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RACISMO | Família negra é atacada com escritos racistas na própria casa em Ribeirão das Neves, MG

MaréProfessora designada na rede estadual de MG

sexta-feira 12 de janeiro de 2018 | Edição do dia

“Senzala”, “voltem para a África” e “negroes imundos” foi o que o racismo vem escrevendo, há três meses, no muro da casa de uma família negra em Ribeirão das Neves, região metropolitana de Belo Horizonte. O último ataque, escrito nessa quinta feira, 11, diz “escravos à venda”.

Vizinhos da família estão organizando uma manifestação nesse sábado, dia 13 às 19 horas, em apoio às vítimas, repúdio a esse asqueroso acontecimento e cobrando providências dos órgãos públicos. Uma das vítimas, Ivan, fez o boletim de ocorrência, segundo o site Ribeirão das Neves.net.

É revoltante que esse tipo de manifestação racista aconteça, ainda mais quando se trata de um Estado negro como Minas Gerais, e uma cidade repleta de trabalhadores, a maioria precários, como Ribeirão das Neves, em que 72% da população se auto-declara negra. O povo negro, desde a dura conquista da abolição da escravidão, vende, sim, o seu trabalho para os capitalistas, que lucra com o suor extraído do nosso trabalho. Isso porque são detentores dos meios de produção e se apropriam do racismo para melhor explorar, principalmente no Brasil, pois aqui o capitalismo se ergueu graças à escravização inicialmente de indígenas e, posteriormente, ao lucrativo roubo - e submissão ao trabalho forçado - de negros Africanos que nunca aceitaram a posição de escravos e cujas heroicas revoltas não constam nos convencionais livros de história.

Mas não: Ivan, Marilene e os três filhos do casal não estão à venda. Eu, os outros cotistas, as tantas trabalhadoras e trabalhadores que sustentam a boa vida dos burgueses, empresários e seus políticos não estamos à venda. Os nossos irmãos haitianos que herdam o sangue daqueles que fizeram há 214 anos a primeira revolução negra da história conquistando sua emancipação não estão, os negros escravizados na Líbia pelo imperialismo em pleno 2017 também não, e os negros norte-americanos, que mesmo em tempos de Obama já (ou ainda) bradavam que vidas negras importam, não estão à venda.

O povo negro não tem nada de imundo. Imunda é essa ideologia criada e disseminada para que, mesmo após o fim da escravidão, fosse considerado normal que as mulheres negras hoje recebam 60% a menos que os homens brancos. Imunda é a polícia racista que assassina nossos jovens não só nas favelas no Rio de Janeiro, mas aqui nessa cidade onde alguém ousou dizer que a casa de uma família de negros é uma senzala. A história (não a contada pelos historiadores capitalistas, mas a história real) já mostrou que o lugar dos negros é o Quilombo, e não para se refugiar, mas para organizar a luta pela emancipação. É por isso que o MRT e independentes lançamos, às vésperas do último dia da consciência negra em um evento histórico, o Quilombo Vermelho de luta negra anticapitalista, no qual me organizo.

Por fim, não, não voltaremos para a África. Também não iremos para Cuba. Enquanto houver capitalismo, haverá racismo, por isso enquanto houver classe trabalhadora estaremos aqui, no Brasil, o país mais negro fora da África, aliando a luta contra as opressões com a luta contra a exploração, nos levantando todos os dias contra a direita porta-voz desse racismo inaceitável, afinal é 2018 e nenhum Bolsonaro terá paz. Estaremos aqui, batalhando para que nossa imensa disposição de luta, herdada de Zumbi e Dandara, não seja desperdiçada em apostas reformistas como a de Lula e do PT, que querem “melhorar nossa vida” fazendo com que alguns de nós sentemos em tronos ao lado dessa burguesia responsável por cada crime racista que nos mata todos os dias. Esse ano, e até que esses sistema seja derrubado rumo a um mundo sem racismo, estaremos aqui, no Brasil mesmo, batalhando por uma alternativa que responda até o fim todas as demandas dos negros e dos trabalhadores.




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