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OBAMA GO HOME | Entregam nosso futuro: às ruas para enfrenta-los

A viagem de Obama é apresentada como uma mudança “amigável” na política dos EUA para a região. Mas por trás do rosto de Nobel da Paz, esconde-se uma nova ofensiva sobre o “pátio traseiro”. Com o pagamento dos abutres e a entrega, hipotecam o futuro. A juventude não pode permiti-lo.

quinta-feira 24 de março de 2016 | Edição do dia

Quando Bush veio à Argentina, em 2005, desenvolveu-se durante meses uma campanha anti-imperialista que incluiu marchas à Praça de Maio (algumas reprimidas pela polícia federal com um cordão que cortava a passeata na 9 de Julho). Havia ódio.

Tínhamos visto ao vivo os bombardeios ao Afeganistão e o Iraque que sucederam o atentado às Torres Gêmeas. “Bush, fascista, você que é terrorista”. O maior carniceiro do mundo tinha vindo para tratar de impor um acordo de livre comércio na região, e o repudiamos aos milhares em todo o país.

“Não temos que misturar as coisas, ele veio pedir perdão”, disse um estudante universitário sobre Obama faz uns dias. Como se os crimes do imperialismo fossem coisas do passado.

Até pouco tempo se dizia que a Argentina era um dos países mais “anti-norte-americanos”. Hoje, distintos pesquisadores pintam um quadro onde são maioria aqueles que apoiam a visita de Obama do que aqueles que a repudiamos e a vemos como uma provocação que ele venha aos 40 anos do golpe que o imperialismo que ele representa impulsionou.

As pesquisas são questionáveis. Mas o que é certo é que há uma campanha para mostrar as diferenças entre o demônio belicista Bush e o primeiro presidente negro dos EUA, que dialoga com Cuba e colabora com os “Direitos Humanos” em todo o mundo. Incluindo a Argentina, onde anunciará a abertura de alguns arquivos da ditadura.

Mas que direitos humanos pode defender alguém que ordenou 4 mil assassinatos com drones? De que paz pode falar o chefe do exército imperialista que tem em seu feitio guerras e intervenções militares em Líbia, Síria, Afeganistão, Iêmen e Iraque? Alguém que conspirou com os golpistas em Honduras e Paraguai, e com a direita esquálida na Venezuela? Que até hoje mantém a ocupação legal de uma porção de território cubano onde se tortura os presos?

Enquanto Obama posa para os Direitos Humanos na Argentina, nos EUA, seguem as deportações de imigrantes, como os 2,5 milhões expulsos desde 2009. Ou o assassinato policial de afro-americanos, que são mais de 450, só em 2015.

Limpando o quintal

Obama pretende deixar o pátio traseiro em ordem para o seu sucessor. Ainda que o imperialismo ianque nunca tenha deixado a América Latina, durante anos, foi o Oriente Médio que concentrou sua atenção e recursos. Foram anos em que os governos sul-americanos que desviaram ou contiveram grandes ações de massa chegaram a sustentar um discurso “anti-imperialista”. Em alguns casos, chegaram a negociar as condições de dominação, pechinchar a repartição da renda, mas nunca a modificar a dependência estrutural da região.

Hoje, quando o ciclo ascendente das matérias primas ficou para trás e os governos “pós-neoliberais” retrocedem frente ao avanço das direitas locais, o imperialismo busca apertar as porcas aprofundando a exploração da região (e limitando o avanço de outras potências, como a China). Neste marco se dá a política de “diálogo” para acelerar a restauração capitalista em Cuba (símbolo da luta anti-imperialista no mundo), e a visita à Argentina.

Já avançaram com tratados de livre comércio e o Tratado Trans-Pacífico. Na Argentina, os abutres conseguiram um acordo histórico, uma entrega semicolonial como poucas... Esse é o caminho que vêm para aprofundar.

O “anti-imperialismo” de festa

Hoje, na Argentina, governa um presidente abertamente pró-ianque. Um governo que está prestes a concretizar uma das maiores entregas da história, chegando ao cúmulo de modificar duas leis “soberanas” para pagar cada centavo dos US$ 15 bilhões que exigem os abutres.

Em contrapartida, há quem queira, frente a semelhante escândalo, fazer-nos acreditar em seu anti-imperialismo de festa. Mas terão que explicar como se concretizará a entrega se a Frente para la Victoria [kirchnerismo] tem a maioria, no Senado.
O kirchnerismo teve uma retórica “nacional e popular”, mas se disse de si próprio “pagador serial” da dívida externa ilegítima e fraudulenta. Esta dívida que só se explica, em sua magnitude, pela estatização, por parte da ditadura, das dívidas de empresários privados (como a própria família Macri). Quase 200 bilhões de dólares que poderiam ter se destinado à saúde, educação e transporte públicos foram para os credores externos. Pagou-se religiosamente ao FMI, ao Clube de Paris, à Repsol, ao Ciadi, etc.

Enquanto isso, a estrutura econômica se manteve extrangeirizada e primarizada. Empresas como Monstanto se beneficiaram da “sojização” do solo. Garantiu-se a Chevron um acordo secreto para saquear Vaca Muerta, em Neuquén, por décadas e, assim como a Barrick Gold em San Juan, contaminar gerações inteiras [refere-se à contaminação de rios por cianeto, uma substância química usada na mineração do ouro, em setembro de 2015] “trocando ouro por espelhos”.

Hoje, os kirchneristas que se horrorizam pela falta de soberania de um Congresso que modifica leis a pedido de um juiz de Nova Iorque deveriam recordar que foram seus próprios parlamentares que votaram uma Lei Antiterrorista em 2007, a pedido de Bush, e a modificaram em 2011, a pedido de Obama. Lei que, sem dúvida, será utilizada pelo macrismo para criminalizar o movimento social, junto a seu novo protocolo, como antecipa a prisão de Milagro Sala.

Não esquecemos que o kirchnerismo enviou centenas de milicos para colaborar coma missão da ONU na ocupação do Haití.

Fora Obama da Argentina, fora Imperialismo da América Latina!

Desde a esquerda, sempre denunciamos os crimes e a opressão do imperialismo. Rechaçamos suas guerras, suas intervenções, seus golpes e saques e nos mobilizamos para enfrenta-los. Nos opomos ao pagamento da dívida. E estivemos ombro a ombro com os trabalhadores que enfrentaram as grandes patronais imperialistas, como em Kraft e Lear, enquanto o governo anterior nos reprimia sob suas ordens.

Hoje, frente ao avanço dos Estados Unidos na região, as bandeiras anti-imperialistas têm mais vigência do que nunca. São essas as bandeiras que o golpe genocida quis enterras. Queremos transformar a raiva de milhões, que veem a provocação que implica a vinda de Obama no 40º aniversário da última ditadura cívico-militar, em organização e luta.

Só com uma poderosa aliança entre trabalhadores e jovens, independente desta suspeita “burguesia nacional” e seus representantes políticos, que se arrastam ante o amo do norte e adornam o país com bandeirinhas ianques, podemos barrar o ajuste, a entrega e a repressão em marcha. O PTS, na Frente de Esquerda, com seus referentes nacionais como Nicolás del Caño e Myriam Bregman, repudia a submissão e propõe um programa que parta do não pagamento da dívida externa e a nacionalização sem indenização das grandes empresas e bancos imperialistas.
Eles hipotecam nosso futuro, e o das gerações futuras. Temos que colocar de pé uma grande juventude anti-imperialista para toma-lo em nossas mãos.

Tradução de Seiji Seron




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