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ALIANÇA OPERÁRIO ESTUDANTIL | Estudantes da Letras desocupam o prédio em medida de solidariedade aos trabalhadores

terça-feira 28 de junho de 2016 | Edição do dia

Desde que a greve de estudantes e trabalhadores da USP se iniciou há cerca de 1 mês atrás, as diretorias de unidade vinha ferindo o direito de greve cortando o ponto dos trabalhadores que aderiram à mobilização. Como resultado disso, vários trabalhadores ficaram sem sustento para suas famílias, uma situação de calamidade em uma universidade que ocupa os rankings internacionais de qualidade.
Não foi diferente na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), onde o director Sérgio Adorno, em acordo com as chefias de departamento, anunciou que mais uma vez o ponto seria cortado. Desde o início dessa pratica, os estudantes se solidarizaram com os trabalhadores compondo os piquetes e os atos que reivindicavam o pagamento dos dias parados. Na tarde de sexta-feira (24/06), a diretoria da FFLCH recebeu os trabalhadores para uma negociação e dirigiu-se aos estudantes presentes comunicando que, caso a ocupação do prédio de Letras cessasse, pagariam os pontos cortados.
Na manhã dessa segunda-feira os estudantes reunidos em assembleia mostraram que se depender deles, os trabalhadores jamais ficarão sem salário e decidiram pela manutenção da greve, da suspensão de aulas e a exigida desocupação do prédio. Essa medida se soma as muitas iniciativas de aliança operária-estudantil que esses estudantes já tiveram é que se mostra como uma das principais fortalezas da greve, perpassando cursos como Medicina, Enfermagem, Biologia, entre outros.
Segue abaixo a nota da assembleia de estudantes.

• Termina a ocupação da Letras, nossa greve continua forte em aliança com os trabalhadores •

Na manhã desta segunda-feira, após um mês e meio, desocupamos o prédio da Letras, um importante método que utilizamos com sucesso para levar à frente a nossa greve em defesa das condições de estudo e trabalho dentro da USP, pela contratação dos professores para que possamos estudar, pela permanência do hospital e pelas cotas raciais já para abrir a universidade à juventude negra e indígena. Nossa ocupação se deu, inspirada nos secundaristas, e incendiou a USP, impulsionando outras ocupações e sendo referência pra uma das greves mais fortes dos últimos anos na Universidade. Como parte do movimento estadual em defesa da educação e da saúde, junto à UNESP e UNICAMP, inspiramos inclusive estudantes de universidades Brasil a fora que ocuparam e mandaram o recado de agradecimento a nós, como a UNIPAMPA.

Na sexta feira, como informado a todos, a Diretoria da FFLCH e os professores chefes de departamento, em reunião de negociação com os funcionários da faculdade, exigiu como condição para que não se efetivasse o corte de salário a desobstrução de todos os prédios da FFLCH, incluindo o prédio de Letras, ocupado pelos estudantes. A manutenção dos salários é um ponto determinante para que a nossa greve unificada possa seguir forte, é a garantia do direito de greve daqueles que tem a perder o sustento de suas famílias. Por isso, chamamos em caráter de urgência uma assembleia para essa manhã, de maneira a dar conta do prazo estipulado de que desocupássemos até 10h, que escancarou a intransigência e desrespeito da direção com a organização estudantil da Letras que possui curso e assembleias noturnas.

Durante a realização da nossa assembleia, fomos surpreendidos com uma chantagem de que qualquer método usado para impedir às aulas levaria ao corte dos salários, uma clara medida para tentar usar os funcionários para encerrar a greve estudantil. Fomos firmes em que não aceitaríamos, e recebemos um ato de mais de cem trabalhadores da FFLCH vindo nos apoiar. Fomos à diretoria exigir que se mantivessem os termos do acordo anterior, e conseguimos uma reunião com o Diretor Prof Sérgio Adorno. Nessa reunião chegamos à seguinte proposta de acordo:
1) Garantia do recebimento dos salários dos funcionários frente à desobstrução do acesso externo a todos os prédios da FFLCH.
2) Estando o prédio em ordem no ato da desocupação, a diretoria da FFLCH se compromete a não punir de qualquer forma os estudantes da Letras.
3) Reunião de negociação entre estudantes e a diretoria da faculdade na sexta-feira, 01/07, às 9h30, para negociarmos as reivindicações estudantis.
4) Até a negociação não haverá obstrução em qualquer parte do prédio com a condição de que os professores, acatando a orientação que a própria CILE divulgará para conhecimento de todos, não realizem nenhuma atividade acadêmica e didática, tais como aulas, provas, entrega de trabalhos, etc, de maneira a não ferir o direito de greve das três categorias.

A proposta feita pela diretoria foi aprovada na assembleia dos estudantes da Letras, confirmando nossa disposição permanente de diálogo, assim como a desocupação do prédio. A manutenção da greve com outros métodos, também foi aprovada mostrando que ainda temos muita disposição de luta e não abandonamos os estudantes que se mobilizam por toda a universidade, nem os professores e funcionários. A vistoria da Letras foi feita com estudantes, professores e funcionários e foi constatado que o prédio está em perfeitas condições, garantindo, como colocado no acordo, que nenhum estudante sofrerá qualquer tipo de punição. As salas estão desobstruídas em cumprimento ao acordo de que não haverá, por orientação das chefias de departamento, qualquer atividade acadêmica.

Nós estudantes da Letras seguimos em greve, e com toda força. A disposição de desocupar o prédio para garantir que o sustento de dezenas de famílias não fosse afetado firma a aliança fundamental que estamos construindo desde o início da greve com os trabalhadores. Mostramos que, para nós, a luta em defesa da educação e da saúde públicas só pode ser vitoriosa se houver unidade real entre as categorias, e que somos fortes quando estamos juntos. Alcançamos a abertura de diálogo pela qual tanto batalhamos há um mês e meio com os professores, e iniciamos um processo de negociação de nossas pautas em forte unidade com os funcionários e professores em greve. Na manhã dessa segunda-feira, demos um passo a frente, e chamamos cada estudante a seguir a mobilização até conquistarmos nossas pautas, unificadas com a greve geral. Não tem arrego, o HU é nosso e do povo, a USP não será desmontada e a juventude negra vai ter acesso à educação!

Assembleia de estudantes da Letras
Comando de Greve da Letras
Centro Acadêmico de Estudos Linguísticos e Literários

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• Pautas estudantis para negociação com a Diretoria da FFLCH

1. Nenhuma punição aos estudantes grevistas

  •  nenhum processo administrativo ou criminal
  •  reposição integral das aulas e trabalhos
  •  não cancelamento do semestre em qualquer hipótese

    2. Que a Diretoria se posicione favorável à:

  •  Cotas Raciais pela fuvest na graduação e pós-graduação
  •  Abertura de contratação imediata de professores, com RDIPD e gatilho automático, com o número mínimo de 22 professores para a Faculdade de Letras.
  •  Devolução dos blocos K e L para permanência estudantil e reabertura das vagas nas creches.
  •  Que a Reitoria cumpra o acordo com a Ocupa SAS efetivando a comissão autônoma para apurar os casos de violência às mulheres na moradia.
  •  Nenhum corte de salário aos funcionários grevistas da universidade.

    3. Espaço Estudantil da Letras

  •  Que a reforma do espaço estudantil da Letras proposta pelo Diretor Sérgio Adorno seja concluída no prazo máximo de uma semana antes do início do segundo semestre letivo.
  •  Que a reforma seja acompanhada por uma comissão composta por professores, funcionários e uma maioria de estudantes que determinem o andamento dos trabalhos.

    4. Que a FFLCH aprove 30% de suas vagas para o SISU, sendo integralmente para PPI e sem pontuação mínima.

    5. Compromisso de diálogo

  •  Que entre no calendário oficial da Faculdade de Letras uma plenária bimestral entre os três setores. Totalizando quatro anuais. Sendo a primeira realizada até duas semanas após a desocupação.
  •  Que os posicionamentos estudantis possam ser encaminhados a lista geral de emails, através do CAELL, efetivamente.

    6. Que o diretor da FFLCH, durante sua permanência na função, garanta votar no CO segundo as posições da Congregação desta Faculdade: Favorável às cotas raciais e contra a desvinculação do Hospital Universitário.

    Assembleia de estudantes da Letras
    Comando de Greve da Letras
    Centro Acadêmico de Estudos Linguísticos e Literários




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