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GREVE DAS ESTADUAIS PAULISTAS | Frente à chantagem da diretoria da FFLCH-USP, trabalhadores e estudantes respondem com unidade e luta

Utilizando o corte de salários dos trabalhadores como chantagem contra a mobilização e a ocupação dos estudantes, a diretoria da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH), tentou jogar trabalhadores contra estudantes. O tiro saiu pela culatra.

terça-feira 28 de junho de 2016 | Edição do dia

O diretor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP é o professor Sérgio Adorno, conhecido especialista em direitos humanos e coordenador do Núcleo de Estudos da Violência (NEV). Esse título se torna bastante irônico quando é ele o responsável por ameaçar centenas de trabalhadores em greve com o corte de salários, colocando em jogo o seu direito constitucional de greve e o sustento de suas famílias.

Para justificar a medida de corte de pontos, Adorno afirmou que a ordem veio da reitoria – que efetivamente orientou todos os diretores de unidade da USP a marcarem as folhas de ponto dos trabalhadores em greve como “dia não trabalhado”, o que levaria ao desconto nos salários. Contudo, a orientação para cortar os salários por parte da reitoria, atuando de forma ilegal, não é nenhuma novidade. Tanto é assim que na última greve, em 2014, o reitor Marco Antonio Zago foi obrigado por decisão judicial a devolver os salários que roubou dos trabalhadores para tentar minar a greve. O que é sim novidade é a diretoria da FFLCH atuar como cabresto da reitoria e cumprir à risca suas ordens ilegais.

Contra a ilegalidade da direção, trabalhadores radicalizam a luta ao lado de estudantes

Os trabalhadores da FFLCH não deixaram barato o ataque de Adorno, e votaram em sua reunião de unidade que, frente à ameaça de corte de ponto,intensificariam seus piquetes de greve e bloqueariam o acesso não apenas do prédio administrativo da faculdade, mas também dos prédios didáticos. A medida se somava àquela já tomada semanas antes pelos estudantes do curso de Letras que, inspirados nas lutas dos secundaristas, ocuparam seu prédio de aulas, promovendo atividades de greve e uma intensa mobilização.

A burocracia acadêmica ficou de cabelos em pé, e sentiu o baque dos bloqueios dos prédios didáticos. Quem reagiu primeiro foi a Comissão Interdepartamental de Letras (CILE), que reúne os chefes dos cinco departamentos do curso. Numa medida autoritária tentaram passar por cima dos métodos deliberativos e da autonomia do movimento estudantil e realizaram uma consulta online sobre a ocupação do prédio de Letras, na qual só poderiam votar os estudantes que se identificassem com seu número de matrícula da graduação (os estudantes da pós-graduação não conseguiam votar). A medida não teve grande adesão nem repercussão, mas mostrou o desespero dos professores que veem como “violentos” os métodos de greve e ocupação, mas se calam diante do desmonte da universidade, da ausência de cotas, do arrocho salarial e até mesmo da precarização do ensino, pesquisa, extensão e do regime de contratação dos docentes. Para eles, “violento” é apenas aquilo que interfere com o inalienável direito de seu umbigo fazer o que bem entende sem se importar com mais ninguém.

A direção é obrigada a retroceder e tenta uma chantagem, mas trabalhadores e estudantes resistem

O discurso de que seria obrigada a cortar os salários para não incorrer em improbidade administrativa da direção começa a mudar graças aos piquetes. Adorno e demais burocratas acadêmicos começam a sinalizar que poderiam reconsiderar o corte se... os estudantes desocupassem o prédio da Letras. A tentativa era claramente de chantagear os trabalhadores e fazer com que eles se voltassem contra a mobilização dos estudantes, vendo neles os responsáveis pelo corte de seus salários e pressionando a desocupação do prédio.

Bruno Gilga, diretor do sindicato e trabalhador da FFLCH, relatou:

“A direção quis chantagear os trabalhadores e estudantes, nos jogando uns contra os outros. Acontece que desde o começo da ocupação da Letras pelos estudantes, que inclusive ajudou a mobilizar a nossa greve, os trabalhadores reconheceram nessa atitude uma importante medida política de luta e se solidarizaram com os estudantes. Levamos doações de alimentos, dinheiro, indo à ocupação para conversar com os estudantes e colaborar como pudéssemos, participando dos mutirões de limpeza. No dia em que a polícia reprimiu brutalmente os estudantes no Crusp, vários trabalhadores foram à ocupação da Letras para se certificar de que estava tudo bem por ali. Essa aliança para nós é uma prioridade, e quando Sérgio Adorno quis nos chantagear deixamos claro que respeitaríamos as deliberações das assembleias estudantis e não serviríamos ao papel de pressionar a desocupação.”

Os estudantes, por sua vez, reconheceram também a importância de defender o salário dos trabalhadores e reconhecer o corte como um ataque a eles. Jéssica Antunes, diretora do Centro Acadêmico de Estudos Linguísticos e Literários, nos contou isso:

“Discutimos em nossas assembleias e plenárias a importância de colocar como primeiro ponto de nossa negociação o pagamento dos salários dos trabalhadores de forma integral, não permitindo nenhum corte de ponto. Sabemos que nossa mobilização em defesa da universidade, por cotas, contra o desmonte e pela contratação é uma luta unitária com os trabalhadores, e que qualquer ataque a eles é um ataque também a nós e à própria universidade, pois são eles que a fazem funcionar todos os dias. Essa consciência da importância de nossa unidade foi vista pela direção como uma oportunidade para tentar nos chantagear, e com isso tentar minar essa aliança. Nós não permitimos. Frente à proposta de anular o corte de ponto se desocupássemos o prédio, convocamos uma assembleia extraordinária dos estudantes para decidir. No último momento, a direção quis testar nossa determinação e colocar também que deveríamos retirar nossos ‘cadeiraços’ [bloqueios das salas de aula com cadeiras para impedir que se fure a greve], mas conjuntamente com os trabalhadores rejeitamos isso e fechamos um acordo com nossas pautas pela desocupação, exigindo diversos posicionamentos políticos da direção quanto às nossas pautas, bem como avançando nas demandas específicas do curso, como a reforma do espaço estudantil e a implementação das cotas de acordo com o limite já permitido pelo atual regulamento da USP na nossa faculdade. Saímos fortalecidos e de cabeça em pé da ocupação, pronto para continuarmos em greve e em luta ao lado dos trabalhadores em defesa da universidade pública, dos hospitais universitários, por cotas e contra o despejo da sede do sindicato.”

A página da Ocupação da Letras soltou um comunicado oficial com o acordo fechado com a direção. A greve continua na USP, Unicamp e Unesp. Siga acompanhando pelo Esquerda Diário.




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