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LUTA DOS NEGROS NA USP | Estudantes da USP paralisam para reivindicar “Cotas Já” e discutir o racismo na universidade

sexta-feira 1º de maio de 2015 | 00:01

Nesse dia 30 de abril, estudantes da USP realizaram um dia de paralisação e luta por cotas na USP. A proposta de paralisação foi aprovada em Assembleia Geral no dia 16 de abril e referendada pelas assembleias de curso.

Desde o início da manhã os alunos se concentraram em frente ao Portão 1 da USP, onde realizaram um “trancaço” exigindo a implementação de “Cotas Já” e denunciaram o racismo estrutural dentro da universidade, na qual, contraditoriamente, apenas 7% dos alunos são negros.

Isto, enquanto a ampla maioria dos funcionários terceirizados são negros trabalhando em condições extremamente precárias e recebendo salários que mal dá para sobreviver.

A universidade que fecha suas salas de aula para os negros todos os anos, devido ao filtro social que é o vestibular, permaneceu com seu portão principal fechado até por volta das 8h da manhã, com dezenas de alunos reivindicando a implementação das cotas.

Após o trancaço, os estudantes saíram em um ato arrastão pelas unidades que não aderiram a paralisação, chamando todos os estudantes a se incorporarem a luta pelas cotas e contra o racismo estrutural presente na USP.

Na Letras, o maior curso do tipo da América Latina, a paralisação tinha sido aprovada em assembléia de curso no dia 28/04. Por volta das 8h o vice-diretor da FFLCH, João Roberto Faria, exigia que se abrissem as salas de aulas.

Assim, estabeleceu-se uma conversa entre os alunos e professores e foi proposto que a aula desta vez acontecesse fora do seu local habitual - as salas da letras - e que o tema pautado fosse cotas raciais e o racismo dentro da universidade.

Devido ao frio os alunos foram para o Auditório da História e lá realizaram uma aula diferente de todo o conteúdo dado no tradicional currículo acadêmico do curso, que aborda muito pouco a luta, os escritores ou a literatura negra.

Segundo Flávia Toledo, estudante de Letras e militante da Juventude às Ruas que estava na mesa da atividade, “Não aconteceram aulas na Letras neste dia histórico de luta em defesa das Cotas raciais na USP. Ao invés das aulas estéreis do cotidiano, os estudantes encheram o auditório da história pra debater a urgência de se implementar cotas, de se debater o racismo institucional e o desmonte da universidade e qual deveria ser sua função. A atividade foi organizada sem a colaboração do centro acadêmico, mas a base dos estudantes mostrou que quer debater e que esse debate pode ser muito rico. Discutimos como o racismo está presente em toda a sociedade e que é preciso defender uma universidade pública, gratuita e de qualidade, que não siga elitista e racista como é.”

Ao meio dia estudantes que compõe a Ocupação Preta realizaram uma performance do poema “Gritaram-me Negra”, dentro do Bandejão Central. Durante toda a tarde ocorreram várias atividades em diversos locais do campus para pautar a questão, como roda de capoeira e maracatu no Instituto de Química e uma sessão de curtas e documentários sobre a questão negra, na FFLCH.

No início da noite um grande número de estudantes se concentraram no vão da História e Geografia para a atividade “Enegrecer a USP: Cotas quando? Cotas Já!” realizada pelo DCE Livre da USP.

A militante da Juventude às Ruas e estudante da Letras, Giovanna Milhã declarou que “A atividade foi muito boa, porque deu voz aos estudantes negros que sempre foram silenciados na universidade mais elitista, racista e machista da América Latina. A Ocupação Preta e o Núcleo de Consciência Negra (NCN) fizeram a mesa do debate. A Ocupação Preta pode mostrar quem eles são em função do que eles lutam e tirar dúvidas dos estudantes e o NCN deu o seu parecer também. Foi aberta pras falas e todos os estudantes puderam se colocar, fazer perguntas e avaliações a respeito da paralisação de hoje e a respeito da movimentação que tá acontecendo na USP pelo Movimento Estudantil e pela Ocupação Preta.

Foi bastante importante porque o negro não tem voz na sociedade. O negro tem sua pauta secundarizada, ele não tem a possibilidade de se apropriar dos espaços da universidade e agora isso pela primeira vez está sendo bastante forte, o que é uma vitória para o povo negro. Mas ainda assim é preciso lutar para que não só cotas seja conquista aqui na Universidade de São Paulo, mas para que a terceirização seja barrada, porque esses trabalhadores em sua maioria são mulheres negras que vivem em condições de semi-escravidão por conta do trabalho precário que é o trabalho terceirizado.

Foi pautado isso também no debate. Acho que é bastante importante pontuar que nós discutimos o estatuto, que hoje é um estatuto que legitima o Conselho Universitário (CO), que é um conselho racista, machista e homofóbico, que tem um histórico de buscar sempre elitizar cada vez mais a Universidade de São Paulo e que tem um histórico de abrir sindicâncias que apuram casos de machismo, agressão e estupros mas que não levam a averiguação a frente. É um conselho universitário que barra cotas e que não nos representa. A reunião foi bastante rica e deu pra situar bem o que é e porque mudar a universidade.”




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