esporte, e que ao final dos campeonatos estaduais em abril, 60% dos jogadores profissionais ficam sem emprego no esporte, pois seus clubes não tem competições para disputar.

“A gente não tem muito o que esperar. Temos que viver um dia por vez. Muitos não sabem da metade das coisas que acontecem. Sempre foi uma decisão em conjunto. Jamais teve uma liderança. Ficamos tristes por chegar nesse ponto, mas estamos amparados pela lei. O que estamos brigando é maior que salário. Enquanto a CBF não mudar, os problemas serão sempre grandes. Quem comanda o futebol do Brasil precisa entender esse tipo de situação”, declarou o meio campista Tony.

Num mundo de um esporte cada vez mais como fonte de rendas milionárias, ações como essa escancaram a verdadeira realidade do futebol brasileiro. Enquanto alguns clubes da Série A pagam salários de mais de 150 mil reais por mês – alguns chegando a até quase 1 milhão por mês -, outros vivem a dura realidade de atrasos salariais e um futebol em condições deterioradas, onde conta muito o apoio de cada torcedor que vê na luta desses atletas, uma luta pelo esporte, e contra a desigualdade financeira absurda promovida pela CBF, pela FIFA e por todos os investidores que fazem do histórico esporte criado pela classe operária (e roubado dela posteriormente) uma grande máquina de lucros.




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