×

Esquerda Diário entrevista Gonzalo Rojas no IX EPMARX

quarta-feira 29 de novembro de 2017 | 14:20

O Esquerda Diário realizou esta entrevista durante a IX edição do Encontro de Estudos e Pesquisas Marxistas que aconteceu em Recife nos dias 21, 22 e 23 de Novembro. Gonzalo Rojas é professor da Universidade Federal de Campina Grande e um dos organizadores do EPMARX, além de idealizador do Grupo Práxis (Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Estado e Luta de Classes na América Latina - UFCG/CNPq) e militante do MRT.

Você poderia falar um pouco sobre a IX edição do EPMARX aqui no Recife e sua importância?

Gonzalo Rojas: O EPMARX é o mais importante encontro de pesquisas marxistas do Nordeste, construído pelos grupos de pesquisas marxistas daqui. Desta vez se fez aqui na UFPE. Nesta edição, contou com uma grande participação de estudantes jovens, de cursos de graduação. Qual a característica que faz o EPMARX diferente dos outros eventos sobre o marxismo? É que na verdade são pesquisadores que em geral utilizam a teoria mais vinculada de uma práxis. Deste ponto de vista nós brincamos um pouco e falamos que não somos marxistas ocidentais, do ponto de vista que falaria Perry Anderson, nossa preocupação é elaborar teoria, utilizar categorias marxistas para análises, mas para uma melhor intervenção na luta de classes, esse é o nosso esforço fundamental, do Práxis, grupo do qual faço parte. Não é apenas um evento acadêmico, de debate de teoria, mas está preocupado com a prática e com a política, com estratégia.

E este ano o evento teve como tema a atualidade da Revolução Russa, a comemoração dos seus 100 anos. Qual a importância que você vê em debater este tema e resgatar as principais lições e a atualidade da Revolução Russa hoje?

Gonzalo Rojas: A questão central é essa: fazer uma análise da Revolução Russa, mas não para ficar no debate historiográfico, mas sim para pensar quais lições a gente pode tirar para uma melhor intervenção na luta de classes, no futuro e pegar o legado político mais profundo em termos de estratégia e tática da mesma. Para nós é importante entender que a Revolução Russa foi um processo político importantíssimo, no qual precisamos entender os diferentes momentos e para qual a periodização é muito importante, em torno dela existe um debate estratégico que foi feito pelos bolcheviques, que ajuda a entender como é preciso lutar pelo poder político e pensar uma estratégia para vencer. Isso para nós é bem importante. Importante diferenciar a estratégia bolchevique no debate de tendências, tanto por fora do Partido Bolchevique mas mesmo as discussões feitas por Lênin no interior do Partido Bolchevique são fundamental para nós. Porque dependendo da interpretação que se faz da Revolução Russa é diferente a estratégia política e a atualidade que se expressa. Para nós o que é mais importante é que a Revolução Russa recoloca como fala Trotski nas Lições de Outubro, é a questão da estratégia, no movimento operário internacional e nos partidos políticos. E a importância da construção do partido revolucionário, não só no Brasil, como seria o MRT, mas em todo o mundo.

Neste sentido também é um objetivo resgatar as verdadeiras lições do processo revolucionário de 1917, da Revolução de 1917, em contraposição à catástrofe que aconteceu com o período stalinista posterior?

Gonzalo Rojas: Sim, claramente. A gente pega dois debates fundamentais: primeiro desmistificar um conjunto de mentiras construídas pela direita. Mas também existe uma posição no interior do marxismo que tem que ser criticada implacavelmente, a contra-revolução burocrática stalinista. Esta fez todo o contrário ao que fizeram os bolcheviques. E acabam colocando o stalinismo como um processo político, que deve ser visto não somente como uma crítica moral, personalista como nos querem fazer acreditar os velhos integrantes do PCB, dos partidos comunistas. Então neste sentido, qualquer resgate que a gente faça, do legado da Revolução Russa, do comunismo como projeto político estratégico tem que acabar com qualquer resquício stalinista na esquerda que aparece de diferentes formas, por diferentes lugares, porque faz parte da tradição política da esquerda. Desde o trotskismo tentamos colocar uma visão ofensiva do marxismo e essa visão ofensiva tem relação com as lições e sem dúvida com a crítica ao stalinismo.

E por fim, qual a importância de retomar estas lições da Revolução Russa e a perspectiva do marxismo revolucionário no Brasil, em um contexto de um país pós golpe institucional, e com tantos ataques do governo Temer, contra as reformas trabalhista e agora da previdência, etc?

Gonzalo Rojas: Sim, para nós é fundamental, a gente fala do legado das lições da Revolução Russa. Mas é muito mais que isso, são as lições da Revolução Russa e as lições dos primeiros congressos da Internacional Comunista. Isso é central, porque conjuntura, como falava Lênin, é a análise concreta da situação concreta, com a relação de forças que existe entre as classes e frações de classe. Hoje na conjuntura brasileira vivemos uma situação política reacionária, que não é fascista. Deste ponto de vista, o legado em termos estratégicos é a ideia de frente única proletária que é um conceito central e que é mal interpretado em geral pela maioria das correntes de esquerda. É um conceito leninista-trotskista que tem relação com a unidade de ação, frente aos ataques do governo Temer, com a Reforma Trabalhista e a Reforma da Previdência e ademais, como um aspecto inicialmente defensivo neste contexto, mas essa frente única tem que ter objetivos estratégicos que permitam uma intervenção política independente por parte das organizações revolucionárias para poder em algum momento sair desta defensiva, para nós é central esta ideia de frente única operária, ainda mais neste contexto no Brasil. Inicialmente tendo uma frente única proletária defensiva mas com uma estratégia política que não fique limitada à defensiva é um pouco do que pretende fazer e o Esquerda Diário, batalhar neste sentido.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias