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I Torneio Operário Intercategorias | Estudantes da USP comentam sobre a experiência no I Torneio Operário Intercategorias

A experiência de participar do I Torneio Operário Intercategorias foi muito marcante, com cinco times femininos disputando a competição, as mulheres foram o destaque do torneiro, provando que lugar de mulher é sim jogando bola. Ver tantas mulheres trabalhadoras rompendo com o machismo estrutural, desafiando as correntes impostas pelo sistema e pela sociedade para jogar e se divertir num esporte considerado masculino serviu de inspiração pra muitas jovens estudantes. Confira abaixo o depoimento de estudantes da USP e militantes do grupo de mulheres Pão e Rosas sobre o torneio

quinta-feira 6 de agosto de 2015 | 00:00

"Fui convidada a participar dos treinos de futebol das trabalhadoras da USP para este torneio. Fiquei impressionada com organização (que tinha, inclusive, um treinador super dedicado) e frequência dos treinos, o número de mulheres que compareciam e a disposição destas para jogarem. Acompanhei um despertar ou um avançar de consciência muito grande a partir deste pequeno contato com o futebol. Como todas as produções humanas, o esporte carrega em si os valores e contradições da sociedade que o criou e o recria a cada instante. Somos educados também a partir do esporte, para achar, dentre outras coisas, que a mulher deve ocupar espaços determinados, sempre de menor prestígio social, que devemos competir entre nós, porque “os mais fortes sobrevivem”, etc. Mas o esporte não precisa ser só isto e de fato não é. Pode ser o espaço onde nos damos desafios antes inconcebíveis e que nos permite descobrir o quanto somos capazes, não só fisicamente, mas em todos os desdobramentos da vida. Onde aprendemos que unidos por algo em comum, somos muito fortes. Onde aqueles considerados adversários não são inimigos, mas pessoas essenciais para estas descobertas, por permitirem que várias situações aconteçam (o jogo de futebol, por exemplo). Que mostra que o erro educa. É um espaço que tem desdobramentos para além de si: a socialização, as risadas, a solidariedade... A percepção de como as opressões e a exploração incidem sobre nós e que quase não nos deixa espaço para este tipo de celebração da vida. Durante toda a história da humanidade, as práticas corporais (mais tardes organizadas como esporte, dança, jogo, ginástica, luta, etc) cumpriram a função de não só adestrar corpos, sobretudo valores. O nazismo ascendeu enquanto ideologia também através dos métodos ginásticos que demonstravam o quão forte, belo e disciplinado eram os corpos dos homens arianos. Podemos dar-lhe um caráter libertador, que nos eduque a crer em nossas forças e no fim deste mundo de miséria. Só os trabalhadores podem fazer isso. Nossos treinos continuarão mesmo após o torneio; a auto descoberta do papel crucial que temos frente a história, também. Foi um vislumbre que tive nesta singela experiência." Mariana Vilas Boas, Estudante de Pedagogia da USP.

“Vivemos em uma rotina tão louca de estudo, trabalho e tantas preocupações que de fato não acrescentam nada às nossas vidas que acabamos nos esquecendo de nós mesmos e das necessidades que temos, por exemplo, de estabelecer vínculos reais com as pessoas. Esse dia do torneio, que eu tive o prazer de acompanhar desde o início, foi desses dias em que a gente se lembra de que estar junto e poder conversar com tranquilidade, sem nenhum tipo de meta pra cumprir, é fundamental. E saí do torneio com uma vontade imensa de jogar bola com mulheres que enfrentam as mesmas dificuldades que eu, que sofrem com o machismo todos os dias e com todos os ataques à juventude. No próximo torneio, vai ter um time feminino da juventude com muita garra pra fortalecer a disputa feminina e mostrar que a mulherada também manda muito bem no futebol!”, Flávia Toledo, estudante de Letras da USP.

“A experiência de ver tantas mulheres rompendo com as correntes da opressão para estar na linha de frente do campo de futebol foi emocionante. Ver essas mulheres, verdadeiras guerreiras que lutam todos os dias contra o assédio moral, a violência, a opressão e a exploração, se divertindo com um esporte tido como masculino foi incrível. Ajudei a organizar o cantinho das crianças e lá conheci melhor a história dessas mulheres, enquanto elas jogavam, eu e diversos companheiros da Juventude às Ruas ajudávamos a cuidar dos seus filhos. Vi diversos pais tomando conta das crianças enquanto as mulheres davam um show de bola. Tudo foi muito importante e fortaleceu ainda mais a certeza de que quero lutar para que cada vez mais mulheres possam romper com as correntes que nos prendem, lutando para acabar com o machismo e com esse sistema que se apropria da nossa opressão para explorar ainda mais.” Odete Cristina, estudante da USP.




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