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INTERNACIONAL | Estados Unidos: 6,6 milhões ficam desempregados em uma semana

À medida que o desemprego dispara, a classe trabalhadora caminha para um desastre econômico sem precedentes. Tempos inéditos como estes requerem ações inéditas.

sexta-feira 3 de abril de 2020 | Edição do dia

Os últimos índices foram anunciados e indicaram que dobrou a taxa de novas solicitações de seguro-desemprego nos EUA. Há uma semana, veio à luz que as mesmas solicitações já haviam aumentado em 3,3 milhões no período de sete dias. Os novos números publicados hoje mostram que 6,6 novas solicitações foram apresentadas durante a semana passada, totalizando quase dez milhões em apenas 14 dias. Enquanto isso, chegam informações de estados em todo país de filas impossíveis em escritórios e sites de vagas de emprego, pois muitas pessoas solicitam o serviço de uma vez só. Apesar destes números apenas incluírem os casos de solicitação de compensação por desemprego, e dos prováveis milhões de trabalhadores sem documentação que agora estão desempregados não serem contemplados pelo seguro estatal, mostram um claro indício de que a taxa de desemprego aumentou exponencialmente desde o começo da pandemia do coronavírus. Estes índices, além de altíssimos, são assombrosos! De fato, representam a maior e mais agressiva perda de empregos vista nos EUA desde a Grande Depressão. Como comparação, neste país um total de 12 milhões de empregos foram perdidos entre 1930 e 1932. Está claro que, a menos que algo seja feito, as consequências econômicas serão drásticas e golpearão sobretudo os trabalhadores. Desta vez, não podemos deixar que os capitalistas descarreguem a crise sobre nossas costas.

Seria tentador considerar estes números como mero fruto da natureza (as fábricas e lojas fechadas conduzem naturalmente ao aumento do desemprego, certo?), mas esta conclusão simples, como qualquer marxista diria, mascara um sistema de exploração muito mais profundo e traiçoeiro. Para a maioria dos patrões, a mão de obra é apenas mais uma mercadoria que se compra e vende sem se considerar a necessidade ou o sofrimento humanos. Quando a economia funciona bem, o capital obtém benefícios explorando o trabalho dos trabalhadores; quando os tempos são difíceis, em momentos de crise, são capazes de cortar custos e economizar dinheiro deixando estes mesmos trabalhadores na rua.

Em nenhuma sociedade anterior à capitalista foi tão claro e amplamente aceito o desprezo generalizado pelo direito de se participar da produção compartilhada. No entanto, isto obviamente não é um acidente, mas um objetivo intencional. Mantendo os trabalhadores na precariedade, fingindo que são colaboradores livres, comprometidos voluntariamente com a venda de seu tempo e energia (sua força de trabalho), eliminando qualquer estabilidade ou garantia do necessário para uma vida digna, o capitalismo se assegura que sempre exista o que Marx caracterizou como uma vasto exército de reserva da mão de obra, disposto a trabalhar mais por salários menores. E, obviamente, assim também é com o capital que divide a classe operária. Criando uma enorme subclasse de trabalhadores desesperados, hostis com aqueles que têm a sorte de um emprego decente ou estável, e todo um grupo de trabalhadores aterrorizados com a possibilidade do desemprego, os proprietários podem ser bem sucedidos em não apenas reduzir os salários e aumentar a produção, como também minar mais facilmente as lutas coletivas e greves. Em outras palavras, no capitalismo, aconteça o que for, o capital ganha e os trabalhadores perdem.

Porém, não há razão para se viver desta forma ou aceitar essas condições. O dinheiro para pagar os trabalhadores existe. Os recursos para enfrentar esta crise são suficientes para que todos, exceto os trabalhadores das áreas mais essenciais, fiquem em suas casas para derrotar este vírus, e a necessidade de produzir materiais e bens essenciais é suficiente para proporcionar horas de trabalho para todos que necessitem de emprego. Por isso, León Trotsky propôs em 1939, quando o mundo estava à beira de uma outra crise global, a distribuição igualitária das horas de trabalho entre todos os trabalhadores desempregados ou não, sem redução de salários e com aumentos proporcionais à inflação. Tal reforma resolveria a crise do desemprego. Se o capitalismo não está disposto ou não é capaz de dar estes passos mínimos para proporcionar condições dignas de vida aos que fazem o mundo funcionar, bem, não merece sobreviver a esta crise.

É quase uma certeza que as semanas e meses que estão por vir, sobretudo nos Estados Unidos, serão ruins e se enganam os que pensam que voltaremos à normalidade. A oportunidade de frear a propagação do vírus já se foi, e até as estimativas mais conservadoras sugerem que pode haver mais de 200.000 mortes somente nos EUA. Estas mortes são uma catástrofe sem paliativos (resultado da negligência criminosa dos governos e empresários), mas as consequências econômicas que certamente gerarão não terão precedentes. É urgente que os trabalhadores que ainda estão empregados usem sua influência (em seus locais de trabalho e em seus sindicatos) para obrigar os patrões a pagarem os que estão desempregados ou não possuem condições para trabalhar, e exigir que toda a produção não essencial se volte à produção de bens e serviços essenciais necessários para enfrentar a crise. Da mesma forma, devem ser formados comitês de desempregados para coordenar as demandas de trabalho e auxílio, e fomentar a coordenação entre os que estão fora de seus locais de trabalho e os que seguem empregados. Apenas nos unindo e defendendo as necessidades do conjunto da classe poderemos evitar a catástrofe para a qual estamos rapidamente caminhando.




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