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MACHISMO NO CINEMA DE RECIFE | Fundação cinematográfica de Recife pune diretores por machismo

A Fundaj (Fundação Joaquim Nabuco), importante associação de cinema do Recife, decidiu banir por um ano qualquer atividade com os diretores Cláudio Assis e Lírio Ferreira após comportamento machista e homofóbico durante debate sobre o filme “Que horas ela volta?”, da diretora paulista Anna Muylaert.

quarta-feira 2 de setembro de 2015 | 23:03

Cláudio Assis durante gravações de Big Jato. Foto: Asley Ravel/Divulgação

Foi no dia 29, quando, durante o debate com Anna Muylaert, Cláudio Assis – diretor de “Amarelo manga” e “Baixio das bestas” – e Lírio Ferreira – diretor de “Baile Perfumado” e “Sangue Azul” – ambos visivelmente bêbados, começaram a interromper o debate. Em um momento, Assis começou a gritar, chamando a atriz Regina Casé, do elenco do filme, de “gorda”, e um dos maquiadores da produção de “bichona”. Além disso, em determinado momento tomou o microfone da mão da diretora para falar sobre seu próximo longa-metragem, “Piedade”, cujo roteiro é de Muylart. Já Ferreira fez uma intervenção longa e desconexa, pela qual começou a ser vaiado, durante o debate.

No dia 31 a Fundaj emitiu um comunicado oficial que reproduzimos a seguir:
“A Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) informa que, diante do comportamento lamentável dos cineastas Cláudio Assis e Lírio Ferreira no Cinema do Museu, no último sábado (29), não permitirá qualquer evento envolvendo os dois realizadores, e suas respectivas produções, em qualquer espaço da Fundaj. A punição tem validade por um ano.

Em respeito ao público e prezando pela promoção da Educação e da Cultura, de forma democrática, a Fundaj reafirma seu compromisso com a qualidade e o respeito aos seus diversos públicos.”

O diretor Kleber Mendonça (“O Som ao Redor”), que é também curador do Cinema da Fundaj, onde ocorreu o debate, declarou pelo Facebook que a atitude de seus colegas foi um “desrespeito, além de à Anna, ao filme, à equipe e ao público, também ao Cinema da Fundação, que trabalhou pra caralho desde julho para trazer a Anna ontem”.

Já o diretor de arte do filme, Thales Junqueira, postou o seguinte comentário sobre o episódio em seu perfil: "Um show de machismo escandaloso de Lírio Ferreira e Claudio Assis que tentaram impedir uma mulher diretora de falar sobre seu próprio cinema (...). Show de machismo, sexismo, gordofobia. Não passarão"

A própria Anna Muylart, que disse ser amiga dos dois diretores, afirmou em entrevista ao Jornal do Commercio que: eles “Agiram de maneira infantil e boba, numa atitude de egolatria comum aos homens. Quando viram uma mulher em evidência, precisaram atrapalhar o momento. (...) O machismo é um tema levantado recorrentemente em todos os lugares que frequento. Em países da Europa, em várias cidades do Brasil que tenho visitado, o assunto sempre vem à tona. As mulheres não aguentam mais. Estamos todas por um fio"

À Folha de São Paulo, a diretora disse que após o incidente, foi beber num bar próximo com Assis. “No nível pessoal, não fiquei de bode.” Mas que “Como cidadã”, contudo, acha que a Fundação Joaquim Nabuco fez bem em banir os colegas. “A mulher tem dificuldade de subir no palco e o homem, de descer dele.”

Depois do episódio, tanto Ferreira como Assis, em entrevista à Folha, negaram ter sido machistas pois, de acordo com eles, teriam feito o mesmo, afinal, com qualquer um, independentemente de homem ou mulher.

Contudo, Lírio pediu desculpas a Muylart e afirmou, em entrevista: “O que aconteceu foi que eu saí num sábado à noite para prestigiar a estreia do filme de minha querida amiga, bêbado. Quando cheguei, a sessão já tinha começado e fiquei pro debate. Na mesa, eu fiquei esperando uma oportunidade para elogiar o trabalho de Anna, mas o mediador tentou dar a palavra à plateia. E eu me intrometendo pra tentar retomar o raciocínio. Depois me dei conta que estava atrapalhando, peguei um táxi e fui embora. Agora, estou sendo crucificado no Facebook. Só posso pedir desculpas à Anna, como de fato o fiz, logo depois dessa repercussão toda.”

Veja trailer de "Que Horas Ela Volta?", de Anna Muylart:




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