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FRANÇA | Grande movimento na França contra a reforma trabalhista

sexta-feira 8 de abril de 2016 | Edição do dia

A reforma trabalhista de Hollande despertou um rechaço generalizado tanto na juventude como entre os trabalhadores. Desde o começo de março há um enorme movimento para enfrentar a lei. Já houve 4 grandes jornadas de luta. Apesar da passividade das direções sindicais e da repressão, as assembleias, marchas e bloqueios não diminuem. A greve geral de 31 de março marcou um passo adiante em construir a unidade operário-estudantil. Entrevistamos Laura Varlet da Corrente Comunista Revolucionária no NPA (organização irmã do MRT na França).

O que foi que despertou a raiva entre os jovens e estudantes?
Vem se acumulando raiva e descontentamento com a política antissocial do governo de Hollande. Não é a primeira lei anti-operária que querem passar, mas é a gota d’água que transbordou do copo. Esta lei implica um enorme retrocesso em matéria de direitos trabalhistas. Um ataque brutal às condições de trabalho como nenhum outro governo, nem sequer de direita, havia se animado a fazer. Os jovens se sentiram imediatamente tocados, porque facilita as demissões e piora as condições de trabalho, mais precariedade do que já existe. Hoje em dia, muitos jovens se veem obrigados a trabalhar a maioria das vezes em condições muito precárias e com salários que não são suficientes. A juventude compreendeu que a lei trabalhista proposta pelo governo somente irá tornar muitíssimo pior esta dura situação.
Este movimento que toma corpo sobre toda a juventude é o mais importante dos últimos anos. Muitas pessoas o comparam com a luta de 2006, quando se conseguiu, através da unidade operário-estudantil e uma lua decidida, fazer cair a lei do Contrato do Primeiro Emprego (CPE). Mas o movimento atual não chegou a esse nível, as assembleia são menos massivas, ainda que vêm crescendo, todavia há condições para que se dê novamente um fenômeno assim.

Como se expressa o movimento nos colégios e faculdades?
Nesta nova jornada de mobilização nacional (de 5 de abril) e pelo que se vem vendo nos últimos dias, e sobretudo a partir da grande jornada de greve geral de 31 de março, o movimento segue se construindo. Em universidades como Rennes 2, Paris 8 ou Paris 1, as assembleias seguem sendo numerosas e há cada vez mais laços com distintos setores do movimento operário. Na Paris 8 por exemplo, votamos em Assembleia Geral acompanhar os ferroviários, os motoristas de ônibus, as fábricas automotrizes, e vários setores mais próximos da universidade para construir essa aliança operário-estudantil capaz de fazer cambalear o governo e obrigá-lo a retirar a lei.

Os estudantes estão mobilizados e estão convencidos de lutar até o final, mas necessitam da força dos trabalhadores para vencer. Somente se conseguirmos paralisar o conjunto da economia e assim comprometendo os capitalistas, é que vamos conseguir nosso objetivo de obrigar o governo e os empresários a retroceder. Neste sentido se discutiu neste fim de semana na Coordenação Nacional Estudantil, que reuniu delegados de mais de 70 faculdades.

Nos colégios secundaristas, a mobilização também continua e novas escolas saíram à luta. Os elementos de auto-organização são animadores, eles também se organizam em coordenações regionais por enquanto, buscando construir assembleias em cada colégio, elegendo delegados e coordenando-se com outros colégios, contra a repressão que é particularmente brutal contra os secundaristas, e contra a lei trabalhista.

Que efeito vem tendo a repressão do governo?
Desde o início do movimento o governo tenta desmoralizar com uma repressão cada vez mais intensa. Já no dia 17 de março as forças policiais entraram na Universidade de Paris 1 Tolbiac e bateram em dezenas de estudantes que tentavam reunir-se em Assembleia Geral. Em 24 de março bateram selvagemmente em um estudante de 15 anos do colégio Bergson, um dos mais populares de Paris. As imagens desta brutal repressão correram como rastilho de pólvora, gerando muita raiva e indignação inclusive entre os trabalhadores que diziam que iriam mobilizar-se dia 31 para protestar não somente contra a lei trabalhista, senão também contra a repressão, já que não iriam permitir que seus “filhos” fossem espancados pela polícia.

Mas no dia 5 de abril a repressão deu um salto. Na manifestação de Paris, mais de 130 secundaristas e universitários foram detidos. Depois de terminar o ato, mais de 500 estudantes de distintas universidades e colégios decidiram não voltar para suas casas e foram à delegacia exigir a imediata liberação. Ao grito de “estado de emergência, estado policial, não vão impedir que sigamos nos manifestando”, em referência ao repressivo estado de emergência imposto pelo governo desde os atentados de 13 de novembro de 2015, foi que se conseguiu a liberação de todos. Foi uma grande vitória moral e política para o movimento, já que o governo vem tentando quebrar e isolar a luta com repressão, como comentava com o caso de Bergson.

Como se expressa este processo entre os trabalhadores?
Entre os trabalhadores o processo é mais lento, ainda que há muita raiva e uma explosividade que se viu em 31 de março, dia da greve geral, que se fez sentir em vários setores estratégicos da economia como os ferroviários. Após esta importante jornada de luta, as direções das centrais sindicais tomaram a decisão de chamar novas jornadas de mobilização nos dias 5 e 9 de abril, mas sem chamar explicitamente à greve. Desta forma, retomaram o que se fez durante o movimento contra a reforma das pensões do governo de Sarkozy em 2010, quando as direções das centrais sindicais se contentavam com fazer chamados a jornadas de mobilização, e no melhor dos casos de greve, mas propostas de forma isolada umas das outras, e portanto sem propor claramente a necessidade da greve geral até fazer retroceder o governo. Por essa via, tentam também frear a possibilidade de aliança entre a juventude mobilizada e os trabalhadores que querem lutar contra a lei trabalhista. Para o dia 5 de abril por exemplo, as direções sindicais propuseram uma jornada de interpelação dos parlamentares que vão começar a discutir o projeto de lei em 6 de abril, quando o que está colocado é construir a greve geral.

No caso dos ferroviários, que também estão sofrendo um duto ataque em suas condições de trabalho com a reforma ferroviária, a direção sindical da CGT vem negando-se a chamar uma greve “prolongável” (onde se vota periodicamente em assembleia a continuidade da greve) e a aliar a luta contra a reforma ferroviária à luta contra a reforma trabalhista, o que seria a melhor garantia de que a luta se massifique, e coloque concretamente a aliança com a juventude que poderia fazer retroceder o governo com ambas reformas.

O exemplo mais avançado está provavelmente na juventude e nos trabalhadores do porto de Havre, segundo maior porto do país. Desde o início da mobilização contra a lei trabalhista, este setor estratégico para o país vem mobilizando-se de forma decidida junto com a juventude. Em várias oportunidades, conseguiram bloquear o porto e o transporte marítimo, demonstrando qual é o caminho a seguir para por em xeque o governo e a patronal.




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