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JUVENTUDE | Estudantes da UFMG em ocupação respondem ao jornal Estado de Minas

Reproduzimos aqui a resposta dos estudantes das ocupações da UFMG ao editorial de sexta-feira, 28, do jornal Estado de Minas, que atacava a luta dos estudantes.

terça-feira 1º de novembro de 2016 | Edição do dia

Luta contra as agressões ao ensino

Na manhã desta sexta-feira, dia 28 de outubro, fomos surpreendidos pelo editorial "Agressão ao Ensino" veiculado pelo Jornal Estado de Minas, que além de questionar a legitimidade das ocupações em escolas e universidades, faz alusão ao uso de violência contra o movimento estudantil organizado, legítimo e democrático. Como forma de protesto à PEC 55/2016, MP 746/2016, à PL "Escola sem Partido" e aos demais ataques aos direitos sociais em nossos país, foi formado por estudantes um movimento independente que se constrói a partir de assembleias, atos, passagens em sala de aula, cortejos, intervenções e, mais recentemente, diversas ocupações nos prédios da universidade e em escolas públicas.

A nossa motivação política, que segundo o veículo deslegitima as ocupações, é, na verdade, o que dá sentido ao movimento, que visa fortalecer e intervir de forma ativa na vida política de nossa universidade e de nosso país. Ocupar é resistir, é nos permitir estudar sobre a realidade em que vivemos, por isso trabalhamos juntos, mantendo diálogo e parceria. O que nos intriga é o fato de motivações políticas serem vistas como ponto negativo em um movimento social, construído por jovens envolvidos com a realidade do país, interessados em dialogar com as instituições e participar ativa e democraticamente das decisões que os afetam diretamente.

Na tentativa de deslegitimar o atual movimento estudantil por meio da demonização da política, o Jornal Estado de Minas procura associar a luta secundarista e universitária pela manutenção de seus direitos a interesses partidários, observação desonesta tendo-se em vista a dinâmica pela qual tal luta tem sido executada. O editorial acaba por cair em contradição, pois, ao condenar uma imaginada inclinação partidária das ocupações, esquece-se de que o funcionamento do próprio jornal é regido por linha editorial tendenciosa, alinhada ao interesse eleitoreiro de grupos da elite conservadora - embora envolto por suposto comprometimento com a objetividade e imparcialidade, conceitos que acabam por ser utilizados como bordões enquanto o veículo de comunicação defende seus próprios interesses.

Em tom alarmante e sensacionalista, o editorial critica suposta passividade pela qual as autoridades brasileiras estariam lidando com as atuais manifestações.

Entendemos que, a partir de um pressuposto democrático em que o indivíduo tem, no direito da manifestação, um mecanismo para cobrança e diálogo, qualquer postura autoritária e violenta por parte das autoridades iria diretamente contra os supostos valores democráticos vigentes. Ao clamarem pela intervenção institucional imediata nas ocupações, o jornal acena para a brutalidade, o autoritarismo e a intransigência.

Ao final do editorial, nos deparamos com uma frase que sintetiza um dos objetivos e desejos de nós estudantes que estamos ocupando as faculdades e escolas secundaristas: "é preciso que se diga claramente o que está acontecendo no país".

Nesse sentido, aproveitamos a oportunidade para esclarecer alguns pontos da nossa luta e da situação político/econômica atual do Brasil.

As ocupações têm como objetivo comum a reivindicação contrária à aprovação da PEC 55/2016, que prevê o congelamento das despesas do governo federal, com valores corrigidos apenas pela inflação, por até vinte anos. Entendemos que, na atual conjuntura econômica do país, medidas precisam ser tomadas. Porém, isso não significa a necessidade do congelamento de despesas primárias, uma vez que estas representam serviços básicos, como saúde, educação, previdência e assistência social, fazendo recair sobre a população mais pobre as consequências da aprovação da proposta. Uma vez que a crise econômica resulta de problemas, principalmente, de arrecadação, alternativas como a taxação de grandes fortunas, tributação de dividendos e o combate à sonegação surgem como alternativas mais eficientes e imediatas para o aumento da receita.

Outra luta comum das ocupações é em repúdio à Medida Provisória 746/2016, que prevê uma reforma profunda na estrutura do Ensino Médio brasileiro de forma autoritária e unilateral. A MP 746 propõe, entre outros retrocessos, a não obrigatoriedade de disciplinas como Artes, Filosofia, Sociologia, Língua Espanhola e Educação Física no currículo do Ensino Médio. Acreditamos que a retirada da obrigatoriedade da oferta dessas matérias possa acarretar em seu desaparecimento do currículo do Ensino Médio, privando os estudantes do acesso a esses saberes fundamentais para o desenvolvimento da cidadania e do pensamento crítico. Também lutamos contra o Projeto de Lei "Escola sem Partido", que prevê a doutrinação dos estudantes, por ser contrária ao desenvolvimento da capacidade de reflexão crítica em sala de aula.

Desse modo, nossas manifestações não têm como objetivo "causar prejuízos aos estudantes que querem e têm pleno direito de frequentar os bancos escolares", como expõe o editorial do jornal Estado de Minas. Nossas ocupações não são invasões. Elas foram construídas em assembleia junto aos estudantes, tendo como finalidade a garantia da manutenção dos nossos direitos constitucionais. Nesse momento de ocupação, o modelo clássico de ensino é substituído por "aulões" fora da sala de aula, debates, assembleias e atividades culturais. Somos estudantes lutando juntos por um ideal comum.

Afinal, estamos lutando pela educação de nosso país.

Logo, não temos o que temer. Estamos seguros da nossa luta e vamos continuar resistindo contra os ataques do governo à educação, à saúde e às demais áreas sociais.

Estudantes das Ocupações da UFMG
31 de outubro de 2016




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