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EM DEFESA DA EDUCAÇÃO | Escola sem partido: verdadeiro ou falso?

quarta-feira 10 de agosto de 2016 | Edição do dia

O filósofo iluminista Condorcet afirmou: “a verdadeira educação faz cidadãos indóceis e difíceis de governar”. Faço questão de iniciar com a observação feita pelo pensador do século 18, já que ainda há pessoas cuja crença numa escola formal, acrítica e pragmática deve conduzir a formação da criança, do adolescente e do jovem de modo neutro e imparcial sem que ideologias perniciosas possam comprometer a sua orientação intelectual.

É notório que nos últimos anos tem havido uma grande onda neoliberal empreendedorista nas escolas públicas e particulares objetivando conduzir toda uma geração a enxergar o mundo por um viés produtivista e consumista calcado na meritocracia como pano de fundo para o sucesso e a realização pessoal numa sociedade altamente competitiva. Isto é, só é possível prosperar aquele que está capacitado e qualificado dentro de uma lógica da livre concorrência. Portanto, quem não se ajusta a esta concepção não terá a menor chance de ingressar no mercado de trabalho.

Esse discurso unilateral tem prevalecido nas instituições de ensino com muita eficiência, não obstante ocorram discursos dissonantes que acreditam no método dialético como um meio didático-pedagógico de enriquecer a compreensão das contradições históricas que tanto caracterizam a condição humana.

Diante dos argumentos citados, fica aqui uma pergunta que não quer calar: quando as instituições de ensino optam pela ideologia neoliberal está havendo neutralidade? Não é de se espantar que esteja tramitando em várias casas legislativas, dentre as quais a de São José, o projeto de lei programa Escola sem Partido. É compreensível, não aceitável, que tal iniciativa de deputados e vereadores esteja em curso, considerando que partem do pressuposto de que a população e também profissionais da educação estão despolitizados de tal modo que a matéria em questão será aprovada.

Afinal, é muito positivo um ensino desprovido de segundas intenções. Entretanto, vale essaltar que a sociedade é constituída de pluralidade cultural e que a diversidade política é uma condicionante das relações sociais. A democracia como um bem da humanidade exige pessoas dotadas de senso crítico para que as suas escolhas sejam lúcidas e conscientes diante dos desafios cotidianos. É reprovável que legisladores, em se aproveitando de momento politicamente tão frágil pelo qual passamos, tomem iniciativas tão comprometedoras e nocivas a título de resgatar a qualidade de ensino. Insisto afirmar que a educação somente tem sentido de existir quando passa a ser um grande fórum de reflexão da vida. Tornou-se emergencial, diante dos gravíssimos problemas que nos afetam, agora mais do que nunca, o debate de ideias em qualquer área do conhecimento para que as gerações atuais e as próximas tenham condições de criar com sensibilidade, inteligência e imaginação oportunidades reais, concretas e objetivas de construir uma sociedade mais justa, igualitária e fraterna.

Embora boa parte da classe política subestime o poder de mobilização dos cidadãos, é certo que professores, estudantes, pais e todos aqueles que vislumbram a educação como mais um componente de transformação das condutas humanas sairão às ruas exigindo a retirada imediata do programa Escola sem Partido para que se cumpra a liberdade de cátedra inserida na constituição de 1988. Como disse o pensador Horkheimer: “a crítica é a emancipação dos seres humanos das circunstâncias que os escravizam”.




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