domingo 31 de março de 2019 | Edição do dia
O Palácio do Planalto distribuiu neste domingo um vídeo repugnante em defesa do golpe civil e militar de 1964. A narrativa do material usa a mesma definição adotada por Jair Bolsonaro e alguns de seus ministros militares para classificar o fato histórico.
"O Exército nos salvou. O Exército nos salvou. Não há como negar. E tudo isso aconteceu num dia comum de hoje, um 31 de março. Não dá para mudar a história", diz o apresentador do vídeo. Hoje, o golpe completa 55 anos.
Num dia como o de hoje o Brasil foi liberto. Obrigado militares de 64! Duvida? Pergunte aos seus pais ou avós que viveram aquela época como foi? pic.twitter.com/eEJVgfEDhz
— Eduardo Bolsonaro🇧🇷 (@BolsonaroSP) 31 de março de 2019
Absolutamente desprovido de qualquer fundamento histórico, ou da preocupação básica para tanto, o desprezível vídeo do Planalto mostra que Bolsonaro e seu governo mentiam ao dizer que "não queriam dizer comemorar, mas rememorar". Satisfazem assim todos os setores da caserna e do empresariado que exulta esse golpe de classe da burguesia contra a classe trabalhadora, em meio a torturas, desaparecimentos e assassinatos de milhares de jovens, trabalhadores, militantes de esquerda e de direitos humanos, por parte do terrorismo do Estado.
O próprio Jair Bolsonaro não é novo nesse tipo de celebração do reacionário golpe de 64.
Bolsonaro comemorando o golpe de 1964: pic.twitter.com/DFbMdX4OO0
— Alberto C. Almeida (@albertocalmeida) 29 de março de 2019
"Estamos aqui comemorando os 50 anos da gloriosa contrarrevolução de 31 de março de 1964", diz Bolsonaro, junto a seu filho Eduardo.
Trata-se de um período nefasto da história brasileira, em que a burguesia nacional e o alto comando das Forças Armadas - sob a batuta direta dos Estados Unidos, como revelam inúmeros documentos e conversas entre o Exército e o governo John Kennedy-Lindon Johnson - arremeteram contra a vanguarda do movimento operário, as Ligas camponesas, jornalistas e intelectuais, jovens e estudantes, a fim de prevenir o aprofundamento da luta de classes no país, levando-se em consideração que inclusive sargentos e marinheiros se rebelavam contra os chefes do Exército
Inúmeros casos de corrupção envolvem ditadores, torturadores e seus amigos empresários, como mostramos no Esquerda Diário. Os assassinos da ditadura, ao contrário do que pregam os militares, Bolsonaro e Mourão, estiveram sempre enlameados na sujeira da corrupção, da propina e da impunidade, deixando um legado nefasto para as décadas seguintes.
Ao retomar as comemorações oficiais de golpe militar, a intenção de Bolsonaro é evidente. Acena com a repressão, a tortura e os assassinatos políticos, para implementar seu plano econômico que é ainda mais brutal que o da própria ditadura, acabar com a aposentadoria e avançar contra direito básicos como férias e 13° salário. Acabar com os direitos previstos na CLT para as próximas gerações, entregar todo o patrimônio público para as empresas multinacionais.
Repudiamos a comemoração do golpe de 64: não esquecemos e não perdoamos! Exigimos a revogação da Lei da Anistia de 1979, assim como o julgamento e punição de todos os responsáveis civis e militares pela ditadura! É preciso arrancar do Estado a abertura irrestrita de todos os arquivos e documentos ocultos sobre os crimes da ditadura militar!
Nós do MRT e do Esquerda Diário consideramos que é uma obrigação das centrais sindicais (em primeiro lugar da CUT e da CTB), organizações estudantis (como a UNE) e de direitos humanos, assim como do PT e do PSOL, se unificarem para organizar manifestações de repúdio à Bolsonaro e aos golpistas de hoje e de ontem, coordenando essa mobilização com a organização da luta contra a reforma da previdência.
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