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ENTREVISTA | Entrevista com Adailson, Rodoviário de Porto Alegre

“Somos trabalhadores de luta e traçamos nosso próprio futuro”

terça-feira 27 de outubro de 2015 | 00:03

Esquerda Diário: Os rodoviários de POA montaram um comitê contra as demissões. Essas demissões aconteceram como?

Adailson Rodoviário: Na realidade as demissões vem sendo sistematicamente aplicadas desde o fim da greve (no inicio de 2014), tendo se tornado uma ferramenta "útil" para os empresários se livrarem da vanguarda que construiu um evento daquela magnitude e que certamente ficará pra história da categoria. Essas últimas demissões, ocorridas na Carris, foram o estopim, a luz vermelha, para os remanescentes da greve e vanguarda da categoria. Ocorridas na Carris, as últimas seis demissões tem como "motivo" alegado pela direção da empresa um eventual prejuízo financeiro gerado pelo ato de 03 de agosto, dia em que os trabalhadores lutavam por segurança no local de trabalho. A verdade em tudo isso, é que o prejuízo quem sofre são os trabalhadores e suas famílias, pois após esse duro golpe alguns estão em extrema vulnerabilidade financeira e não mais garantem o sustento próprio e de seus dependentes. Por isso a criação do comitê visa não só a readmissão de todos, como mas a luta para manter a dignidade mínima entre os demitidos, que correm contra o tempo e o desespero para voltarem a normalidade em suas vidas.

ED: Um dos demitidos foi reintegrado? Já é a decisão definitiva? E o seu processo como está?

AR: Está semana tivemos uma agradável notícia, com a reintegração via liminar do companheiro Afonso Martins, que é delegado sindical eleito ano passado, e que antes mesmo da greve já era reconhecido por sua luta na categoria. É uma decisão provisória, já que o processo ainda corre, e a sentença definitiva ainda demanda tempo da nossa morosa e insensível justiça, que deixa trabalhadores penando por respostas.

Sobre minha situação atual, só posso garantir que as chances são boas e reais para uma reintegração, senão via liminar no TRT, via sentença final do próprio órgão, já que todos os trâmites em primeiro grau se encerraram, cabendo somente ao segundo grau, qualquer decisão. Aguardo para as próximas semanas a decisão do pedido de liminar, já que visando as eleições para delegado sindical na empresa Trevo, é fundamental e urgente meu retorno ao trabalho e o contato com a base.

ED: Quais ações o comitê contra as demissões está tomando?

AR: Das ações do comitê podemos apontar dois pontos importantes: a incansável luta pela readmissão dos trabalhadores, em panfletagens, ações táticas, visitas aos trabalhadores da base, e diálogo intenso com categoria e justiça, através das ferramentas que dispomos no momento, como o acompanhamento jurídico de cada demitido, as redes sociais como disseminador de conteúdos sobre o tema entre outros. E também a campanha financeira, que teve na fase inicial, a venda de rifas, criadas por um companheiro, dos bancários de base. Uma iniciativa que surpreendeu a todos pela distribuição imediata dos blocos entre os demitidos, no mesmo dia do lançamento do comitê, em 15 de setembro.

Verdade é que o comitê esteve nos últimos dias pensando em como alavancar a nova fase da campanha financeira, e entre as propostas estão a realização de um jantar, onde poderemos reunir parte da categoria e apoiadores, e buscar o comprometimento de entidades sindicais e partidários da esquerda em colaborar efetivamente com o comitê. Serão convocados a contribuir, parlamentares e seus gabinetes, centrais e seus sindicatos, para que nenhum trabalhador pereça nas garras da patronal. Não será o patrão que nos dirá o que fazer, nos demitindo e nos forçando a abandonar a base atrás de empregos fora. Nem tampouco aceitaremos o ceticismo de parte da militância que nos diz que “a vida é dura” e devemos aceitar as demissões e buscar outros empregos. Somos trabalhadores de luta e traçamos nosso próprio futuro.

ED: O que você pode nos dizer sobre a greve de 2014, quais aprendizados ela deixou?

AR: sobre a greve eu tenho algumas críticas e lições importantes, mas vou ater as lições, que foram muito mais marcantes pra mim. Foram 15 dias de intensas batalhas, contra a posição tendenciosa da justiça e contra a burocracia do nosso próprio sindicato, que a mando da patronal, que queria pressionar o governo para aumentar as tarifas, iniciou a greve imaginando que seria de apenas 2 ou três dias e que estariam no comando.

A verdade é que os trabalhadores bancaram a luta por sua conta e risco; estavam a anos engolindo sapos, e recebendo pedradas da entidade que deveria defender a categoria, mas só visava e ainda visa viver sob o aparato bancado pela patronal, que faz fortuna arrancando a pele de pais e mães de família rodoviários.

A "brincadeira" (de uma greve de dois dias) perdeu a graça para o patrão já no terceiro dia de greve, quando viram que os trabalhadores estavam no comando e o sindicato vinha a reboque, nas ações da comissão de negociação eleita pela base, que deu exemplo de unidade no discurso e na ação, respeitando sempre as decisões da maioria em assembleia, o que hoje, lendo mais sobre lutas e revolucionários, me faz enxergar nos sovietes da revolução Russa, muito dos homens e mulheres que conheci e lutei lado a lado na greve. Não vou argumentar em números os resultados da greve, e manter a vitória maior como exemplo, que foi a união de uma categoria já cansada de apanhar que resolveu bater também, colocando a patronal de joelhos diante da classe trabalhadora, tendo que se agarrar desesperadamente nas saias da justiça para que saíssem do jugo a eles imposto pelos peões. A greve acabou, mas o "germe" deixado por ela está em cada trabalhador que a viveu, e ainda hoje contagia a todos que por ela sentem a inevitável atração. Isso jamais nos arrancarão, o orgulho de ter sido parte de algo grandioso e histórico pra uma categoria tão sofrida e que um dia disse basta. Tantas outras lutas e greves ainda virão, tantos e tantas trabalhadores que se atrevem ainda virão, e a todos estes, deixa a greve de 2014, o seu embrião.




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