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ENEM | Fábrica que imprimiu o Enem não fornece máscaras aos trabalhadores.

Com mais de 60 casos de covid-19 confirmados, a Plural Indústria Gráfica negava fornecimento de máscaras aos trabalhadores. Foram em condições como essa que a empresa, o INEP e o governo Bolsonaro garantiram a impressão do ENEM, sacrificando a saúde dos trabalhadores.

sábado 16 de janeiro de 2021 | Edição do dia

A nova gráfica que ganhou a licitação do Enem é a Plural Indústria Gráfica, uma empresa formada pela parceria entre o grupo Folha de São Paulo e a multinacional Quad/Graphics. A Plural é famosa no ramo gráfico por ser uma das maiores indústrias gráficas do país e também por sua intransigência com os trabalhadores.

Lá é onde "a chicotada lasca o coro do pião", como disseram os trabalhadores que nos enviaram uma série de denúncias sobre as condições de trabalho nessa empresa. Nessa nota publicamos parte dos relatos sobre a falta de fornecimento de máscaras, álcool em gel e EPIs para os funcionários, que pelas diretrizes da empresa, seguiram trabalhando desde o início da pandemia arriscando sua saúde e de seus familiares. Os trabalhadores relataram também outras irregularidades como o não pagamento de insalubridade para trabalhadores que têm contato com produtos químicos nocivos a saúde, ameaças e assédio moral recorrente por parte da chefia dos setores da produção, incluindo casos de racismo e homofobia, assim como sobrecarga de trabalho, fazendo com que diariamente dezenas de trabalhadores não consigam almoçar ou fazer qualquer pausa prevista nos contratos de trabalho.

Acompanhe os relatos dos trabalhadores:

"Eu tava trabalhando lá no começo da pandemia e não tinha nada, todo mundo tava inconformado que queriam manter a empresa funcionando e não davam nenhuma satisfação. Todo mundo já sabia que tinha gente se contaminando e a empresa não dizia nada. Aí começou um zum zum zum e o RH começou a fazer umas reuniões pra acalmar a galera. Nessa época nem álcool em gel tinha direito, acabava toda hora e a empresa não repunha."

"Começaram a se preocupar mais quando o pessoal começou a questionar, aí colocaram termômetro na entrada, começaram a afastar quem tava de suspeita e deram duas mascas de pano pra cada funcionário... Mas se sua máscara ficava velha ou sujava eles não davam outra e a gente tinha que se virar. Nessa época faltou também luva, uniforme, sabão pra lavar as mãos... Não tinha nada direito. Aí o absurdo foi que quando eles tavam pra ganhar a licitação pro Enem... Como ia ter vistoria do governo eles colocaram álcool em gel pra todo lado na fábrica pra não ficar irregular, claro."

"Você tinha que fazer um inferno pra conseguir uma máscara nova quando dava algum problema nas duas antigas... Negavam de todo jeito por que se não acabava com o negócio deles por que na verdade eles tavam segurando pra a gente comprar. Era assim, vc não conseguia pegar por que a segurança do trabalho negava, aí eles colocavam um anúncio no mural ia ter gente vendendo máscara na saída da empresa e a gente tinha que ir lá comprar as máscaras de pano por que a empresa não fornecia mais, um absurdo! A gente que pagava, e era caro eim... pra ter uma máscara que nem era máscara de segurança, era de pano. Se a empresa quer seguir trabalhando tem que garantir a nossa segurança, ela que tem que fornecer as máscaras igual qualquer EPI."

"Quando começou a rodar o Enem a situação era a mesma, funcionário da Plural tinha que comprar máscara pra usar, mas pra os funcionários do INEP que iam lá acompanhar a produção da prova a empresa comprou e distribuía as máscaras. Eu fico pensando quanta gente não se contaminou e levou essa doença pra casa sem saber e nem ter confirmação. O pessoal que tá lá hoje em dia fala que tá com mais de 60 casos confirmados pelo ambulatório, mas com certeza teve mais gente que nem deve ter ido fazer exame"

Em meio a uma situação drástica de aumento constante de casos de contaminação e óbitos pela pandemia, essa é a forma como o governo Bolsonaro e também os governadores como João Doria, estão garantindo a realização do ENEM, arriscando os trabalhadores na sua produção em condições precárias e desumanas. É urgente que a Plural Indústria Gráfica, que inclusive recebeu 63 milhões do governo para impressão do ENEM, utilize desse dinheiro para para assegurar as condições de trabalho e de saúde de seus trabalhadores. Se na produção já temos irregularidades quantas mais ocorrerão em todo o processo de distribuição e aplicação nacional do exame? Essa situação que passaram e ainda passam os trabalhadores da gráfica Plural só mostra como a aplicação do ENEM e de todos os vestibulares é inviável nesse momento e as prioridades deveriam estar voltadas ao combate da pandemia e em assegurar o emprego de todos os trabalhadores. Inclusive o ENEM e os vestibulares sempre foram o filtro social que impede que os trabalhadores e seus filhos entrem nas universidades públicas, nesse momento de pandemia essa barreira vai ser ainda maior. Alguns poderiam dizer "mas se não tiver o ENEM a fábrica vai demitir", porém isso poderia não ser assim. Porque em vez de gastar milhões imprimindo o ENEM esse valor poderia estar sendo destinado ao pagamento e a garantia de todas condições sanitárias para que os trabalhadores gráficos pudessem imprimir milhões de encartes instruindo a população sobre os cuidados sanitários contra a covid-19 e uma campanha nacional contra todo tipo de falta de informação, fake news e "mitos" a respeito da necessidade urgente da vacinação. É preciso batalhar para que os lucros não sigam sendo colocados acima dos reais interesses dos trabalhadores. Só assim será possível salvar vidas e garantir emprego para todos.




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