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França: avança e se radicaliza greve após anúncio da Reforma da Previdência

A França amanheceu na quinta-feira com bloqueios, piquetes e a extensão da greve a novos setores após o anúncio formal do projeto de reforma previdenciária do governo Macron.

sexta-feira 13 de dezembro de 2019 | Edição do dia

No oitavo dia seguidos de greve, vários sindicatos franceses convocaram nesta quinta a que se redobrem os protestos contra a reforma do sistema previdenciário e avisaram que "não haverá trégua no natal", aumentando a tensão em seu enfrentamento com o presidente Emmanuel Macron.

Várias cidades do país amanheceram com piquetes nós terminais rodoviários, com a greve se entendendo aos portos e a toda a rede ferroviária. A polícia reprimiu os manifestantes em alguns dos bloqueios, mas não pode evitar que a greve continue e se estenda, enquanto são preparadas novas marchas para os próximos dias e uma jornada nacional de protestos para terça feira, 17.

Pode-se tomar como exemplo a violenta repressão ao piquete de Pavillons-sous-Bois, um bairro popular da periferia Norte de Paris, onde a BAC, a brutal unidade repressiva que atua nas periferias, foi acionada. Frente à repressão, todos os trabalhadores da RATP (transporte metropolitano de Paris) fizeram valer seu direito de não ir trabalhar para se proteger, o que fez massificar, de fato, a greve. Ainda sobre o episódio, a direção da CGT criticou os trabalhadores por fazerem uso desse direito, mostrando os sintomas do transbordamento do controle da burocracia sindical pelas bases.

O porto de Marseille foi bloqueado por trabalhadores, com piquetes nos pontos de acesso. Todos os portuários franseses se somaram à greve a partir dessa quinta, incluindo no porto de Havre, cidade natal do primeiro ministro francês Édouard Phillipe, que ontem anunciou publicamente o texto da reforma da previdência - trabalhar mais anos para ganhar uma pensão menos que a atual.
"Bloqueamos os oito principais pontos [de entrada]. Seguiremos aqui o dia todo!" Assegurou a porta voz da CGT, Sandrine Gérard.

A proposta apresentada pelo primeiro ministro causou rechaço imediato, como foi visível na reação nas redes sociais, e igualmente nos dirigentes sindicais, incluindo a CFDT, a organização mais conciliadora e que vinha apoiando a proposta de reforma previdenciária, que agora declarou que "cruzaram uma linha vermelha" ao estender a idade de aposentadoria para 64 anos para ter direito a pensão plena.

"A greve continua, e o lamentamos, porque não havíamos previsto que fosse dessa maneira", assegurou o secretário geral da CGT de trabalhadores ferroviários, Laurent Brun, em declaração à cadeia de rádio France Info.

"Nos demos conte de que o governo não dará o braço a torcer e isso vai durar um tempo. Não haverá trégua de natal, exceto se o governo ouvir a razão" acrecentou.

Evidentemente, estás declarações dos sindicatos não implicam o anúncio de uma greve geral indefinida de todos os setores até que caia a reforma, como exige grande parte da base dos trabalhadores que já estão em greve. Pelo contrário, os dirigentes sindicais não descartam voltar a sentar para negociar, algo que até agora o governo aproveitou para limitar a conter os protestos, gerando expectativas de que se poderia "melhorar" a reforma que já é questionada pela maioria dos franceses.

É por isso que, após o anúncio de quarta feira, Philippe acrescentou "minha porta está aberta, minha mão está estendida", considerando que os anúncios do governo seriam suficientes para por fim à greve.

O governo Macron quer impedir um novo estouro social após a crise que seguiu os protestos desde ano do movimento dos Coletes Amerelos, e por isso tentou uma ponte com os sindicatos. Há uma luta pela relação de forças em que o governo não pode voltar atrás com a reforma, porque implicaria o fim de seu próprio mandato, ao qual se somam os líderes sindicais que continuam a semear ilusões no diálogo e as ruas que estão chegando. aquecimento devido à mobilização massiva da semana passada e aos quais novos setores foram adicionados nesta quinta-feira para completar a luta que ferrovias, trabalhadores de transporte, estudantes, professores, advogados e coletes amarelos vêm dando, entre outros.

Em cidades como Paris, nesta quinta feira, estava quase impossível conseguir transporte público para movimentar-se, e os poucos trens que funcionavam, conduzidos por funcionários de nível gerencial, andavam abarrotados de gente.
À tarde, foram realizadas marchas em Paris e Marselha, embora o foco do dia tenha sido as ações locais, em preparo para o dia da mobilização nacional para a terça-feira 17, que será a terceira em menos de duas semanas.

O projeto é vital para os empresários e os partidos do regime político francês. Trate-se de quebrar o que resta do velho Estado de Bem-Estar, que vem sendo desmantelado por sucessivos governos de centro-direita e centro-esquerda ao longo dos últimos 40 anos. Sem dúvida, a reforma da previdência sempre foi uma pedra no sapato dos que tentaram leva-la adiante. Em 1995, custou ao primeiro ministro Alain Juppé várias semanas de greve indefinida para a reforma ser, finalmente, derrubada, assim como seu governo. Tampouco conseguiu aprova-la o direitista Nicolás Sarkozy nos anos 2000.

Por isso, para Macron, trata-se de uma questão de vida ou morte. Voltar atrás significaria reconhecer que não pôde levar adiante o que durente sua campanha apresentou como “mão de todas as reformas”.

Por agora, a greve não dá sinais de debilitar-se, pelo contrário. Em algumas cidades, começam a surgir assembléias interprofissionais (intersetoriais) onde se reunem ferroviários, trabalhadores do metrô, docentes, estudantes e Coletes Amarelos para discutir os pasos a seguir para ampliar a greve. Enquanto as direções sindicais endossam a ideia de um “diálogo contrutivo” com o governo, se negando a chamar a greve geral por tempo indefinido, a raiva das basesé o que atualmente prima e o que os obriga a radicalizar as medidas.




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