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GREVE DOS PETROLEIROS | Entrevista com petroleiros direto do piquete da Refinaria de Paulínia

O Esquerda Diário esteve presente no piquete do último dia 05, na Replan - Petrobrás, Refinaria de Paulínia, em mais um dia de greve nacional dos petroleiros na refinaria. Entrevistamos Gustavo Marçaioli, coordenador da regional Campinas do Sindipetro Unificado do estado de São Paulo (FUP- CUT) e Laura de Castro, operadora da Replan, militante do PSTU e da “Oposição à base presente” que compõe a FNP.

sábado 7 de novembro de 2015 | 00:00

Neste dia 5 foi aprovado pela justiça um interdito proibitório ou habeas corpus que impede o piquete na entrada da refinaria, como parte das medidas de greve que se iniciou, em Paulínia na tarde do último domingo. A medida também impede o sindicato de entrar na refinaria e se serve para pressionar os cerca de 900 trabalhadores efetivos que estão em greve na empresa, boa parte deles, segundo o sindicato, está ligada à produção. A REPLAN é uma das maiores refinarias do país e abastece todo o estado de São Paulo, atualmente está operando por meio do plano de contingência, um operativo especial para garantir que o mínimo de produção necessário.

Nesse sentido, é fundamental, fortalecer a greve e a mobilização com atos de rua e os piquetes junto ao diálogo com a população, numa luta contra o governo Dilma, e a oposição de direita do PMDB e PSDB que querem também vender a Petrobras ao capital estrangeiro (veja mais aqui , e a forma de pressionar por mais privatizações e o fim do monopólio do petróleo é atacar os direitos dos trabalhadores, fazendo com estes paguem a conta do ajuste através do PPE e o banco de horas.

Entrevistamos Laura de Castro, operadora da Replan, militante do PSTU e constrói a Oposição ao sindicato Uificado “Oposição à base presente” que se organiza há alguns anos e compõe a FNP. Laura comentou a respeito do início da greve nacional e como esta se deflagrou na refinaria de Paulínia: “A greve nacional começou nas bases da FNP no último dia 29, 5 sindicatos, no Litoral paulista, Sergipe e Alagoas, Rio de Janeiro, Amazonas e Pará e São José dos Campos. A partir daí houve uma pressão nas bases da FUP para que a greve de iniciasse no dia 1 no domingo. Aqui na Replan o corte de rendição (não entrada no turno) começou no último domingo às 15h30. Essa greve é uma greve que unifica as federações em uma das pautas que é a pauta política que tem a ver com a defesa da Petrobrás, contra o plano de desinvestimento e venda de ativos (nome disfarçado para privatizações).”

Sobre as diferenças entre a atuação da FUP (Federação Unificada dos Petroleiros – filiada à CUT) e a da FNP (Federação Nacional dos Petroleiros) na greve, Laura explicou: “Existe uma diferença, a FNP tem apresentado junto com a pauta política uma pauta econômica como nosso acordo coletivo, nossa data base foi agora em 1 setembro, que apresenta uma proposta de reajuste salarial e avanço nos direitos, etc, a empresa tem descartado responder ambas as pautas, para a pauta econômica tem inclusive apresentado uma pauta rebaixada menor do que a inflação, o ‘-25%’ que é o PPE da Petrobrás, ou seja redução da jornada em 25% com redução do salário em 25%, e diminuição no pagamento das horas e extras e implantação do banco de horas que não existe na Petrobrás.”

Também afirmou que sobre a importância da defesa da Petrobras e que esta luta seja uma luta do conjunto da população e que para isso seja construída uma greve geral no país: “Mas, mais do que isso, a defesa da Petrobras, não vai ser só uma defesa dos petroleiros, achamos fundamental que exista uma grande greve geral que unifique a classe trabalhadora do país inteiro, a juventude, o movimento popular e social. A nossa reivindicação é que a Petrobrás volte a ser uma empresa 100% estatal e que volte o monopólio estatal do petróleo que foi quebrado com o FHC após a greve de 1995. (...) Mas achamos que é fundamental o fortalecimento da greve, porque vai ser este fortalecimento da greve e a disputa da consciência dos trabalhadores que vai fortalecer a nossa luta.”

Laura também comentou a respeito da medida judicial de “habeas corpus”, que é mais uma medida da empresa para pressionar os trabalhadores a não aderirem a greve e voltarem ao trabalho, em outros lugares do país a empresa tem adotado outras medidas judiciais como cobrança de multas para o sindicato: “hoje teremos a primeira reunião com a base da categoria um momento e hoje a empresa conseguiu um habeas corpus para deixar os pelegos entrarem, então é preciso fortalecer aqueles que estão na greve porque este é o nosso papel também enquanto oposição”.

Sobre a continuidade da mobilização e novas ações, Laura comentou que “ as bases da FNP estão chamando atos como no Rio de Janeiro e Santos, e uma das propostas aqui é que construamos um ato na cidade de Campinas para dar visibilidade a greve e explicar para a população os impactos e as pautas da greve”.

Gustavo Marçaioli, coordenador da regional Campinas do Sindipetro Unificado do estado de São Paulo, também comentou sobre as pautas da greve, “nossa federação teve o entendimento de que não adianta nada discutir ganhos salariais sendo que hoje o que está colocado em risco é a garantia do emprego e a maior empresa da América Latina que é a Petrobrás, que tem toda a importância para a economia e inclusive como solução para a crise econômica no país.”

E acrescentou o fato de que a FUP aprovou a “Pauta pelo Brasil que trata de várias questões, como segurança, e termina com a consigna ‘nenhum direito a menos’ e hoje a Petrobras tem uma proposta de acordo coletivo que retira direitos dos trabalhadores e propõe ainda um PPE pior, que não está ligado ao FAT, redução de 20% na jornada e 20% no salário, modificações de cláusula conhecidas como “pegadinhas” e um reajuste salarial primeiramente de pouco mais de 5% que não cobre a inflação (que acumulada está em 9,75%) e agora, apresenta 8,5%, também abaixo da inflação e se nega a discutir a Pauta pelo Brasil”.

É importante destacarmos as medidas que a Petrobras vem tomando contra os trabalhadores e contra o direito de greve e de organização sindical, Gustavo denunciou: “a empresa está fazendo uma disputa de fato contra o sindicato, a empresa orienta os trabalhadores que nunca participaram de assembleia a rejeitarem as propostas do sindicato e impede o sindicato de agir. No domingo, fizemos uma proposta para a empresa e a empresa se negou, a contingência está há mais de 60 horas dentro da empresa e temos informações de que está em número abaixo do mínimo, o que coloca em risco a segurança das operações. E hoje, recebemos um habeas corpus que nos impede de fazermos o piquete, a gente faz piquete também como uma forma de barganha, se os trabalhadores podem entrar porque não o sindicato, que também são trabalhadores?”. Ainda sobre a greve na Replan, Gustavo afirmou que a está uma greve forte cm uma adesão de cerca de 90% dos trabalhadores [efetivos] nesse momento.

Como comparação entre a última grande greve nacional dos petroleiros em 1995 e a atual, Gustavo afirmou “A gente tem uma contradição hoje que é que temos uma presidente eleita com nosso apoio inclusive e que sabemos que a culpa não é só dela pelos ataques que sofre a Petrobras, em 1995, tínhamos um presidente abertamente de direita com apoio do Congresso, mas o que há de comum é a privatização, ora com FHC ora com Dilma e o cenário é o mesmo, da tentativa do capital internacional em se apropriar da Petrobras. Por exemplo, hoje temos a Mitsui fazendo a primeira compra da Petrobras, a Mitsui é uma das acionistas da Vale do Rio Doce que também foi privatizada pelo FHC, e o presidente da Vale do Rio Doce hoje era o presidente do conselho de administração da Petrobras há meses atrás, e que curiosamente sai criticando o acordo coletivo da empresa, fazendo uma campanha contra os trabalhadores da Petrobras, chamando-os de privilegiados, enquanto oculta o que ele está fazendo de errado que é esta compra promíscua que ele está executando.”

Para o diretor sindical, é preciso esperar agora para que “Dilma nos ouça, a gente espera uma sensibilização do governo federal que abra um canal de diálogo.” Para ele, o ajuste na Petrobras é necessário, mas os trabalhadores estão com disposição de luta “neste momento, a Petrobrás vai ter sim que fazer ajuste porque tivemos queda na cotação do barril, aumento nos juros e na cotação do dólar, e isso faz com a que dívida da empresa multiplique o que reduz os lucros. O que queremos discutir é qual vai ser este ajuste, um ajuste que não desfacele a Petrobrás, e a gente fica surpreendido ao ver que os trabalhadores compreenderam e estão se somando a campanha e a greve vai continuar.”

Nesta parte da entrevista, o sindicalista da CUT mostra a verdadeira contradição de sua central sindical, que ainda representa a maioria dos sindicatos do país, mas que mesmo quando não boicota diretamente a luta dos trabalhadores, com manobras e mentiras, como fizeram na greve dos Correios, se coloca para controlar as greves e não para levá-las à vitória. Foi o que fizeram na greve de bancários e estão fazendo agora na greve dos petroleiros. Alimentar esperanças em um governo que passou os últimos 12 anos aprofundando a terceirização e criando “novas maneiras de privatizar”, ao mesmo tempo em que se enlameava até o pescoço junto aos demais partidos da ordem nos esquemas de corrupção.

Mas dizer que é necessário ajuste porque a empresa de fato perdeu lucratividade, sem dizer que os únicos responsáveis pela crise da empresa são justamente os políticos corruptos e seus comparsas empresários e capital estrangeiro, que desviaram bilhões, provocaram prejuízos bilionários e descaradamente tentam jogar a conta para os trabalhadores é uma tentativa de defender o governo e colaborar com os ajustes nas costas dos petroleiros. Sem incorporar a luta contra a corrupção, contra os ajustes, o PPE e o arrocho, e combiná-la com a luta contra a privatização e por uma Petrobrás 100% estatal, sob controle dos trabalhadores, os petroleiros podem ficar atados. Tanto é mentira que a empresa simplesmente “perdeu lucratividade” que a privatização segue sendo um grande negócio pra burguesia, porque sabem que vão comprar uma enorme fonte de riquezas a preço de banana.

O que está dado é a necessidade de lutar por uma Petrobras controlada pelos trabalhadores e a serviço da população. Afinal, as leis anti-sindicais que a empresa está tomando só acirra o cenário, ao entrar na justiça contra as mobilizações e lançando comunicados para os trabalhadores saírem da greve, se negando a negociar, reprimindo trabalhadores com polícia (como aconteceu em São Caetano - SP). Como expresso no artigo de Leandro Lanfredi, a greve se fortalece pela forte adesão e enfrentamento com o sindicato da FUP, que não responde à altura os assédios da empresa.

Sobre as perspectivas para a mobilização dos petroleiros no estado de SP e na Replan, Gustavo comentou concluindo a nossa entrevista: “Estamos com uma reunião amanhã com o Ministério Público do Trabalho onde vamos colocar nossa questionar a pela defesa do direito de greve e seguimos deflagrando greve em outros pontos da base que ainda não pararam como no Osbra (oleoduto de que vai até Brasília), a greve está muito forte no estado de SP, na baixada santista, em Mauá na Recap, algumas bases do Osbra, nos terminais de São Paulo, em São José dos Campos, no prédio administrativo da transportadora de gás que vem da Bolívia TBG, temos o apoio dos trabalhadores e vamos seguir firmes na luta.”




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