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Esboços para uma ecologia em Trotski: por uma vida que valha a pena ser vivida

Rosa Linh

Ilustração: Juan Chirioca | @macacodosul

Esboços para uma ecologia em Trotski: por uma vida que valha a pena ser vivida

Rosa Linh

O marxismo é uma ciência viva, um instrumento histórico da luta revolucionária do proletariado. Nessa medida, procuro examinar brevemente uma de suas facetas menos comentadas, uma visão marxista sobre a ecologia, sob a perspectiva do revolucionário dirigente da Revolução de outubro e do Exército Vermelho - Leon Trótski.

O IPCC lançou um novo relatório sobre o impacto das mudanças climáticas recentemente e seu resultado não poderia ser outro sob o capitalismo: a influência humana (burguesa, é sempre bom colocar) é inequívoca e inquestionável. Já são 1,07ºC de aumento da temperatura global, com indicativos de que seu impacto, se não combatido a tempo, resultará em aumentos de 1,5 até 2ºC ainda neste século. As novas variantes da COVID, as ondas de calor no Canadá, EUA, Europa, bem como eventos extremos no geral, como o terremoto e ciclone que atingiu a América Central nos últimos dias, são cada vez mais frequentes.

Reatualiza-se como nunca o debate necessário dentro da esquerda socialista sobre qual estratégia para derrubar o capitalismo e superar a crise ambiental e climática.

Nesse sentido, muito se fala sobre as confluências (ou não) entre marxismo e ecologia. São vários os autores, marxistas ou não, que procuram debater a partir do pensamento vivo do marxismo a questão ambiental. Exemplo disso são os pensadores marxistas John Bellamy Foster, Kohei Saito, James O’ Connor - dedicados a estudar ecologia e marxismo e o ecossocialismo - ou mesmo os ilustres cientistas Richard Lewontin e Richard Levin - que aplicaram as leis da dialética materialista às ciências naturais, em especial a biologia. No entanto, quase nenhuma palavra se escuta sobre quais teriam sido (ou não) as contribuições do revolucionário Leon Trótski.

Isso não é trivial. Trotski dirigiu a Revolução de Outubro de 1917 junto de Lenin e foi o mais destacado general do Exército Vermelho; junto da Oposição de Esquerda defendeu o leninismo, a estratégia soviética e a revolução internacional contra as deturpações da burocracia reacionária stalinista, responsáveis pela traição e desvio de todos os processos revolucionários a nível mundial e o assassinato de praticamente todo o Comitê Central de Outubro - a exceção, é claro, de Stálin. Trótski e a Oposição foi a única a apontar uma visão anticapitalista de combate ao fascismo e ao imperialismo “democrático”, bem como uma alternativa à burocracia termidoriana de Stálin e sua tese retrógrada do “socialismo em um só país”.

No entanto, mesmo aqueles que se reivindicam trotskistas, por vezes, recaem em erros importantes quando o assunto é ecologia e marxismo. Por um lado, temos aqueles que “constroem” seitas estéreis lendo Trótski como se fosse um dogma religioso inerte e sem vida, no qual não encontraremos nenhuma necessidade de diálogo com a ecologia; por outro, temos aqueles que relativizam, mutilam e revisam o fundamental do marxismo, da necessária imbricação entre a crítica da economia política e a filosofia da natureza. Um desses desvios é a concepção de Michel Löwy, militante do Secretariado Unificado mandelista e auto-intitulada IV Internacional - para ele, o marxismo é "produtivista" e, portanto, precisamos de um “ecossocialismo”, distinto do que havia sido na URSS sob Stálin, mas por fora de considerar o legado soviético, sufocado pelo stalinismo, do marxismo e suas implicações hoje para a ecologia. Na contramão dessa discussão e em direção a reconstruir, mesmo que brevemente, as contribuições de Trótski e os trotskistas para uma ecologia anticapitalista, é que escrevo essas linhas.

Leia mais: O marxismo é produtivista? Debate com o ecossocialismo de Michael Löwy (Parte I)

Dialética, ciência e marxismo

O marxismo é uma ciência viva. Poderia me arriscar a defini-la como uma espécie de instrumento da luta revolucionária do proletariado. Nessa medida, seu conteúdo fundamental, sua estratégia, não mudam; mas da mesma maneira como a matéria vive em constante mudança, os revolucionários precisam responder a diferentes fenômenos no transcorrer da evolução das contradições da sociedade humana. A questão ambiental inegavelmente é uma delas.

É razoável dizer que o movimento ambientalista que conhecemos hoje tomou corpo, sobretudo, a partir dos anos 60. Mas, bebendo da tradição dos revolucionários comunistas, a filosofia da natureza e o materialismo histórico dialético, Trótski nos deixou importantes contribuições para pensar o movimento ambiental hoje.

Chamamos “materialista” a nossa dialética porque suas raízes não estão no céu, nem nas profundezas do “livre-arbítrio”, senão na realidade objetiva, na natureza. A consciência surgiu do inconsciente, a psicologia da fisiologia, o mundo orgânico do inorgânico, o sistema solar das nebulosas. Em todos os graus dessa escala de desenvolvimento, as mudanças quantitativas se transformaram em qualitativas. Nosso pensamento, inclusive o pensamento dialético, é apenas uma das formas de expressão da matéria mutável (...) 1

Trótski nunca viu a dialética materialista separada da filosofia da natureza marxista, da mesma forma que Marx e Engels. Em O Capital, Livro I, Marx desenvolve acerca do “metabolismo” entre a sociedade e o restante da natureza, partindo de reconhecer que os seres humanos são componentes orgânicos da natureza e, como qualquer outra espécie, vivem em trocas fisiológicas com o meio em que vivem. A diferença fundamental entre os seres humanos e as demais espécies, para Marx, é o trabalho. Ele diz:

Antes de tudo, o trabalho é um processo em que participam os homens e a natureza (...) em que o ser humano, com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza. Defronta-se com a natureza como uma de suas forças. Põe em movimento as forças naturais do seu corpo – braços e pernas, cabeça e mãos –, a fim de apropriar-se dos recursos da natureza, imprimindo-lhes forma útil à vida humana.’ 2

Ou seja, a própria existência humana e da sociedade se baseia no fato de que os seres humanos são fruto da natureza. A dialética é a ciência que estuda o movimento da matéria, logo, a base de como se entende a natureza, mas também os seres humanos e sua relação com ela. A diferença de um mamífero superior para um humano reside em outro fato, mas que é diretamente tributário a este: nossa espécie, conforme um complexo processo evolutivo, tornou-se capaz de trabalhar – isto é, pensar e reproduzir estruturas complexas a partir da modificação do meio natural. Essa é a base da filosofia da natureza no método marxista. Vejamos para Trótski:

O darwinismo, que explicou a evolução das espécies mediante a conversão de mudanças quantitativas em qualitativas, foi o maior triunfo da dialética no campo da matéria orgânica. Outro grande triunfo foi a descoberta da tabela de pesos atômicos dos elementos químicos e, posteriormente, dos processos de transformação de um elemento em outro. (...) A estas transformações (de espécie, de elementos, etc.) está intimamente ligada à questão da classificação, tão importante nas ciências naturais como nas sociais. O sistema de Lineu (século XVIII), utilizando como seu ponto de partida a imutabilidade das espécies, limitava-se à descrição e classificação das plantas segundo suas características externas. O período infantil da botânica é análogo ao período infantil da lógica, uma vez que as formas do nosso pensamento evoluem como tudo que vive. Apenas o rechaço decisivo da ideia de espécies fixas, somente o estudo da história da evolução das plantas e de sua anatomia prepara as bases para uma classificação realmente científica. 3

O dirigente do Exército Vermelho foi um ávido defensor da liberdade científica e, além disso, foi capaz de expor com maestria a ligação da ciência com o desenvolvimento do ser humano. Essa concepção é totalmente tributária da crítica da economia política de Marx. Voltemos à questão do trabalho. As abelhas constroem colmeias, estruturas complexas e magníficas. Contudo, não são capazes de planejar e arquitetar uma colmeia diferente das que seu instinto aponta. Isso é radicalmente diferente para os seres humanos. Perceba que, ademais, o trabalho do qual falo só pode ser gestado por sermos animais sociais – visto que as relações de modificação da natureza no caso de nossa espécie se desenvolveram para suprir necessidades dos grupos humanos – assim como com as abelhas – o trabalho teria sido impossível de existir a partir de humanos isolados, individualmente. Com o desenvolvimento das pressões evolutivas e mediante as condições materiais nas quais elas incidiram, o ser humano foi capaz de desenvolver o trabalho socialmente: é impossível pensar a sociedade humana sem o trabalho – e não é possível falar de trabalho sem partir de uma necessária relação com o meio natural. Essa concepção profundamente dialética, de compreender os saltos qualitativos e a mudança material é a mesma com a qual Trótski se baseia para discorrer sobre as ciências naturais.

A questão é que, com o surgimento da sociedade de classes a partir da produção de excedente da produção, concomitante ao nascimento do Estado, da família e da propriedade privada – esse metabolismo homem x natureza se torna uma relação predatória. Além disso, o capitalismo desenvolveu um diferencial: a acumulação primitiva de capital, isto é, o roubo, a pilhagem e a expropriação sistemática para acúmulo e geração de excedentes. Essa foi a gênese do capital, que com a acumulação primitiva e o processo de criação do capital e do trabalho assalariado, ou seja, a pilhagem, etc., não só geram excedente como também separam os produtores diretos dos meios de produção, forçando-os a terem de vender sua força de trabalho para sobreviver. Uma das características do capitalismo para continuar produzindo riquezas, uma vez criadas essas condições, é a necessidade do capital de uma constante reprodução ampliada. A reprodução do capital precisa ser infinita – mesmo que os recursos naturais e o conjunto do meio-ambiente não estejam em consonância com esses planos.

Essa concepção aponta para duas conclusões fundamentais. Primeiro, é que apenas partindo de uma análise materialista e dialética da relação do homem com a natureza pode-se chegar até a constatação de que o capitalismo não pode solucionar a crise climática e ambiental. A segunda, é que tanto Trótski como Marx e Engels confluíram, tanto filosófica como politicamente, mediante as mesmas bases e em direção a uma mesma política.

Marx que, ao contrário de Darwin, era conscientemente dialético, descobriu as bases para a classificação científica das sociedades humanas no desenvolvimento das suas forças produtivas e na estrutura de suas relações de propriedade, que constituem a anatomia da sociedade. O marxismo substituiu a classificação vulgar das sociedades e dos Estados, que ainda hoje floresce em nossas universidades, por uma classificação materialista dialética. 4

Alguém que veio a entender que a evolução ocorre por meio da luta de forças antagônicas; que um lento acúmulo de mudanças acaba quebrando a velha casca e produz uma catástrofe, uma revolução; aquele que aprendeu a aplicar as leis da evolução ao seu próprio pensamento, esse é um dialético, algo completamente diferente dos evolucionistas vulgares. 5

Essa concepção é integralmente herdeira dos revolucionários que o precederam. Marx e Engels foram pioneiros no desenvolvimento de uma filosofia que fosse, antes de tudo, concebida para transformar e não apenas interpretar o mundo. Trótski e os bolcheviques a aperfeiçoaram e, mais do que tudo, fizeram-na triunfar. A visão em relação a natureza faz parte de uma totalidade, tanto com a política como com a ecologia. É o que demonstrarei agora.

A estratégia revolucionária é fundamental a uma ecologia anticapitalista

Diante do apontado acima, um elemento precisa ser destacado: a filosofia da natureza, o pensamento dialético e o próprio marxismo precisam ser guias revolucionários para a libertação do proletariado e dos oprimidos de toda exploração e opressão.

E justamente nisso reside o mais concreto e fundamental do legado trotskista para os dias atuais, a estratégia revolucionária. Poderíamos definir estratégia como a arte de reunir os combates isolados, as táticas, até um fim determinado - a revolução. Dos vivos debates, que perpassou as I e II Internacional, os bolcheviques, e em especial Trótski, extraíram o mais avançado arsenal revolucionário com os quatro primeiros congressos da III internacional, bem como a teoria da revolução permanente (TRP) e o programa de transição.

A TRP estabelece que as tarefas democráticas nos países atrasados só poderiam ser levadas até o final pelo proletariado - não a burguesia nacional ou setores intermediários como o campesinato. Já o Programa de Transição dava as bases para articular as demandas imediatas das massas com o programa da revolução socialista, por meio de reivindicações transitórias que parta das atuais condições e consciência de largas camadas da classe operária e conduza, invariavelmente, a uma só e mesma conclusão: a conquista do poder pelo proletariado.

Vemos hoje que o movimento ambientalista se concentra fundamentalmente entre a juventude e o movimento estudantil, com expoentes importantes entre o movimento sem terra e indígenas. Portanto, é fundamental que os revolucionários atuem como frações revolucionárias dentro dos sindicatos a fim de construir uma hegemonia operária em torno da questão ambiental, defendendo suas próprias demandas mas também a da expropriação do latifúndio e a reforma agrária, a demarcação e direito à autodeterminação dos povos originários e tradicionais.

O sujeito revolucionário capaz de levar essas demandas adiante, trazendo junto de si o conjunto dos oprimidos, em ruptura com o capitalismo é o proletariado - isso significa hegemonia operária, um dos principais contribuições revolucionárias dos bolcheviques. Diante disso é que se coloca toda a atualidade da concepção de auto-organização - ou seja, que a classe operária se organize de forma independente, em contraponto com as burocracias sindicais, de forma a tomar a luta em suas próprias mãos, com os revolucionários atuando conscientemente para estimular ao máximo a criação de organismos de democracia operária. Justamente por seu lugar na produção, exatamente no cerne desse metabolismo entre homem e natureza, que a classe operária tem nas suas mãos a possibilidade de organizar uma planificação democrática, racional e harmoniosa da economia e da vida social com a natureza. Portanto, o controle operário da produção em base a democracia operária de tipo soviética é a única forma realista de organização social que pode dar lugar a uma relação harmônica com o meio natural; essa forma social é, portanto, incompatível com o capitalismo e a propriedade privada dos meios de produção; justamente por isso, foi essa a base do Estado operário que a revolução de outubro dirigida pelos bolcheviques, Lênin e Trótski deu lugar.

Trótski, nesse sentido, sistematizou várias das ferramentas fundamentais para uma que a classe operária se coloque como sujeito e avance até o socialismo, mas também em direção a uma ecologia anticapitalista.

A partir disso é que devemos defender a expropriação do conjunto da indústria energética, sob a gestão democrática das e dos trabalhadores e supervisão de comitês de consumidores. Avançar para uma matriz energética sustentável e diversificada, proibindo o fracking (de gás e petróleo) e outras técnicas extrativistas, que permita reduzir drasticamente as emissões de CO2, desenvolvendo as energias renováveis e de baixo impacto ambiental, em diálogo com as comunidades locais. A nacionalização e reconversão tecnológica, sem indenização e sob controle operário, de todas as empresas de transporte, assim como as grandes empresas automobilísticas e metalúrgicas; o monopólio do comércio exterior e nacionalização dos bancos para financiar a reconversão e diversificação do modelo agroalimentício sobre bases sustentáveis e democráticas; abolição da dívida nos países dependentes e semicoloniais, que é uma forma de coerção para adotar ajustes neoliberais antiecológicos, assim como a expropriação de todas as empresas contaminantes nos países periféricos - entre outras.

Já existem, nesse sentido, exemplos importantes de unidade entre o movimento ambiental e os setores de trabalhadores, como o estaleiro Harland and Wolff na Irlanda, onde foi construído o Titanic, declarado falido, mas seus trabalhadores tomaram as instalações exigindo sua nacionalização e que fosse implementado o uso de energias limpas. Outro exemplo são os chamados dos sindicatos e setores de trabalhadores, convocando a Greve pelo Clima, em Portugal, na Alemanha ou no Estado espanhol. O legado trotskista, nesse sentido, permanece vivo em toda sua atualidade.

Uma vida que valha a pena ser vivida

O marxismo é uma ciência viva assim como a luta de classes. A melhor homenagem que poderíamos fazer à Trótski é traduzir todo seu legado aos dias de hoje. Sem sombra de dúvidas, a questão ambiental e a necessidade de destruir o capitalismo é uma delas.

(...) As origens históricas e econômicas da própria sociedade humana moderna encontram-se no mundo histórico-natural. O homem moderno deve ser visto como o elo de toda uma evolução que começa na primeira célula orgânica, gerada, por sua vez, no laboratório da natureza, onde atuam as propriedades físicas e químicas da matéria. Quem aprendeu a examinar com olhos tão límpidos o passado do mundo, aí incluídas a sociedade humana, os reinos animal e vegetal, o Sistema Solar e os infinitos sistemas ao seu redor, não se disporá a procurar as chaves para o conhecimento dos segredos do Universo em decrépitos livros “sagrados” e suas fábulas filosóficas de uma infantilidade primária. E quem não reconhece a existência de forças místicas celestes capazes de interferir na vida pública e privada e de orientá-la para esta ou aquela direção, quem não acredita que a miséria e o sofrimento serão altamente recompensados em outro mundo, tem os pés mais firmes e fortes na terra e buscará nas condições materiais da sociedade, com mais coragem e confiança, as bases de seu trabalho criador. A concepção materialista do mundo não só abre uma ampla janela para todo o Universo, mas também fortalece a vontade. Ela é a única que humaniza o homem moderno, o qual ainda depende, é claro, das rígidas condições materiais, mas já sabe como superá-las e participar conscientemente da construção de uma nova sociedade fundada simultaneamente na mais elevada técnica e na mais elevada solidariedade. 6

Não lutamos por reformas circunstanciais nas técnicas de produção, nem por saídas individuais à crise climática. Lutamos pela derrubada revolucionária desse sistema de miséria e degradação ambiental, por uma sociedade sem classes e sem Estado, na qual as forças produtivas mundiais, sufocadas pela propriedade privada burguesa e que servem à destruição ambiental, estejam nas mãos da classe operária internacional, interligando-se de forma a romper as barreiras das antigas nações. Com isso a ciência poderia avançar a passos enormes, servindo aos interesses dos mais oprimidos, em especial dos países mais pobres e periféricos, com o intercâmbio livre de técnicas sustentáveis e preservacionistas, estruturando uma verdadeira transição energética global que engloba a infraestrutura, os combustíveis, a agricultura e todos os âmbitos da vida econômica.

Uma sociedade que reestruture o metabolismo homem x natureza de forma harmônica, conscientemente dialética, materialista e livre, uma sociedade de abundância material e espiritual - de cada qual segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades. A isso, chamamos comunismo. E é na luta de classes que o conquistaremos, uma vida que valha a pena ser vivida, sem exploração nem opressão.

É impossível, portanto, pensar ecologia num viés anticapitalista e revolucionário sem, necessariamente, nos utilizarmos do marxismo como guia para a ação. Esse marxismo em nosso tempo é, indiscutivelmente, o de predominância estratégica, portanto, o trotskismo. Podemos dizer que há bases para uma ecologia em Trótski e, além disso, não se pode pensar uma ecologia que sirva a revolução sem Trótski e todo legado da IV Internacional. Nós da Fração Trotskistas queremos ser parte de rupturas e fusões, de forma a unir os socialistas e as distintas alas dos trotskistas que hoje estão dispersos, em um grande partido revolucionário da classe trabalhadora a nível mundial. Por isso, para nós, trata-se de reconstruir um partido leninista de combate internacional, a IV Internacional de Leon Trótski.
Ainda que em pequena escala, os camaradas da Fração Trotskista, procurando resgatar os fios de continuidade revolucionária da história do trotskismo, vem atuando, por vezes em comum com a esquerda, de forma a contribuir para a construção de uma alternativa anticapitalista e revolucionária à crise ambiental e climática.

A greve dos petroleiros da Total em Grandpuits na França desmascarou o greenwashing capitalista dessa gigante do petróleo. Ela queria fechar a refinaria, demitir seus trabalhadores, se apoiando em um discurso verde, mas para transferir suas plantas para países de mão de obra barata, como o Zimbabwe e a Tanzânia. A partir da auto-organização por cada local de trabalho, com comitês de greve se contrapondo a burocracia sindical e uma profunda aliança com o movimento ambientalista e a juventude, essa greve deixou grandes lições ao movimento operário. A Revolution Permanente, membro da FT-QI, foi fundamental para que esse processo tomasse corpo.

Já na Argentina, temos a luta contra a megamineração em Chubut, na qual os camaradas do PTS intervieram no fechamento de rodovias, foram parte de construir as assembleias de base composta sobretudo por estudantes e promover uma política de aliança com os trabalhadores. A água vale mais que ouro” sintetiza a luta ambiental histórica de milhares, de gerações inteiras, em Chubut.

Na Alemanha, a declaração promovida pela agrupação de sindicalistas de base “ver.di aktiv”, impulsionada pelo grupo RIO - organização irmã do MRT no país - com mais de 500 adesões de sindicalistas de distintos ramos de todo o país exigindo das centrais sindicais que convoquem a greve geral pela clima em 2019, foi uma pequena mostra, mas significativa, da potencialidade desta política.

Essas são apenas alguns dos exemplos que pudemos construir na luta de classes, ainda que pontuais. Queremos, na verdade, torná-los um ponto de partida para discutir suas lições e generalizá-las, no sentido de avançar para a construção de um partido revolucionário, unitário, trotskista, capaz de ser decisivo na luta de classes e também na questão ambiental. Não podemos pensar a luta pela destruição do capitalismo, o fim das classes e uma sociedade que viva em harmonia com a natureza por fora das questões da estratégia revolucionária.

Leia mais: O capitalismo destrói o planeta, destruamos o capitalismo - Declaração da Fração Trotskista/Quarta Internacional (FT-QI)

“A vida é bela, que as gerações futuras a limpem de todo o mal, de toda opressão, de toda violência e possam gozá-la plenamente.”

1, 3 e 4 - https://www.marxists.org/portugues/trotsky/ano/defesa/index.htm

2 - MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. Crítica da Economia Política. 27. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010. 3 v. (1). p.211.

5 - https://ceip.org.ar/Evolucion-y-dialectica

6 - https://www.marxists.org/portugues/trotsky/1922/02/27.htm


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Rosa Linh

Estudante de Relações Internacionais na UnB
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