×

DEBATE GRÊMIO | Estudantes do “Nicão” fazem vivo debate político para eleição do grêmio

Hoje, dia 3 de maio, ocorreu na Escola Estadual Andronico de Mello, na zona oeste da capital paulista e uma das que foi ocupada em 2015, um debate entre chapas que concorrem ao grêmio desta escola. As chapas UPA – Unidos pelo Andronico (composta por estudantes independentes) e RAN – Revolucionários Autônomos do Nicão (composta por estudantes independentes e militantes da Faísca Anticapitalista e Revolucionária) expuseram as suas ideias e propostas a um auditório de mais de 300 alunos, acompanhados pelos professores e funcionários da escola. Após uma apresentação das chapas aos professores na semana passada, o corpo discente e docente demonstrou à direção a necessidade de que houvesse o debate para o conjunto dos alunos, para que estes refletissem sobre sua decisão ao eleger o grêmio.

quarta-feira 4 de maio de 2016 | Edição do dia

Num clima profundamente vivo, politizado e com muita participação do conjunto dos estudantes, o debate reverberou a intensa politização nacional e da juventude em particular, que desde o ano passado vem protagonizando experiências de luta importantíssimas em defesa de suas escolas e contra as opressões de todos os tipos. A necessidade de que se componha um grêmio aberto e democrático ao conjunto dos estudantes, que seja atuante dentro e fora da escola e proponha aos alunos reflexão e atuação sobre os principais problemas vividos na rede pública foram questões muito presentes nas ideias de ambas as chapas. Espírito este que se contrapõe ao plano do governo estadual de Alckmin de tentar impor construções de grêmios engessados e por fora da organização dos próprios estudantes, justamente para tentar controlar a organização e expressão política destes, como a do ano passado com as ocupações de mais de 200 escolas contra o fechamento de 92 unidades.

Debateu-se desde a necessidade de ter acessibilidade a cadeirantes até a inclusão de LGBTs e sua liberdade de exercer a identidade de gênero no espaço da escola; desde a proposta de realizar eventos culturais e esportivos até realizar mais debates políticos sobre a atual situação nacional de crise política e econômica e os ataques a educação; da necessidade do grêmio intervir junto a direção para abrir questões dos alunos até organizar o conjunto para lutar contra o roubo da merenda, a reorganização escolar e os cortes na educação; da necessidade de união dos alunos para atuarem na escola até a união na luta com os professores; do sucateamento das escolas e existência do filtro social do vestibular até a necessidade de se transformar profundamente a sociedade por uma revolução. O atual processo de impeachment da Presidência da República e o apoio à greve de professores em curso no Rio de Janeiro e as ocupações deste estado e das ETECs paulistas também não ficaram de fora do debate entre os jovens, que mostraram que são questões fundamentais que delineiam o futuro de todos eles.

Houve vários pontos polêmicos, principalmente sobre o papel do grêmio dentro e fora da escola, sobre uma atuação mais voltada ao próprio espaço escolar ou que mescle esta com uma organização com o conjunto da juventude para interferir socialmente nos rumos da educação e da política no país. A chapa UPA expressou mais a necessidade de intervir dentro da escola, propondo a realização de eventos culturais, ajuda dos alunos na organização e decoração do espaço e espaços para palestras sobre política, arte e preparação para o vestibular. A chapa RAN expressou a necessidade de se construir um grêmio que proponha debates e a luta contra as opressões aos negros, mulheres e LGBTs dentro e fora da escola, que se organize com outros grêmios e entidades estudantis para combater os ajustes na educação, abertura de mais espaços para intervenções artísticas dos alunos na escola, e se declararam contra a existência do vestibular e em defesa de uma luta para que todos os jovens tenham acesso ao ensino superior.

Ao final, a chapa RAN retomou a proposta que vinha sendo debatida de unificação das duas chapas, lançando o chamado à UPA e aos alunos para apoiarem, dizendo que viam um ganho de forças na união das ideias.

Wesley Almeida, do terceiro ano, integrante da chapa UPA, deu sua opinião sobre o debate:

“Os debates foram interessantes, bem legal! Houve algumas alfinetadas dos dois lados, e deu para ver influências de direita e esquerda nas falas, mas faz parte. No todo, o debate foi bem legal e proveitoso. O grêmio que for eleito tem que trazer muitas mudanças e ajudar a resolver as questões que os alunos têm!”

Lucas Souto e Luciano Lima, também do terceiro ano, integrantes da chapa RAN, também opinaram:

“O debate gerou o que a palavra mesmo diz: debate, algo que nunca teve aqui na escola desse jeito. Só pelo fato de nos posicionarmos como revolucionários já gerou muita discussão, antes ninguém tinha coragem pra colocar isso. Ainda me choca muito o fato de algumas pessoas acharem que a luta acontece porque há liberdade, quando na verdade a luta vem de uma opressão, de oprimidos para a conquista da liberdade. Olho pra cá e ainda não vejo um espaço de autonomia, e acho que o debate vai fazer as pessoas pensarem sobre isso.” – “Eu acho que o debate foi excelente; foi um choque pra mim pois eu não esperava que fosse tão articulado e que todos se envolveriam e fariam milhões de perguntas de ambos os lados.

Conseguimos quebrar alguns preconceitos e colocar dois pontos de vista, tanto de pessoas mais conservadoras quanto de pessoas que querem fazer uma revolução!”
Na visão da professora Marina Marques, “há pessoas que ainda não estão preparadas para o novo, querem a tradição. As propostas são bem diferentes, e isso se expressou. Mas o espaço abriu a reflexão. Achei brilhante a colocação da chapa RAN em relação ao questionamento sobre terem propostas, ao que responderam que sete pessoas não podem decidir pelo conjunto do grupo, ‘a gente decide isso em conjunto’. Acho bonito na teoria os grupos colocarem o que estão dispostos a fazer, mas sabemos que tanto uma chapa quanto a outra vão esbarrar nos limites do que for possível ser feito, por questões financeiras, da diretoria de ensino e da direção que permitirá ou não, e vão ter que se posicionar. Sobre a discussão, foi muito válida e positiva para que eles reflitam sobre essas questões. Foi muito esclarecedor para quem ficou até o final.”

As eleições ocorrerão ainda esta semana, e os alunos de ambas as chapas prometem muito protagonismo e expressão no grêmio do Nicão.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias