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IMPEACHMENT | Golpe prestes a se consolidar: uma síntese do dia da defesa de Dilma no Senado

Na manhã dessa segunda teve início mais uma cena do último ato da história que se passa no cenário político nacional, e que agora caminha para seu fim. Mas o desfecho dessa obra não é nenhuma surpresa em lugar nenhum do mundo: o país aproxima-se da consolidação do golpe institucional.

terça-feira 30 de agosto de 2016 | Edição do dia

Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

Se no último período Dilma havia ensaiado agradar aos golpistas retirando a palavra golpe de seu roteiro e, inevitavelmente, de sua política, hoje em cena a quase-ex-presidenta abusou da palavra e, em todas as oportunidades possíveis, defendeu que a consolidação de seu afastamento significará a instituição de um golpe parlamentar. Essa mudança de tom começou logo pela manhã com um emocionado discurso onde Dilma retomou sua luta contra a ditadura, em que foi presa e torturada, denunciou o machismo que se expressa nesse processo golpista e defendeu incisivamente que não há nenhum crime de responsabilidade em seu governo.

Interessante é que essa mudança de tom se da apenas nos minutos finais de todo o processo, estando ausente ao longo dos últimos meses, já que não vimos nesse período o PT, seus aliados e seus braços sindicais e estudantis, como o PCdoB, a CUT, CTB, UNE organizando uma forte mobilização para barrar o golpe.

Também ao mesmo tempo em que aumentou o tom de “golpe parlamentar”, Dilma diminuiu o tom de defesa de um plebiscito por eleições gerais. Esse plebiscito nada mais seria do que diretamente abrir mão de um combate real a golpe, uma manobra para buscar recompor o regime.

Enquanto o PT não procurou resistir ao golpe, a direita saqueou cada vez mais espaço e avançou para conseguir consolidar sua manobra. Dilma Roussef em seu discurso inicial e ao longo de suas respostas aos senadores procurou fortalecer uma denúncia de que o avanço dessa manobra só foi possível graças ao deputado afastado e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha que, quando estava ainda no uso da função, aprovou a abertura do processo do impeachment como forma de retaliação ao PT por ter aceitado a abertura de inquérito contra ele no Conselho de Ética. Dilma ainda fez questão de dizer que a contribuição de Cunha para o país foi “a mais danosa possível”. Só não fez questão de dizer que em seu mandato anterior, Cunha era o líder do PMDB na Câmara, com quem o PT tinha boa relação de aliados.

De reacionarismo, o Senado tá cheio

Eduardo Cunha não foi o nome mais reacionário a ser ouvido ali. Há ainda os personagens dos tipos mais reacionários e criminosos possíveis, que fazem parte daquela casa e tomaram a palavra para dizer de boca cheia seus conservadorismos e hipocrisia.

Uma cena muito provavelmente ansiosamente aguardada por todos os espectadores – da esquerda e da direita, os revoltados incrédulos e os coxinhas brindando com chandon – foi o embate entre Dilma e Aécio Neves. A direita reacionária devia estar aguardando esse momento desde outubro de 2014. Cheio de hipocrisia, Aécio falou sobre o nível de desemprego. Dilma respondeu falando da crise econômica internacional. Uma ou outra cutucada de leve, algumas indiretas. Pra quem esperava ali o ápice da cena final, um grandioso improviso, se frustrou com um momento nada fora do script do que já vinha se mostrando ao longo do dia.

Outro golpista que quis aproveitar o dia para criar seus minutos de fama foi o líder do PSDB, o senador Cassio Cunha Lima, que reproduziu conservadorismos dignos do show do horrores da Câmara dos Deputados no fatídico 17 de abril. Quis ser o paladino da justiça, mas a gente não esquece que ele já teve o mandato cassado pelo TSE.

E por falar em reacionarismo, teve momento para o golpista Ronaldo Caiado ir ao microfone defender respeito à democracia. Caiado apenas não achou ainda momento para respeitar o trabalho e a vida alheia, já que são conhecidas as denúncias da existência de trabalho escravo em fazendas de sua família.

Aos olhos do resto do mundo

Desde o início da manhã, os principais jornais internacionais, ligados ao imperialismo, comentavam o dia histórico vivido pelo Brasil nessa segunda. Seja pela direita, defendendo fervorosamente o golpe como a revista americana Forbes, ou pela esquerda, denunciando que o impeachment é um insulto à democracia como o jornal britânico The Guardian, todos os veículos de imprensa mostravam a certeza da consolidação do afastamento definitivo de Dilma Roussef.

Enquanto isso, do lado de fora...

Mal se consolidava o golpe e nas ruas de São Paulo já se via qual a realidade podemos esperar da oficialização do governo golpista: a manifestação contra o golpe convocada pela Frente Povo Sem Medo e Frente Brasil Popular em São Paulo foi brutalmente reprimida pela polícia militar de Geraldo Alckimin com diversas bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha.

É assim que na noite que antecede a consolidação do impeachment, os golpistas já desenham as principais características do golpe: tem cara de tropa de choque, tem cheiro de gás lacrimogênio, não tem nenhum receio de mostrar que vai reprimir aqueles que se levantarem contra esse e todos ataques que virão ao trabalhadores, à juventude e todos os setores oprimidos.

É mais que urgente resistir!

Agora se faz mais do que nunca urgente organizar uma forte resistência contra o governo golpista, que ganhará total legitimidade para passar seus ataques e fazer as vontades da burguesia imperialista. A consumação do golpe mostra a que a direita veio, mas mostra também que o PT, PCdoB e aliados escolheram não fazer uma forte resistência ao golpe e apostar mais uma vez nas alianças e acordos com a direita. Isso reflete-se na CUT, CTB e UNE não buscando fazer dos trabalhadores e juventude sujeitos da derrubada de Temer, pois escolheram seguir a orientação de Lula, Dilma e o PT e não organizar a luta através de fortes assembleias em cada local de trabalho e estudo, para paralisar o país e fazer ecoar o grito de “Fora Temer”.

É preciso um plano de lutas para enfrentar os ataques desse governo, que já foram feitos e ainda estão por vir, para organizar a resistência contra todas as medidas privatistas assinaladas por Temer e a direita, as demissões, os ajustes fiscais, cortes de verbas e todas as retiradas de direitos!

A sessão do Senado que finaliza o processo do impeachment foi suspensa e retornará às 10h de terça, 30.




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