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UNESP | Estudante da Unesp de Rio Preto é denunciado por queimar cabelo de ingressante com maçarico

Estudante da Unesp foi acusado de causar queimaduras em um aluno ingressante ao usar um maçarico para cortar o seu cabelo. O trote ocorreu durante uma festa de recepção aos ingressantes fora do campus.

quarta-feira 26 de abril de 2017 | Edição do dia

Em todo início de ano letivo nas universidades públicas e privadas do país é importante se debruçar sobre a discussão do trote universitário, uma vez que ele envolve toda a comunidade acadêmica, principalmente o que diz respeito as supostas práticas de “integração” e que remetem a continuidade da “tradição universitária”, imposta pelos estudantes mais velhos, os ditos “veteranos”, sobre os estudantes ingressantes, os ditos “calouros” ou “bixos/bixetes”.

No mês de março, um estudante de matemática da Unesp de São José do Rio Preto, campus Ibilce, foi acusado de causar queimaduras em um aluno ingressante ao usar um maçarico para cortar o seu cabelo. A direção da Unesp confirmou a abertura do processo de sindicância e informou que o trote violento ocorreu durante uma festa de recepção aos estudantes fora do campus.

As práticas do trote universitário supostamente têm como objetivo integrar os recém-chegados, mas na prática acabam por dividir os estudantes. Além disso, remontam a tradição elitista do ensino superior brasileiro, pois a ideia de que os estudantes ingressantes são “bixos/bixetes” que estão abaixo dos estudantes “veteranos”, e por estes devem ser adestrados, reafirmam a lógica da estrutura de poder da universidade, das relações hierárquicas e da sociedade capitalista: quem está acima ordena, quem está abaixo obedece e se cala. Encobertas pelo discurso do “ritual de passagem” do vestibular – que na realidade age como um filtro social para estudantes filhos da classe trabalhadora e de origem pobre –, muitos estudantes reproduzem práticas violentas, opressoras e constrangedoras; ações que reforçam a naturalização da violência e das opressões misóginas, racistas, lgbtfóbicas e gordofóbicas.

É importante ressaltar que as “gradações” dos trotes em leves, moderados e violentos, utilizados pelos veteranos como argumento para convencimento do trote, muitas vezes negligenciam e reduzem um amplo conceito de violências físicas, desconsiderando também as várias formas de violências simbólicas e psicológicas que podem causar danos iguais ou até piores às vítimas que recebem o trote, por se tratarem de práticas essencialmente constrangedoras e de ridicularização. Além disso a universidade, que possui uma estrutura antidemocrática, onde os professores, que são minoria, têm um peso de 70% nas eleições para direção, reitoria, órgãos colegiados e decisões no geral; e trabalhadores e estudantes que correspondem a maioria da universidade têm o peso de 15% cada categoria, o famoso 70% - 15% - 15%, responsável por reproduzir e legitimar as opressões, também criminaliza as ações políticas que questionam a ordem vigente.

Na próxima semana, a diretoria do Ibilce vai se reunir para discutir o processo de sindicância e ouvir o depoimento do estudante acusado, a vítima e testemunhas. Após a apuração da investigação, o estudante acusado pode ser suspenso ou até expulso da universidade. Entretanto, não podemos nos enganar: historicamente a Unesp se omite diante dessas denúncias, como foi o caso de estupro na Unesp de Botucatu que veio a público no ano de 2014 e, entretanto, tudo o que a reitora em exercício na época fez foi soltar uma nota online se posicionando contra a prática, sem tomar nenhuma medida efetiva. Por outro lado, estudantes que promoveram um festival se posicionando contra o “rodeio das gordas”, prática extremamente machista e gordofóbica ocorrida no Interunesp de 2011, levaram três meses de suspensão por decisão do reitor.

Dessa maneira, é importante a construção de recepções e espaços de integração todos os anos entre os estudantes, onde não se perpetue as opressões como o machismo e a cultura do estupro, a gordofobia, o racismo e a lgbtfobia, e outras formas práticas de violência contra os estudantes, além de levantar reflexões e o combate contra todas as formas de opressão e a estrutura de poder presentes na universidade pública.




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