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FRENTE POVO SEM MEDO | Frente Povo Sem Medo começa atos com MTST e CUT à Frente, poupando as críticas à Dilma

No dia 08 de novembro aconteceram atos da Frente Povo Sem Medo em diversas capitais do país, com o eixo “Fora Cunha corrupto. Não ao ajuste fiscal”. Em São Paulo o ato da Frente Povo Sem Medo composta pela CUT, UNE, MTST, Intersindical, CTB, PSOL, se reuniu no MASP no início da tarde, com alguns milhares de participantes. A grande mídia fala de 1500 pessoas, enquanto Guilherme Boulos do MTST anunciava no carro de som que haveriam 20 mil. A manifestação bloqueou uma das faixas da Av. Paulista e se dirigiu para o Parque do Ibirapuera.

quarta-feira 11 de novembro de 2015 | 00:08

Em sua grande maioria, o ato era composto por militantes do MTST. Havia poucos setores de juventude, bem como de trabalhadores organizados como categorias ou dos setores que estão em greve, como os petroleiros, apesar da CUT que dirige a FUP ser parte da Frente Povo Sem Medo.

A frente povo sem medo se coloca como alternativa aos ajustes?

Um dos debates políticos mais importantes para a atual conjuntura é como construir uma alternativa que tenha independência política, que possa ser tanto uma alternativa aos setores da oposição de direita, conservadores e neoliberais, como ao próprio governo Dilma, que tem implementado um ajuste histórico contra os trabalhadores.

O problema é que há ainda setores na esquerda que pintam uma “onda conservadora” no país para chegar à política de apoiar o governo, escondendo o fato de que os maiores ataques aos trabalhadores (num país de alta inflação, gerando amplas demissões e desemprego, implementando a privatização –chamada de “desinvestimento”, à Petrobrás, cortando direitos como aposentadoria etc.) vem do próprio governo Dilma. Nesse sentido, falar em “combater a direita” sem deixar clara as críticas também a Dilma e Lula (que nos bastidores está articulando pontos chaves no governo hoje) é fazer o jogo de setores petistas, como as burocracias sindicais da CUT e da CTB ou a UNE que tem sido grande entrave no movimento estudantil, e fortalecer esses setores nos ataques que estão fazendo aos trabalhadores nas fábricas e locais de trabalho.

Por isso, objetivamente, ao dar eixo em “Fora Cunha” e “Fora Levy”, conformando uma frente com CUT, CTB e UNE, a Frente Povo Sem Medo acaba instrumentalizando a luta “contra a direita e o conservadorismo”, pelo direito das mulheres e contra o ajuste aos trabalhadores para uma defesa do governo Dilma.

Os discursos no ato pouparam a presidente Dilma

Nesse sentido, o tom das falas do ato foi marcado predominantemente pela denúncia de Eduardo Cunha, grande alvo da manifestação, seguido de Levy e da política de ajuste, e de Alckmin por conta de sua política de fechamento de salas e escolas. No entanto, as críticas ao governo Dilma, que está na linha de frente da política de ajustes, foram quando muito proforma, e inexistentes na maioria das falas dos representantes das organizações que compõem a Frente Povo Sem Medo. Já o nome de Lula, que recebeu uma carinhosa saudação de Guilherme Boulos recentemente por ocasião de seu aniversário, tampouco foi citado, bem como o papel do PT na crise política instaurada no país.

A própria fala de Guilherme Boulos, líder do MTST, é destacável nesse sentido, já que abriu a manifestação falando contra os ajustes, mas se furtou de fazer declarações críticas que citassem nominalmente o governo do PT, fazendo apenas uma breve referência a Dilma que quando se referiu ao ajuste fiscal, mas muito longe de colocar as críticas ao governo do ajuste como eixo. Centrou sua fala na denúncia de Cunha, os ajustes de Levy e Alckmin. Chegou a afirmar que o MTST “ocupará toda escola que fechar” em São Paulo.

Este também foi o discurso de Bárbara Melo, presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES). Porém, é curioso como os estudantes secundaristas, que estão protagonizando um importante movimento de resistência à política de Alckmin, foram uma grande ausência no ato.

Vagner Freitas, presidente de CUT, também seguiu seu antecessor, e se referiu timidamente ao governo quando defendeu que haveria de “superar esse ajuste e modelo econômico do governo Dilma, rumo a um novo modelo de desenvolvimento”.

A greve dos petroleiros foi apenas mencionada de passagem. Não surpreende, portanto, que o ato não tenha entoado uma única palavra de ordem em defesa dos petroleiros, que protagonizam sua maior greve desde 1995, nem sequer quando passou diante do prédio da Petrobras.

No site da CUT, a burocracia sindical comemora o “sucesso” do ato e diz “Estamos defendendo a saída do Ministro Levy para que o governo federal continue a ter apoio dos movimentos sociais”, uma declaração emblemática do sentido do conjunto do ato.

A luta pelo “Fora Cunha corrupto” frente a enorme polarização nacional

Dado o caráter conservador e por vezes reacionários das medidas que vem tomando Cunha contra o direito das mulheres, pela redução da maioridade penal, entre outros, muitos setores dos trabalhadores e da juventude tem visto Cunha como principal referência do conservadorismo no país e a necessidade de combater suas políticas, além de que está completamente enlameado na corrupção com contas na suíça que a todos é evidente.

Sendo assim, o problema política que se abre é de como travar esse combate, e alguns setores acham que é melhor se focar agora na luta contra Cunha. No entanto, todos os setores que sentem a simpatia pela luta contra Cunha e a direita brasileira, ou mesmo pela luta contra os ajustes, devem compreender que não será poupando o governo Dilma Rousseff que avançaremos nos direitos dos trabalhadores ou das mulheres.

Os atos tem colocado o eixo no “Fora Cunha” como se isso fosse por si fortalecer a consciência dos trabalhadores a juventude na luta pelos direitos. O problema é que essa consciência só vai avançar se falarmos a verdade sobre a política nacional e a grande verdade é que Lula e Dilma tem feito política nos bastidores para um “acórdão” entre Cunha e Dilma, mantendo os dois no poder para “manter a governabilidade”. Assim Lula deu declarações recentes de que o PT não deveria dar eixo na luta contra Cunha, mas pelos ajustes. E Cunha por sua vez tem baixado os decibéis sobre os processos de impeachment de Dilma. Um acordo sem escrúpulos entre o PT e seu principal opositor com um único objetivo: manter Dilma no poder e implementar o mais agressivo ajuste fiscal.

Esconder isso dos trabalhadores e da juventude nos atos não é fortalecer a luta contra a direita, mas sim fazer uma grande manobra de defender o governo e suas manobras indefensáveis, o mesmo governo que, estando mais forte, verá mais condições para aplicar o ajuste.

O PSOL abre mão de uma alternativa independente quando compõe essa frente

Muitos trabalhadores já tem percebido essas movimentações e cada vez mais veem com desilusão o governo do PT e sua oposição de direita. Abre-se uma grande oportunidade para a esquerda construir uma força independente do PT e da direita, que possa realmente expressar o sentimento dos trabalhadores, a luta das mulheres e da juventude. Ao renunciar a isso e poupar o governo Dilma, a frente povo sem medo acaba fazendo o jogo do petismo no país e bloqueando o surgimento de uma força independente.

As correntes do PSOL que subiram ao carro de som também seguiram a linha geral. Com colunas pouco expressivas de jovens, o RUA e o Juntos carregavam faixas com dizeres contra Eduardo Cunha. Tampouco primaram por defender a necessidade de uma política abertamente antigovernista.

Por isso, a participação do PSOL nesta frente é uma cobertura de esquerda ao PT, materializada na política de seguir o “Fora Cunha” sem dar eixo também para as duras críticas políticas necessárias ao governo Dilma. Ao fazer isso, o PSOL retrocede enormemente na possibilidade de se apresentar como uma alternativa à esquerda do PT, sendo a única possibilidade de retomar esse caminho é romper imediatamente com essa Frente. Do contrário vai se apagar, como ocorreu, em meio as organizações petistas.

Em suma, o lançamento da Frente Povo Sem Medo se amparou no progressista sentimento contra Eduardo Cunha, para dissimular o papel que o governo Dilma está cumprindo. Como já foi debatido em diversos artigos do Esquerda Diário trata-se de uma frente para deixar Dilma e o PT sem medo.




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