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RETROSPECTIVA JUVENTUDE ÀS RUAS | Façamos como os secundaristas: Lutar e vencer!

A onda de ocupações de escolas organizada pelos estudantes secundaristas da rede pública tomou o estado de São Paulo, fez cair o secretário de educação tucano e impôs uma derrota exemplar contra o antes tido como “invencível” governo Alckmin. A combatividade da juventude, ilustrada nesse apaixonante movimento em defesa da Educação e contra os governos, traduz a essência do que foi 2015 e permite arriscar uma palavra para defini-lo: LUTA.

quinta-feira 31 de dezembro de 2015 | 00:02

Qual palavra melhor definiria o que foi o ano de 2015?
Certamente são muitas as possibilidades, mas com esse artigo queremos retomar o que foi o ano de uma perspectiva da juventude.

O ano de 2015 começou já com grande expectativa da juventude, afinal, apesar das promessas eleitorais que fecharam 2014, a desconfiança dos governos e com todo o sistema político só aprofundou desde que foi aberta nas mobilizações de massa de Junho de 2013: A juventude foi às ruas contra o aumento da passagem e a crise dos transportes, contestando ao aumentos abusivos, a situação precária dos ônibus e trens, onde a população é empilhada e as alianças com as empresas ganham a hierarquia do governo.

A volta às aulas nas universidades abriu mais uma vez o debate sobre o elitismo que excluí a esmagadora maioria da juventude e sua essência baseada no mérito e hierarquia. Essa lógica é o que estimula os trotes e a violência contra os estudantes ingressantes, em especial contra as mulheres. Mas as mulheres soltaram a voz e denunciaram os absurdos e os casos de estupros
e outras situações de violência que passam sob a conivência das reitorias.

Em resposta aos cortes bilionários do governo Dilma à Educação e suas consequências diretas na vida de milhares de jovens, estudantes de universidades e escolas de todo o país organizaram o 26M, “Dia de luta em defesa da Educação”, no qual participaram centenas de diversas capitais do país com uma primeira mostra de sua imensa politização e disposição de luta.

O ataque de Dilma e o PT à Educação demonstrou ser bem mais que os cortes de verbas e redução significativa de seus programas “vitrines” como PRONATEC e FIES. Em abril, a luta da juventude contra os cortes do FIES foi o primeiro movimento que contestou o discurso de “Pátria Educadora” do governo.

A face mais cruel da crise aberta na Educação se expressou com mais força nas universidades federais, sendo que os estudantes bolsistas e os trabalhadores terceirizados foram os primeiros a sentirem. Em São Paulo, os estudantes da UNESP se mobilizaram em defesa da permanência estudantil e foram reprimidos pela reitoria por ocuparem a universidade. Em resposta, organizaram uma grande campanha que conquistou a reintegração de 17 estudantes, além de se articularem trabalhadores contra quaisquer punições.
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No Rio de Janeiro os estudantes se organizaram em resposta e colocaram a possibilidade de um grande exemplo de resistência, a partir da UERJ, UFRJ e outras, capaz de articular nacionalmente uma saída pela mobilização independente do governo e seus braços dentro do movimento estudantil e ao lado dos trabalhadores.

Em meio a essa efervescência da inicial mobilização das universidades federais contra os cortes na Educação, o III Congresso da Assembleia Nacional dos Estudantes – Livre foi chamado. A partir da Juventude ÀS RUAS construímos chapas para levar ao Congresso propostas para que a entidade fosse um instrumento para a articulação das lutas em curso e canalização de toda a politização da juventude, com um chamado amplo às demais organizações de juventude que se afirmam antigovernistas, bem como a todos os jovens do país. Essa proposta foi muito bem recebida pela maioria dos estudantes, como a vitória da Juventude ÀS RUAS nos cursos de Ciências Humanas da UNICAMP ilustra, ficando a frente do PSTU que é a ala majoritária. Foi no III Congresso da ANEL que a Juventude polemizou com a direção que buscou dar o PSTU, que falava em “greve geral da educação” ao mesmo tempo que construiu um Congresso que não armou os estudantes para fazer emergir sua luta, sendo que um exemplo foi a recusa da proposta que levamos de construir um encontro nacional da educação no Rio de Janeiro para incendiar as outras capitais e cidades com o que havia de mais avançado em termos de mobilização e questionamento.

Em Junho as lutas das mulheres e LGBTs contra os Planos Municipais de Educação sem o debate de gênero e sexualidade, graças à sua aprovação sem esse debate feita pelo governo Dilma, ou mesmo contra propostas de emendas retrógradas que criminalizam o debate, como a “Emenda da Opressão" proposta em diversas cidades, se somaram às lutas da juventude e diversos setores contra a reduçãoda maioridade penal de Eduardo Cunha, PMDB, e contra o aumento das penas pelo ECA defendido por Serra, PSDB, e apoiado por Dilma e o PT.

A cries só avançou nas universidades e mesmo universidades estaduais renomadas, como a UFMG, onde as matrículas dos estudantes foram atrasadas e os estudantes e trabalhadoresrepudiaram o ajuste fiscalde Dilma e Levy. Mas os cortes do governo são sintomas da crise capitalista aberta em 2008 a nível internacional e que atinge agora o Brasil. A escolha dos lucros dos empresários e banqueiros segue de vento em polpa no projeto de governo petista, que agora entra em crise e aprofunda ainda mais essa lógica privatista e precarizadora, assumindo uma unidade burguesa para passar os ajustes e fazer com que a conta da crise caia sobre as costas dos trabalhadores e da juventude. Os ataques aos trabalhadores da indústria são expressão dessa ação premeditada e que coloca em xeque o discurso eleitoral do PT. A juventude expressou sua solidariedade ativamente aos trabalhadores da GM que lutam pela defesa dos seus empregos e para que suas famílias não fiquem na rua.

Além da juventude, dos trabalhadores terceirizados, da educação e da indústria que estão sentido com mais força os ajustes dos governos e patrões, a crise capitalista impõem maior penúrias também aos setores mais precários como os imigrantes, que já quase não possuem direitos e na maioria das vezes passam por situações de superexploração análogas à escravidão. Essa mesma crise que têm suas veias internacionais teve sua barbaridade escancarada com os barcos da morte que reservou a muitos daqueles que ousaram fugir das guerras que não lhe dizem respeito. Esse ano também ficou marcado um exemplo de humanidade e solidariedade internacional da juventude em defesa dos refugiados da Europa..

Setembro também marcou a paixão pela transformação da juventude através da arte e de seu grito contra a opressão, contra o racismo estrutural que tentam omitir em nome de uma falsa democracia racial. Nesse movimento tomou a frente as diversas edições do RAP contra o racismo, organizadas pela juventude de Marília, São Paulo. Também a luta pelos direitos da mulheres ganhou destaque com o fenômeno de milhares nas ruas de São Paulo e Rio, defendendo o direito de decidir pelo próprio corpo e combatendo o PL5069de Cunha, PT e diversos partidos da ordem. Nessa luta, a Juventude valorizou o progressismo das mulheres em combater os políticos conservadores, em polêmica com outras agrupações da Esquerda que tentaram reduzir a pauta ao “Fora Cunha”, se eximindo da crítica ao que foram os 12 anos do governo do PT sem direito ao aborto e com aumento para mais de 50% do feminicídio das mulheres negras. Essa consigna também gera uma ilusão no regime apodrecido dos ricos, no qual não apenas Cunha é uma fruta podre, mas a cesta toda dos políticos burgueses, da ordem, o é, logo não será uma peça fora a salvação, mas sim os trabalhadores e jovens se mobilizando e se tornando sujeitos políticos para decidir seus próprios futuros.

Nos Congressos dos Estudantes da USP e UNICAMP a juventude marcou presença na defesa de outro projeto de universidade, contra a burocracia universitária privilegiada com seus super e megasalários, contra a falta de democracia e a estrutura de poder feudal na qual as vozes dos estudantes e trabalhadores que verdadeiramente constroem a universidade são substituídas pelas grandes empresas, como a Vale, que exploram e assassinam pessoas e os recursos naturais, enquanto a população não é parte da produção do conhecimento, bem como não vê suas necessidades serem atendidas. Também reafirmando o lado dos trabalhadores de dentro e fora da universidade como o certo, também contra o plano de desmonte dos governos. No Congresso da UNICAMP a Juventude deu exemplo de combate à burocracia estudantil, derrotando o governismo no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas a partir do CACH, contra a defesa de um projeto alheio à Educação Pública de qualidade. Num grande combate à União da Juventude “Socialista”, PCdoB, os estudantes problematizaram a “Pátria Educadora” que é educada pelas multinacionais e a UNE como a principal representante desse projeto de fundo neoliberal para a juventude.

Em novembro, nas eleições estudantis da USP e UNICAMP a Juventude ÀS RUAS construiu chapas com uma nítida perspectiva de construção de movimento estudantil democrático e contra as burocracias estudantil e universitária, que defenda a Educação e se ligue aos trabalhadores para derrotar os governos. A vitória em dois centros acadêmicos importantes da USP, o CAELL e o CAPPF, sendo que o primeiro é um dos maiores CAs do país, servirá para ampliar essa política e fortalecer a organização dos estudantes em 2016.

É preciso forjar um grande movimento nacional contra os ajustes e ataques dos governos para combater a crise política, econômica e social em nosso país. Desde o início do ano, e a partir das diversas mostras do potencial da juventude, nós da Juventude ÀS RUAS estamos debatendo em nossos locais de estudo e chamando à construção desse forte movimento nacional. A juventude mais precária e trabalhadora do nosso país está dando sinais de disposição e da potencialidade dessa articulação desde o inicio do ano, nas lutas contra os cortes nos programas, na permanência, nas bolsas e também em defesa dos trabalhadores terceirizados.

De volta ao início, a inspiração da grande LUTA e vitória dos estudantes secundaristas de São Paulo. À juventude universitária, a todos os jovens e a todos os lutadores desse país cabe tomar seu exemplo, se organizar, derrotar os governos e vencer.




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