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DIA DA VISIBILIDADE TRANS | Enfrentar os transfeminicídios e os ataques de Bolsonaro!

O assassinato de Quelly da Silva em Campinas, morta e com o coração arrancado, por um alguém que a chamava de “demônio” e que contou o caso rindo à imprensa não é caso novo no Brasil. País recordista de assassinatos LGBT’s e ao mesmo tempo um dos que mais consome pornografia trans e travesti, mostra que os LGBT’s precisam se organizar para lutar contra os assassinatos que tem o aval do Estado, hoje na figura de Bolsonaro e de líderes religiosas como Damares Alves.

terça-feira 29 de janeiro de 2019 | Edição do dia

Segundo a ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) em 2018 se teve 158 assassinatos de trans e travestis, uma morte a cada dois dias. A brutalidade e a crueldade é presente em pelo menos 85% dos casos. E temos que a expectativa de transexuais e travestis é de 35 anos de idade!

O ódio dos Bolsonaristas aos LGBT’s alimenta os transfeminicídios e os feminicídios como um todo, que já chega a quase 100 tentativas em três semanas de governo Bolsonaro. Os bolsonaristas comemoram a saída de Jean Wyllys do país, após sofrer diversas ameaças de morte. Ao mesmo tempo, Flávio Bolsonaro e diversos aliados são investigados por um possível envolvimento no assassinato de Marielle.

Não podemos deixar que nos coloquem medo ou nos façam parar nossa luta. Para isso precisamos reagir e pensar qual estratégia precisamos para combater os diversos assassinatos LGBT’s que assolam o país, sabendo que o Estado não é nosso aliado nessa luta e que tampouco as saídas individuais são capazes de responder ataques que são de conjunto. Precisamos debater no movimento LGBT ferramentas capazes de organizar o conjunto dos LGBT’s, para que em aliança com a classe trabalhadora, possa dar saídas de fundo para a sociedade em que vivemos e que esteja a altura do que a conjuntura nos exige.

Na imagem, Quelly da Silva, travesti assassinada em Campinas que teve seu coração arrancado.

Bolsonaro e os governos estaduais são responsáveis pelos assassinatos LGBT’s

Não é segredo para ninguém o discurso de ódio de Bolsonaro e seus aliados para com os LGBT’s. Damares Alves não é burra e usa do discurso do escola sem partido e do “menino usa azul e menina usa rosa” porque sabe que precisa encaixar nossas sexualidades em moldes pré-estabelecidos para que isso continue botando agua no moinho da exploração econômica. Para deixar a sexualidade nos limites da reprodução humana que o capitalismo necessita.

Bolsonaro vem para reafirmar a histórica opressão que mata LGBT’s, em especial as trans e as travestis, com orgulho de ser eleito utilizando desse discurso de ódio. Ao mesmo tempo, quer reafirmar as instituições capitalistas no país, que significam nossa maior subserviência ao imperialismo e que precisam dominar e “disciplinar” nossos corpos e sexualidade para manter um “lugar seguro” para a espoliação e saque do país, podando qualquer conteúdo subversivo que as LGBT’s possam expressar. Ao mesmo tempo encontra limites, haja vista o escracho no qual foi respondida Damares, sobre suas posições cisnormativas.

Longe dos setores que acham que o reacionarismo nos valores de Damares e Bolsonaro são uma cortina de fumaça, trata-se de um plano pensado por esse governo para criar e fortalecer sua base igualmente reacionária no terreno cultural e dos valores para poder aplicar ataques como a reforma da previdência sem queimar o governo.

Os governos estaduais e prefeituras, que nessas eleições se elevou em nível de reacionarismo, são a correia de transmissão da política de repressão sexual de Bolsonaro e Damares. Witzel no Rio de Janeiro diz em “mirar na cabecinha para matar” quando se refere às operações policiais nos morros e nas favelas que assassinam o povo negro.

Jonas em Campinas (logo após de Géia Borgui, travesti que teve seu corpo alvejado por tiros e queimado) reprimiu a parada do orgulho LGBT de 2016 com bombas de gás. Esse fato causou uma separação do movimento LGBT na cidade em que por um lado se divididu no setor do Pink Money que não queria combater a repressão da prefeitura e continuar lucrando com nosso orgulho, e outro setor “mais militante”, mas ainda dirigido pelo PT que mostrou sua impotência em 13 anos de governo em resolver as demandas LGBT’s. O Pink Money é o mercado para o público LGBT, que se utiliza do discurso da representatividade para colocar que nossa libertação será pela via do consumo ou de um mercado específico para os LGBT’s.

Qual estratégia para acabar com nossas mortes?

O aval dado por esses governos, bem como a aliança do PT com os setores que hoje definem cores para gêneros, nos mostram que a estratégia das ONG’s de representatividade pela representatividade não são suficientes. Durante seus 13 anos de governo, o PT fez as alianças mais espúrias com ninguém menos do que Marcos Feliciano, o colocando na comissão de direitos humanos!, e vetando inclusive o kit anti-homofobia nas escolas. A crise capitalista coloca um fim a qualquer evolutismo pacifista que reconhecia que estávamos sendo mais vistos e assim conquistando mais direitos. Hoje isso cai por terra.

Não são com quaisquer formas ou resistência em abstrato que vamos enfrentar a violência que arranca o coração de Quelly em Campinas, nem os diversos casos que aparecem todos os dias. Muito menos sem uma estratégia clara no movimento LGBT vamos conseguir derrotar um inimigo que hoje se apoia nas forças armadas e no imperialismo trumpista. Devemos debater uma estratégia que saia dos limites impostos pela institucionalidade e canalize toda a energia revolucionária que existem de LGBT’s nos locais de trabalho e de estudo, mas que não se movimentam pelo vazio estratégico das representações LGBT’s e traições das centrais sindicais, como CUT e CTB, dirigidas pelo PT e PCdoB respectivamente. A necessidade de impor os ataques culturais para conseguir impor os ataques econômicos é a grande contradição do novo governo e devemos combater ambos.

A visibilidade que arrancamos e esfregamos na cara de uma sociedade marcada pelos valores cristãos tem que servir para passarmos o recado de que cansamos de contar os corpos. Resgatando o início do movimento LGBT (que se chamava movimento por libertação sexual), queremos mostrar que não apenas lutamos pelas nossas vidas e que não somos vítimas, mas somos sujeitos da construção de uma outra sociedade em que não haja não somente a opressão, mas também não haja exploração.

A combinação da luta contra a opressão e contra a exploração deve retomar (retornar) aos horizontes de um movimento pela libertação e livre expressão do ser. Para isso é necessário uma profunda aliança com a classe trabalhadora. Não somente porque os LGBT’s ocupam os cargos de trabalho mais precários, assim como as negras e negros. Mas também porque se a classe trabalhadora toma para si a luta contra a opressão, podemos ser uma força imparável contra Bolsonaro, Damares e todos os setores reacionários que querem nos matar.

Devemos faze-los ter medo de nos matar, não porque nos mobilizamos quando somos atacados, mas porque enquanto LGBT’s lutamos contra a opressão patriarcal e capitalista sobre nossos corpos, e também contra a miséria desse sistema que não pode garantir uma vida digna nem para as LGBT’s nem para os trabalhadorxs héteros, para que esses também possam se libertar da opressão que condena a mulher um papel de cuidadora da casa e não de sujeita de sua própria vida e que aprisiona o homem aos papéis de chefe em casa, mas explorado fora dela.

Hoje e todos os dias gritamos: Quelly PRESENTE!




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