Documento de 1974, assinado pelo alto comando do serviço de inteligência americano, ressalta a imbricação do imperialismo norte-americano com a sanguinolenta ditadura no país e o papel assumido pelo alto comando do regime e do Estado brasileiro nas mortes de opositores.
sexta-feira 11 de maio de 2018 | Edição do dia
Que o período ditatorial no país significou uma tragédia humanitária a serviço de interesses de mercado da mais brutal violência contra os trabalhadores e a juventude já era de conhecimento comum. Porém, o que revela o documento da CIA, divulgado por um professor da FGV, é que o próprio Geisel, presidente entre 1974-79, como também o alto comando do exército, assumiam a responsabilidade de autorizar execuções sumárias contra opositores do regime ditatorial.
O professor Matias Spektor, da FGV, publicou nas redes sociais e na Folha de São Paulo este documento (veja na íntegra), comentando ser o mais perturbador documento de seus 20 anos de pesquisa sobre a ditadura:
"Não sabia que Geisel havia chamado para o Palácio do Planalto a responsabilidade sobre a decisão das execuções sumárias. A cúpula do governo não só sabia como chamou para si a responsabilidade. Isso é que é tão impressionante, chocante.", declarou.
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Além disso, Geisel teria orientado o então chefe da SNI (Serviço Nacional de Informações), João Batista Figueiredo (presidente no processo de transição pactuada da ditadura 79-85), a autorizar pessoalmente os assassinatos. Além destes, a CIE (Centro de Informações do Exército), grande órgão de inteligência das Forças Armadas é apontada por esse mesmo documento como mandatária direta de execuções, na época comandado pelo general Milton Tavares.
Esse documento conta com a assinatura de William Colby, a mais alta autoridade da CIA, serviço de inteligência norte-americano, na época. Trata-se de um relato de uma reunião junto com Geisel, Figueiredo e Tavares. Além da sanguinolência dos ditadores que comandaram o país, esse documento deixa explícita a já sabida ligação desse serviço de inteligência imperialista com o regime ditatorial no país (e que cumpria semelhante papel nas demais ditaduras na América Latina).
Tal ligação se deu em favor de uma política favorável ao domínio imperialista sobre o país, que levou a uma série de ataques econômicos contra a classe trabalhadora, um endividamento histórico do país, tudo isso imposto com base na política consciente de assassinatos, mas também de um duro regime nas fábricas, universidades e nas ruas.
A anistia aos torturadores e a esses governantes, cuja bainha da espada eram os corpos frios de trabalhadores, mulheres e jovens, merece ser encerrada pela luta dos trabalhadores. Os governos do PT cumpriram um importante papel nesse perdão, junto com a atual presidente do STF, Carmen Lucia, e corroboraram para que hoje as Forças Armadas se sintam à vontade em ameaçar outra tragédia como a desse período como forma de pressionar o avanço do autoritarismo do Estado brasileiro (ainda que sem necessidade da intervenção direta desses militares), como a expressa na prisão Lula, assim como promoverem quase uma centena de candidatos para as próximas eleições.