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Dia Latino-Americano e Caribenho pela legalização do aborto | Falam as trabalhadoras: sobre o direito ao aborto legal, seguro e gratuito!

Mulheres trabalhadoras da USP, metroviárias, professoras, operárias falam ao Esquerda Diário sobre a luta pelo direito ao aborto legal, seguro e gratuito

segunda-feira 28 de setembro de 2015 | 02:02

"Eu sou a favor do aborto porque eu já perdi uma prima que estava grávida mas não tinha condições de sustentar uma criança, nem ela nem o marido que estava desempregado. E ela foi fazer um aborto clandestino morreu, não deu pra chegar no hospital a tempo. Morreu nos braços do irmão, entrando dentro do hospital. Sou católica, praticante e sei que as igrejas católicas e evangélicas são contra. Mas elas não dão apoio às mães grávidas ou que estão na rua. A Igreja diz que é contra as leis de Deus, mas aqui na terra é muito duro..."
Vilma, trabalhadora do bandejão da USP

"Numa sociedade que coloca nas costas das mulheres o total cuidado e responsabilidade da criação dos filhos, homens "abortam" livremente todos os dias abandonando seus filhos ou não pagando as pensões para seu sustento. Da minha experiência pessoal, desde que resolvi assumir minha gravidez sozinha, aos 19 anos senti todo o desamparo do estado e do machismo, arcando a cada passo com todo o peso das responsabilidades, mas também com o preconceito cotidiano como são tratadas as mulheres nos serviços de saúde, na escola, nas relações. Para conseguir trabalho, não podia dizer que tinha um filho pequeno, muito menos que era mãe solteira, os empregadores descartam de cara esses currículos. No trabalho, levar filho no médico sempre foi visto com maus olhos, como se fosse um abuso ou privilégio. Mesmo na USP, uma Universidade de excelência, os atestados médicos de acompanhante não são aceitos. Na vida real e na prática da vida das mães, a Constituição ou o Estatuto da Criança e do Adolescente é desrespeitado por todos, inclusive pelos que defendem tão ferrenhamente a criminalização das mulheres que realizam o aborto."
Yuna, trabalhadora da prefeitura da USP e membro da Secretaria de Mulheres do Sintusp

"Acho que tem sim que legalizar o aborto, principalmente para mulheres trabalhadores, que moram na periferia e que não podem ter o filho por falta de condições ou porque não querem mesmo. Então, a mulher opta por ter o filho porque não tem condições de pagar para fazer um aborto seguro. E aí sofre vários tipos de violência. Minha filha por exemplo, engravidou jovem e na hora do parto foi um descaso completo, os médicos não estavam nem aí. Ficou horas na sala do parto e a gente esperando pra ver e ter notícias dela, que teve complicações, quase morreu no parto e os médicos não avisaram nada. Quem me avisou, foi uma senhora que estava acompanhando uma outra gestante. Ela disse: "quem é a mãe de Tamires?" Eu disse: "Sou eu". "Pois vá lá dentro que sua filha está quase morta". Eu fiquei desesperada e fui, ainda bem que estava tudo bem, mas se não fosse essa senhora, eu iria ficar sem saber de nada. O sistema de saúde é só descaso com as mulheres, principalmente as mulheres negras. Minha sobrinha engravidou aos 13 anos. Ela não teve educação sexual na escola, e nunca pôde ir num ginecologista. Se a gente tivesse acesso ao aborto legal e seguro, ela iria fazer. Mas ela, uma criança de 13 anos, já é mãe. E depois ela ficou mais de 1 ano na fila de espera da creche e perdeu mais de um ano na escola pois não tinha com quem deixar o seu filho. Eu mesma, quando eu tive meu filho eu fiquei 3 meses sem ter relação, de resguardo. Quando esses 3 meses estavam acabando sofri um estupro (que descobri depois que era estupro, pois não sabia que quando o marido forçava a ter relação era estupro) e engravidei de novo. Com um recém-nascido de 3 meses já estava grávida de novo. Não sabia de nada de aborto, nem nada disso. Eu tive minha filha. E como eu não sabia de nada prevenção de gravidez, quando minha filha nasceu eu tinha 22 anos e optei por fazer uma laqueadura, por medo de engravidar do meu ex-marido. Depois eu separei, mesmo querendo ter um filho com meu atual marido eu não pude, tudo por conta da laqueadura que tive que fazer. Se eu tivesse acesso a informação ou ao aborto seguro, isso não ia acontecer. E como eu, muitas mulheres sofrem todo tipo de violência e são obrigadas a fazer coisas com o seu corpo, como se o corpo não fosse delas."
Silvana Ramos, trabalhadora

"No Brasil até mesmo os casos nos quais o aborto é permitido por lei é muito difícil que aconteça, já que o atendimento é precário e a burocracia é enorme. Como se não bastasse, os políticos conservadores fizeram um projeto de lei, o “Estatuto do Nascituro”, também conhecido como “bolsa estupro”, que visa incentivar a mulher a levar adiante uma gravidez fruto de violência sexual em troca uma “pensão” do estado. É um retrocesso contra os direitos das mulheres! E expressa uma visão de que a mulher é apenas uma máquina de reprodução, e não um ser com vontade e poder de decisão! Construamos um grande movimento contra o Estatuto do Nascituro, o “Bolsa-estupro” e em defesa do direito de escolha das mulheres!"
Marília Rocha, metroviária demitida política

"A situação política do país está devastadora: de um lado estão setores da direita e reacionários como Eduardo Cunha, Marco Feliciano, Jair Bolsonaro tentando passar projetos de lei que só aumentam a violência contra as mulheres e os LGBT e retiram seus direitos. Se colocam contra a legalização do aborto e estão junto com os patrões para atacar a classe trabalhadora, as mulheres e os LGBT. De outro, Dilma faz de tudo para defender seu governo dizendo que Cunha e outros são golpistas, mas é em aliança com estes setores que aplicam os ataques à nós. Diante deste cenário onde milhares de mulheres seguem tendo suas vidas trocadas por favores no parlamento, é emergencial hoje que as mulheres se levantem para construir uma alternativa independente do governo e dos patrões para conquistarem seus direitos, construindo uma forte campanha na base das categorias de trabalhadores, nas universidades e escolas! É tarefa das Secretarias de mulheres dos sindicatos, das centrais sindicais como CSP-Conlutas, Intersindicais, e entidades estudantis como Anel, levarem adiante a campanha pela legalização do aborto legal, seguro e gratuito, para que saia do papel e se torne um forte movimento em defesa da aprovação do projeto de lei apresentado pelo deputado federal (PSOL-RJ) Jean Wyllys. A Marcha Mundial de Mulheres (MMM) deve romper com o governo Dilma que mente para as mulheres junto com o PT, pois nesses 5 anos de governo segue calada diante de tantas mortes por abortos clandestinos!"
Rita Frau, professora do RJ e membro da Executiva Nacional do MML

"Enquanto segue a discussão nacional do PNE, também nos municípios e estados estão sendo aprovadas as readequações dos Planos de Educação, que excluem a discussão de gênero e sexualidade nas escolas, proibindo que esse tema seja tratado nas escolas Brasil a fora. Além disso, esses PEs vetam discussões sérias e importantes que devem ser feitas com a juventude e levam milhares de meninas a gravidez precoce e a falta de alternativas que não seja arcar sozinha com o machismo da nossa sociedade, que descarrega nas costas das mulheres a obrigação da criação integral dos filhos. Lutamos para que as mulheres e meninas possam escolher quando querem ser mães e para que possam decidir sobre seus corpos, tanto em relação a suas escolhas individuais e a determinação de sua sexualidade, quanto da possibilidade de decidirem se querem ou não levar à frente uma gravidez indesejada. Defendemos a discussão de gênero nas escolas e lutamos por educação sexual nas escolas para decidir, preservativos para nos proteger e direito ao aborto legal, seguro e gratuito para não morrer."
Maíra Viscaya, professora e representante da subsede da Apeoesp de Santo André e Marcella Campos, professora da Zona Norte de São Paulo

"As dificuldades que as operárias enfrentam todos os dias no chão de fábrica são muitas, uma delas e a mais cruel é a falta de apoio com a maternidade. Ser mãe e trabalhadora precarizada é sentir na pele a escravidão que o capitalismo impõe! Tanto creches, quanto dispensa para as mães que acompanham seus filhos doentes é o mínimo que os patrões teriam q garantir para a sobrevivência da mãe trabalhadora! Muitas mulheres perdem o emprego e procuram o sindicato apesar do pouco apoio (pois os sindicatos estão nas mãos da burocracia), e hoje não tem mais o que fazer para melhorar a não ser ir pra cima se organizar e lutar pelas operárias que cobre metade do chão de fábricas do país."
Andreia Pires, demitida política da JBS




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