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UERJ | Estudantes da UERJ começaram luta contra ajustes de Pezão: lições para sermos vitoriosos em 2016

No final do ano a crise se aprofundou na UERJ. O atraso nas bolsas e salários e o corte de 46% previsto no orçamento das estaduais teve uma resposta contunde dos estudantes com uma grande mobilização: a ocupação e a greve que duraram 18 dias. Além do campus Maracanã e de São Gonçalo, o campus da FEBF, de Teresópolis, Resende e Friburgo, além da UEZO, também foram ocupados.

sexta-feira 8 de janeiro de 2016 | 00:30

Há mais de um ano os estudantes lutam contra os atrasos das bolsas e também em defesa dos/as terceirizados/as que constantemente tem seus salários atrasados e seus direitos trabalhistas desrespeitados. Neste ano foram feitos vários trancaços nos elevadores, assembleias com mais de 800 estudantes e uma grande paralisação de 15 cursos ao mesmo tempo, de forma totalmente independente do DCE governista. As terceirizadas também realizaram dezenas de atos no Hospital Pedro Ernesto (HUPE) e na UERJ. Nós da Juventude Ás Ruas estivemos junto a esta categoria majoritariamente feminina e negra em vários piquetes e atos.

A ocupação começou a partir de um grande acordão do DCE com a Reitoria e com a segurança da UERJ, por fora de uma decisão coletiva nas bases. No entanto, esta medida, foi tomada pelos estudantes, que lutaram muito para transformar aquela ocupação numa ferramenta de luta. Apesar da pressão recorrente de virar um fim em si mesmo, com poucas atividades e atos de rua, as assembleias reuniram sempre centenas de estudantes e a ocupação com piquetes diários garantiu que não houvesse aula e provas.

A inicial experiência com o Comando de Greve Estudantil

Um dos avanços deste movimento foi a votação do comando de greve. Centenas de estudantes escolheram fazer experiência com a auto-organização a partir de delegados eleitos nas bases. Mais de 10 cursos só no Maracanã, fizeram assembleias para discutir os rumos da mobilização e eleger seus delegados. Uma resposta clara à proposta burocrática de eleger uma chapa na assembleia, para ir à negociação com o Governo, feita pelo DCE e que foi composta por outras organizações como o coletivo RUA e as Brigadas Populares. Para representar toda a universidade, esta chapa possuía 4 estudantes dos cursos de Ciências Sociais e 1 de História, todos do Maracanã.

Acreditamos que a experiência com o comando não pôde se desenvolver até o final, pelo pouco tempo de experiência coletiva que teve. No entanto, foi fundamental para mostrar como estavam ativos vários estudantes nos cursos de exatas, biológicas, nos campis externos. Mostrou que é possível que o movimento tenha uma direção que não seja imposta por cima, como muitas vezes tentou fazer o DCE e outros setores de esquerda. A experiência da auto-organização e do comando de greve das escolas ocupadas pelos secundaristas de São Paulo mostrou que não só é mais democrática, mas também a melhor arma para varrer as direções governistas e derrotar os governos. Esta é uma experiência que devemos estender a cada luta que travamos.

Avanços e limites do movimento

O movimento dos estudantes aconteceu no mesmo momento em que o Governo estadual parcelava os salários dos servidores, cancelava o pagamento do 13° que depois se transformou num empréstimo com o banco, com atrasos no pagamento nos serviços terceirizados em todo o Estado, denúncias de faltas de insumos e de condições de atendimento nos hospitais universitários e estaduais e uma previsão de mais cortes nos orçamentos, além do corte que naquele momento era de 46%.

Tínhamos antes da votação do orçamento na Alerj (21/12) a chance de ser a linha de frente do chamado de unidade a todos os servidores, contra os cortes e aos ataques do governo do Pezão (PMDB). Este é um balanço chave deste processo, pois a mobilização mostrou este potencial, mas não se realizou por conta das suas direções, principalmente o DCE, que tentou o tempo todo manter a mobilização controlada, manobrando a cada dia, para que a luta não tomasse rumos maiores, não construindo atos ou qualquer iniciativa que extrapolasse os marcos da ocupação em si. A votação da greve e a garantia das assembleias gerais foi uma grande luta política com o DCE que diretamente as boicotava e não as construía.

Consideramos muito positiva a movimentação que a ocupação causou nas categorias dos servidores e professores, com várias assembleias bastante cheias. No entanto, seja por parte da burocracia sindical (PCdoB) no Sintuperj ou mesmo pela direção de esquerda da Asduerj, o postergar inevitável de uma greve e a não unificação nem atos estudantis, colocou nossa luta muito aquém do que poderia ser. As categorias unificadas junto com os estudantes poderiam fazer um grande movimento de luta contra os ajustes a partir da mobilização que ocorria na UERJ.

Por que somos oposição ao DCE?

Muito se discute dentro do ME sobre as discussões políticas e de como elas muitas vezes afastam os estudantes. Consideramos que o debate político, quando é realmente feito é fundamental e enriquece o processo de mobilização, acelera a experiência dos diferentes setores dentro da luta. Uma parte da esquerda trata a luta política como um problema, enquanto, pelas costas do movimento negociam por cima com outras correntes os rumos da mobilização.

Para nós da Juventude Às Ruas, a disputa com a Articulação Popular – PT, e a União da Juventude Socialista – PCdoB, que são os coletivos que compõe o DCE hoje, não é uma mera disputa eleitoral ou picuinha fruto de uma discussão despolitizada. O PT e o PCdoB fazem parte da direção majoritária da UNE que historicamente atua como freio das mobilizações e como braço do governo dentro do movimento estudantil. Não é possível que a luta da UERJ seja realmente vitoriosa com uma direção que hoje faz parte das organizações políticas que são aliadas estadual e nacionalmente do PMDB que governa há anos o Estado do Rio de Janeiro.

O Picciani, que na votação da Alerj ignorou absolutamente as centenas de estudantes e servidores que estavam ali protestando contra os cortes, é o mesmo que em 2010 foi convidado de honra para o Congresso Estadual da União da Juventude Socialista (UJS - PCdoB) aqui no Rio. Dilma corta nacionalmente e Pezão aqui. A UNE que se diz aliada dos movimentos sociais não raro, posa para foto ao lado de figuras como a ministra motosserra, latifundiária Kátia Abreu e até ao lado de Eduardo Cunha.

Como confiar em partidos que dizem lutar pelas terceirizadas, mas que escondem que nos 13 anos de PT, a terceirização que atinge em sua maioria, negros e mulheres, tenha aumentando de 4 para 12 milhões? Como confiar num DCE que diz lutar contra a Reitoria, quando sempre foi aliado de Vieralves e que fez campanha para o atual Reitor Ruy Garcia? Para nós da Juventude Às Ruas, só de forma independente e varrendo das entidades estudantis estas correntes burocráticas e aliadas dos governos, que podemos avançar com um grande movimento contra os cortes do Governo que atingem a educação, a saúde e ataca os trabalhadores e a juventude.

A adaptação da esquerda frente ao governismo

Muitos setores da esquerda, como o coletivo RUA, não atuam dessa maneira. Na ocupação ficou claro para um amplo setor da vanguarda, como era nítido o acordão deste coletivo com o DCE, e raramente estes o criticaram, ou mostraram uma orientação de oposição. Era mais importante dirigir por cima, nos acordos, do que disputar as posições abertamente em assembleia. Não é à toa que a crítica ao DCE na nota de balanço deste coletivo, se resume a discussões táticas.

Esta posição está em consonância com a política nacional do RUA/ Insurgência- PSOL que faz junto com a UNE, CUT e demais setores ligados ao PT, parte da Frente do Povo Sem Medo, que no RIO vem se expressando como "Frente Pezão sem Medo", já que limita os potenciais do movimento. Com o discurso de se alinhar com o MTST, dizem lutar contra os ajustes numa frente com os próprios ajustadores. Na UERJ, no dia que o Reitor fechou a universidade, a Frente estava sendo lançada e na mesa os parlamentares do PSOL estavam junto com Lindbergh Faria do PT, envolvida na Lava Jato e denunciado, pelo próprio PSOL, como um dos 4 Cabrais na última eleição. É importante remarcar que as Brigadas Populares, que também estão na Frente também soltaram uma nota de balanço que em nada critica o DCE.

A desocupação e as novas perspectivas de luta no Estado

Consideramos muito importante o processo de mobilização que se deu na UERJ e que trouxe para luta centenas de novos estudantes. Mas não podemos deixar de criticar a narrativa de “grande vitória” acrítica que absolutamente todos os setores organizados defenderam para acabar com a ocupação e com a greve antes da votação da Alerj no dia 21/12.

O pagamento das bolsas de outubro e novembro foram feitos. No entanto, o Estado não faz mais que sua obrigação ao pagá-las, o que fizemos foi um movimento para garantir que isso fosse feito imediatamente. Quando realizávamos a última assembleia geral, o cenário era que muitas trabalhadoras que fizeram greve tiveram seus dias descontados. Os funcionários da manutenção seguem até hoje com salários e benefícios atrasados. Na Policlínica Piquet Carneiro, as bolsas e salários seguem atrasados até hoje. No bandejão naquele momento as terceirizadas também estavam sem receber.

Para nós este não é um detalhe, como todos trataram no dia da desocupação. É chave que o movimento estudantil encare a questão da terceirização como um dos problemas chaves da crise da UERJ e que precisa de respostas a altura, defendendo a incorporação dos terceirizados sem concurso. Manter a ocupação ou não era uma questão tática, mas a postura do ME estudantil frente a situação dos trabalhadores não pode ser tratada desta forma, assim como a reflexão da luta contra os cortes junto aos trabalhadores precisa avançar muito mais.

Não podemos deixar de citar como se deu a desocupação, quando os alunos garantiam o descadeiraço, fomos surpreendidos pelos oficiais de justiça e pela polícia, exigindo que nos retirássemos em menos de meia hora, impedindo que os estudantes pudessem entregar a universidade limpa e organizada. E pior foi ouvir da própria oficial de justiça de que o DCE já sabia daquilo desde a tarde, e não fizeram nada, colocando em risco vários estudantes. Enquanto os alunos estavam se retirando, já estava sendo divulgada a nota do DCE, embelezando sua atuação e falando da desocupação.

Iniciamos o ano com um aumento absurdo nos meios de transportes, que são reconhecidos por toda a população pela sua péssima qualidade e alto preço. Os hospitais estão matando mais e mais pessoas nas filas, fruto da falta de verba, de insumos, fruto das privatizações do PMDB pela via das OSS e dos escândalos de corrupção. O Rio de Janeiro que já sediou vários megaeventos mais uma vez vê os políticos investindo em obras que em nada melhoraram a qualidade de vida, enquanto, cortam dos direitos básicos como saúde e educação. Os salários dos servidores ainda não foram pagos e a 2° parcela do 13° também não. Não temos um dia que a polícia assassina não mate um jovem negro na favela e na baixada. Os políticos riem da nossa cara, enquanto despejam a crise econômica nas nossas costas.

O potencial da luta da UERJ tem que hoje servir de força para ganhar as ruas contra os aumentos das passagens, para que esta luta seja parte da luta em defesa da educação contra a privatização do HUPE e a precarização dos demais hospitais estaduais e universitários. Lutar em defesa dos milhares de terceirizados que têm seus direitos atacados, salários não pagos e estão na lista de cortes e demissões de Pezão. A luta da UERJ hoje deve se ligar a luta contra o aumento da passagem, defendendo a estatização do transporte público, sem indenização das empresas.

Somente uma juventude que se coloque uma perspectiva anticapitalista e revolucionária que lute para colocar o conhecimento produzido na universidade à serviço da classe trabalhadora e dos mais oprimidos, que busque se ligar aos trabalhadores, para juntos construímos um grande movimento contra os cortes e os ajustes, contra os empresários e governos que querem descarregar sobre as nossas costas esta crise. Nos inspirarmos pela luta dos secundaristas de SP que impuseram uma vitória sobre o governo do estado de SP em defesa da educação e que agora pode ir por mais, na luta contra o aumento da passagem. É preciso fazer como eles e derrotar os ajustes do PMDB.




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