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NEUQUEN ARGENTINA | FASINPAT: um exemplo para os jovens e a classe trabalhadora

A respeito do apoio que desperta a luta das gestões de trabalhadores, María Vallejos, trabalhadora da saúde e docente universitária, compartilhou com o Esquerda Diário reflexões sobre FASINPAT (ex-Zanon).

quarta-feira 10 de agosto de 2016 | Edição do dia

Refletir sobre a FASINPAT permite pensar a história da luta da classe operária na Argentina e a nível internacional, esta experiência que se desenvolveu na cerâmica Zanon no ano de 2000 e que alcança nossos dias, constitui um exemplo de militância, compromisso, organização e luta dos trabalhadores.

Num contexto onde o capitalismo em sua necessidade de se reproduzir esteve permeado pela implementação de um conjunto de reformas estruturais entre as quais se sobressaem o Plano de Convertibilidade e a Reforma do Estado se deu a tomada da fábrica e posteriormente foi posta para produzir.

Estas reformas foram empreendidas pelo Menemismo a nível nacional, e no caso da província de Neuquén, por seus aliados pertencentes ao Movimento Popular Neuquino que se traduz, entre outras coisas, na perda de direitos dos trabalhadores, processos de flexibilização e precarização trabalhista, diminuição do custo da força de trabalho, fechamento de fábricas e desemprego para classe trabalhadora.

Três acontecimentos aprofundaram a crise na fábrica: a morte de Daniel Ferras, operário da mesma, que numa descompensação cardíaca não foi atendido na fábrica por déficit no serviço de atendimento à saúde, a greve provocada pela indignação dos trabalhadores frente a esta morte e a greve dos 34 dias que transcorreu entre maio e abril do ano de 2001, diante do fechamento da fábrica que culmina com a tomada da mesma pelos trabalhadores.

Este processo de organização e luta foi possível pela existência de um conjunto de condições objetivas e também pela existência de uma política de tradição classista na condução do sindicato que era dirigido desde o ano 2000 por Raúl Godoy, militante do PTS.

Quando esta nova gestão assumiu a direção do sindicato ceramista, os estatutos foram reformados, garantindo uma maior democracia e participação, levantando assim, a revogação dos mandatos dos dirigentes em assembleia, limitando o tempo de permanência na gestão do sindicato, desta maneira garantiu-se o retorno dos trabalhadores à fábrica, possibilitou-se a representação das minorias na gestão do sindicato, promoveu-se a independência do sindicato com respeito ao governo e aos partidos patronais, entre outros aspectos. Tudo isso somado a uma política de aliança e abertura com distintas organizações de trabalhadores ocupados e desocupados e em uma estreita vinculação com a comunidade tanto do Centenario (lugar onde se encontra a fábrica) como da capital Neuquén.

Essa decisão política de aliança com outros setores e de vinculação levou os operários de Zanon a participar de conflitos de trabalhadores não só de Neuquén, mas também do resto do país, levando sua solidariedade de classe e a colaboração para fundos de greve assim como a construção de centros de saúde, doação de materiais, entre outras coisas, organização de shows onde participaram músicos tais como Manu Chao, Arbolito, Ataque 77 (só para mencionar alguns) dos quais participaram milhares de jovens. Nesses shows a segurança foi garantida pelos trabalhadores sob o lema “em Zanon a segurança fazemos entre todos nós”.

O que caracteriza uma tradição classista no sindicalismo é a combatividade e as práticas antiburocráticas, a primeira ligada a uma visão mais ampla da atividade desenvolvida pelos dirigentes transcendendo o meramente sindical estendendo o horizonte até a política onde se inclui a solidariedade de classe, a crítica à ordem capitalista e a aspiração à construção de uma ordem socialista. A respeito do antiburocrático, constitui o rechaço a práticas vinculadas a uma tradição Peronista no sindicalismo caracterizada pelo verticalismo na tomada de decisões e na cadeia de ordem e por uma permanência na gestão dos sindicatos fomentando certo personalismo e caudilhismo dos dirigentes sindicais, o que os torna suspeitos de alianças com o governo e os empresários e de afastar-se dos trabalhadores.

Outro aspecto que caracteriza esta experiência e que assume a forma de controle operário na produção, sobretudo em sua forma de trabalho, é a assembleia e a jornada como instâncias de organização e tomada de decisões das e dos trabalhadores.

Todas as características mencionadas fazem com que a FASINPAT seja um exemplo tanto para os jovens como para a classe trabalhadora no sentido dos processos de organização e luta que podemos dar aos trabalhadores e estudantes como oposição a uma ordem social onde prima uma série de valores ligados ao individualismo, onde se naturaliza a miséria, opressão e morte gerada pelo capitalismo e nos invade uma sensação de que nada se pode fazer. Os e as trabalhadoras de Zanon hoje são um exemplo de que convicção, organização e luta em uma tradição ligada ao classismo constituem um avanço na construção de um mundo diferente, sem opressores nem oprimidos.




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