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Silêncio interessado | França vive maiores protestos em décadas e imprensa brasileira tenta ocultar mobilizações

A reforma da previdência de Emmanuel Macron e Elizabeth Borne vem gerando algumas das maiores mobilizações operárias e populares das últimas décadas. No dia 7 de março, saíram 3,2 milhões de manifestantes nas ruas. A lista de categorias, cidades, rodovias e regiões do país paralisadas ou bloqueadas é tão grande quanto o índice de desaprovação do governo, que já atinge os 71%. Enquanto isso, a grande imprensa brasileira cumpre o patético papel de celebrar a reforma da previdência e elogiar Macron. A intenção é ocultar o pulsante processo de luta de classes em curso hoje no país da Revolução e ao mesmo tempo defender a reforma da previdência para justificar ajustes fiscais nos Brasil

terça-feira 21 de março de 2023 | Edição do dia
França em chamas / Twitter: Reprodução

A imprensa brasileira possui o medíocre hábito de copiar tudo o que os europeus e norte-americanos fazem de ruim - a começar por ajuste fiscal, austeridade, corte de gastos, benzer a dívida pública, e por aí vai. A narrativa do JN nessa segunda-feira, 20, foi assim. William Bonner apresentou as propostas de ajuste fiscal que Haddad vem costurando com Arthur Lira e Rodrigo Pacheco (a “âncora fiscal”) e emendou com ovas a Macron, dizendo que “a preocupação com equilíbrio de gastos não é uma exclusividade brasileira”. Toda a pauta foi dedicada a defender a reforma da previdência, mostrar como Macron “saiu vitorioso” no parlamento e relegar a luta de classes a uma nota de rodapé no programa. No final, mostraram uma ou outra imagem de protestos e seguiram com outras questões.

O Globo, Folha de S. Paulo, Estadão, Bandeirantes, Zero Hora… há uma importante operação de ocultamento do processo de luta de classes em curso na França combinada com uma frágil e tosca tentativa de erguer Macron num pedestal. Artigo recente da Folha de S. Paulo sugeria, desde o título, a exótica ideia de que a luta dos trabalhadores fortaleceria Marine le Pen e a extrema-direita francesa. Nada mais longe da verdade. A real é que os governos de Macron e Borne estão mais mortos do que vivos e as lutas não cessam. Na semana passada, uma pesquisa mostrou que 71% da população francesa é favorável à saída do governo. A moção de censura no parlamento, que se tivesse sido aprovada representaria o fim de Emannuel Macron, não passou por míseros 9 votos, mostrando o quão fragilizado está o presidente. Nas ruas, entre marchas e cantos, pedem a cabeça de Macron e lembram dos feitos de 21 de janeiro de 1793, quando literalmente cortaram a do Luis XVI. A conjunção da gigantesca crise política do governo e também da Vª República, combinada à jornada de lutas que se estende há semanas, vem costurando um "momento" pré-revolucionário no país. O bafo da luta de classes trancafiou Macron em seu escritório e há dias não dá as caras em espaços públicos. Mas nada disso parece ser importante para a grande imprensa brasileira. L’important c’est que Macron soit victorieux! Vive la France! Vive la Republique! E um amém aos ajustes fiscais e às reformas neoloberais!

Nós do Esquerda Diário buscamos fazer o inverso do que a grande mídia faz. Damos vazão ao turbilhão que hoje sacode o país de Victor Hugo de norte a sul. A intenção é desenvolver a luta dos trabalhadores em chave revolucionária, pois uma derrota dos ajustes neoliberais e dos capitalistas na França significaria um enorme ponto de apoio para a luta dos trabalhadores e povos oprimidos de todo o mundo.

Segundo os números da CGT, principal central sindical do país, no dia 7 de março saíram 3,2 milhões de franceses nas ruas (e estamos falando de uma central cujo objetivo tem sido o de manter as mobilizações sob rédea curta para não desestabilizar o país). Trabalhadores de categorias como: petroleiros, trabalhadores dos transportes, garis/catadores de lixo, professores, eletricitários, estudantes universitários e secundaristas, desempregados, trabalhadores de aplicativo, servidores públicos, autônomos, inúmeros trabalhadores de diferentes serviços… a lista dos que já pararam ou estão nesse momento de braços cruzados é enorme. Já há universidades ocupadas pelos estudantes. São inúmeras manifestações selvagens, que vem se enfrentando com a polícia. Já são cerca de 300 manifestantes detidos. Diariamente nós vemos barricadas nas ruas das grandes cidades, enfrentamentos com a repressão, lixeiras e carros pegando fogo. Tem ares de 1968, símbolos de 1871 e lembranças de 1789. Em 2010, contra a reforma da previdência de Sarkozy, as mobilizações não foram tão massivas. Os coletes amarelos, em 2018, constituíram força social multitudinária, mas dessa vez as mobilizações se espraiam para além das zonas periurbanas e atingem o coração das principais capitais e penetram França adentro - é um movimento mais extenso. Em Paris, após a moção de censura ter sido derrotada, havia manifestações inclusive à meia-noite, mostrando como até os relógios estão sendo desafiados pelas mobilizações.

Nessa quinta-feira, 23, está marcado novo dia de greve geral. As mobilizações vem pressionando as direções sindicais a manter a mobilização até derrotar a reforma, Macron e Borne. Além do silêncio da grande mídia sobre a luta de classes, boa parte da esquerda brasileira também vem dando pouca importância para o assunto, pois, como afirmamos em outro artigo, “o exemplo francês se torna uma pedra no sapato para a política de integração ao governo Lula e a estratégia de pressão popular sobre as instituições.”

Convocamos todos os leitores do Esquerda Diário não só a acompanhar o processo de luta de classes na França pelo diário, mas também a demostrar apoio ativo aos trabalhadores. Nessa quinta-feira, no dia da greve-geral, faremos uma manifestação em frente ao consulado francês, em São Paulo, às 17h.




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