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Entrevista com o cantor e compositor Negro Leo

Bate papo com o cantor e compositor Negro Leo (1983), nascido em Pindaré-Mirim, no Maranhão, e radicado no Rio de Janeiro. Negro Leo navega nos mares revoltosos da música independente e da psicodelia.

Fábio NunesVale do Paraíba

quarta-feira 29 de março de 2017 | Edição do dia

Fabio Nunes - Comente o seu último álbum "Água Batizada" (2016).

Negro Leo - Nao saberia dizer muito sobre ’Agua Batizada’. Acho que fui um pouco irresponsável quando revelei em entrevistas, com um misto de iconoclastia tardia e ingenuidade que passamos as sessões sob efeito de mdma. Pessoas estão morrendo com isso.

Fabio Nunes - Seu trabalho tem muita influência de gente como Os Mutantes, Gal Costa, Syd Barrett etc. Qual o papel da Psicodelia hoje? O que mudou dos anos 60/70 pra cá?

Negro Leo - Acho que passamos da fase experimental dos psicodélicos para o uso recreativo e o enteogenico em larga escala, tanto porque existe informação mais consistente e pesquisa sobre as substâncias e efeitos, quanto pelo fato de ter sido criada uma sub-cultura de apreciadores nas classes médias urbanas. A ayauascha, que foi introduzida no mundo ’branco’ como ferramenta de disputa ideológica, ainda não chegou nos círculos de poder, mas ajudou a criar uma espécie de escudo psíquico para dependentes químicos e presidiários em penitenciárias no Acre. O retorno do consumo e do hype de substâncias como LSD, psilocibina, mescalina e dmt tem a ver com a espiritualizaçao difusa de uma massa jovem, mas a síntese de novas substâncias ligantes também é preocupante. Por exemplo, o mdma vendido no brasil contém metilona e as pessoas não acompanham o risco no uso recreativo, já soube de alguns casos de óbito por parada cardíaca. Por outro lado o governo não quer controlar a produção porque lucra com a proibição. Em Londres fumei maconha sintética e quase enloqueci, depois descobri que é muito comum pessoas darem entrada em hospitais de lá com quadro de surto psicótico depois do uso.

Fabio Nunes - Vivemos uma forte crise econômica e política. Ataques contra a arte. Como você vê o momento atual e qual o papel da arte neste barulho todo?

Negro Leo - O ataque específico contra a arte é feito diuturnamente pelos veículos de grande difusão. A mesquinharia começa no cerco à informação. O Estado que de alguma forma deveria lastrear a produção ’não comercial’, poucas vezes foi além da proteção cultural aos curralistas absenteístas imemoriais do Brasil, desse jeito as gerações mais novas são sufocadas numa espécie de bolha na web, o que de certa forma apresenta sinais de transformação rápida do mercado, por isso também o interesse em limitar a internet e ameaçar o marco civil. Não acredito num papel político da arte, cada vez mais o artista é uma pessoa deixando de ser uma quimera enfatuada pela histeria e histrionismo público. Só sei que eu jamais cantaria algo como ’viva cristovan colombo y viva su valentia’.
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