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ENCONTRO DE TRABALHADORES, JOVENS, MULHERES, NEGROS E LGBT | Encontro no Rio organiza a luta por um 28 de abril combativo e por uma greve geral efetiva

No encontro organizado pelo Esquerda Diário, MRT, Pão e Rosas, Faísca e Nossa Classe estiveram presentes trabalhadores da CEDAE, garis, professores da rede estadual do Rio, de Niterói, Nova Iguaçu e Mesquita, bem como do Pedro II. Petroleiros, metalúrgicos, químicos, trabalhadores da UERJ, da Procuradoria Geral do Estado e outras categorias. Estudantes da UERJ, UFRJ, UFF, PUC e outras universidades. Secundaristas do Visconde de Cairu, Caic Tiradentes e outros. Veja como foi o debate e em breve os vídeos.

segunda-feira 10 de abril de 2017 | Edição do dia

Mais de sessenta pessoas estiveram presentes para discutir a necessidade da construção da luta contra os ataques de Temer e para que sejam os capitalistas que paguem pela crise. A mediação do debate foi feita por Artur Lins, estudante de história da UFRJ.

Abriu o debate a fala de Marcello Pablito, trabalhador do bandeijão da USP e diretor do Secretaria de Negros e Negras do Sindicato de Trabalhadores da USP. Ele falou sobre a situação do país após o golpe, com os ataques que o governo Temer vem fazendo contra os trabalhadores e o povo pobre, destacou a reforma da previdência e ressaltou que os direitos dos trabalhadores já estão sendo atacados, com a aprovação da terceirização irrestrita, que atinge milhões de trabalhadores e é um sinal verde para os capitalistas precarizarem todos os postos de trabalho. Colocou que assim como o PT e as cúpulas sindicais não resistiram ao golpe e alimentaram a direita golpista, agora também estão fazendo corpo mole na resistência contra os ataques e tentam canalizar as mobilizações para a alternativa de Lula 2018.

Frente a esses ataques, Pablito destacou o exemplo dos trabalhadores da Argentina, que no dia 6 de abril protagonizaram uma paralisação nacional de grandes proporções, e citou como exemplo de seu impacto o cancelamento de todos os voos brasileiros para o país por conta do fechamento dos aeroportos. Antes da fala do dirigente sindical da USP, os presentes puderam assistir uma saudação em vídeo feita por Nicolás Del Caño, que foi candidato à presidência pelo PTS (organização irmã do MRT na Argentina) e pela Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (FIT, na sua sigla em espanhol).

Del Caño, que foi parte ativa da paralisação do dia 6, ressaltou que o sindicalismo de base, ao lado da esquerda combativa e representada pelo PTS, foi o responsável por fechar vias de grande importância, como a Avenida Panamericana (principal via de acesso à capital do país), bem como a paralisação de inúmeros locais de trabalho. Essa política foi levada à frente apesar do corpo mole da CGT, central sindical argentina que convocava a paralisação nacionalmente, mas que nada fez para que se efetivasse como um grande combate de classe, com impacto nacional sobre a economia do país e mostrando a imensa força dos trabalhadores. O exemplo dado pelos trabalhadores argentinos, segundo Pablito, é o que deve inspirar a nossa preparação para o dia 28, lutando para que não seja mais um dia “morno” de acordo com a vontade das centrais sindicais.

Em seguida falou França, operário da manutenção do metrô de São Paulo. Ele destacou o papel que cumpriram os metroviários na paralisação de 15 de março (15M), em que seu impacto foi imenso em toda a cidade e no país, e gerou uma grande simpatia e apoio da população. Disse que eram muitos os que falavam com os metroviários, dizendo que só puderam paralisar por conta da adesão dos metroviários à paralisação, pois essa inviabilizava ou servia como justificativa para seu não comparecimento ao trabalho. França também mostrou a importância dessa paralisação como uma mudança no cenário político, com uma forte entrada em cena da classe trabalhadora: os metroviários, por exemplo, não faziam uma paralisação por demandas que extrapolassem os interesses exclusivos de sua categoria e tomando a bandeira do conjunto da classe desde 2007.

Adailson, rodoviário de Porto Alegre, esteve também presente na mesa e resgatou a história da luta recente dos metroviários da capital gaúcha, que protagonizaram uma importante greve em 2014. Sua fala ressaltou a importância da juventude, e ele mostrou como 2013, com a juventude saindo na rua aos milhares, foi uma experiência política decisiva para ele – como para muitos outros trabalhadores. Ressaltou o papel do apoio da juventude nas lutas operárias, dando o exemplo de seu próprio combate pela reintegração em dois episódios que sofreu demissões políticas da empresa privada (Trevo) onde trabalha por sua atuação sindical, e que os jovens que estiveram ao seu lado foram fundamentais para revertê-las.

Mariana, trabalhadora da CEDAE que foi linha de frente do combate contra a privatização, expressou em sua fala na mesa do encontro a necessidade de lutar pela unidade entre os setores para superar os entraves colocados à luta pelas direções sindicais burocráticas. O peso das direções frequentemente impõe obstáculos que muitas vezes acabam por impedir que a grande disposição de luta dos trabalhadores consiga triunfar sobre os governos e patrões e seus ataques. Mariana também reivindicou o que aprendeu com a juventude no processo de luta, bem como o apoio do Esquerda Diário e do MRT a toda essa batalha.

Finalizando a abertura da mesa, Carolina Cacau, professora do estado e diretora do Centro Acadêmico de Serviço Social da UERJ, que foi também candidata a vereadora do MRT pelo PSOL no Rio, encerrou as falas de abertura da mesa colocando a necessidade de que o encontro debatesse a construção do dia 28. Ela criticou a postura das direções sindicais, como o MUSPE, que estão planejando um ato-show para o dia 28, e não estão construindo nas bases um dia de combate.
Partindo do balanço dos recentes processos de luta no Rio, principalmente a luta contra a privatização da CEDAE e o pacote articulado por Pezão e Picciani, Cacau mostrou como tanto o MUSPE quanto os parlamentares do PSOL estão muito aquém das necessidades que temos de organizar o movimento, com uma divisão entre uma atuação rotineira nos sindicatos e a atuação no parlamento sem uma concentração de forças na mobilização pela base e coordenação com outros setores. Por isso, reivindicou Cacau, é necessário que o PSOL, que possui imenso peso político, junto aos sindicatos e centrais, coloquem seu peso para a construção de uma verdadeira frente única dos trabalhadores, com assembleias nos locais de trabalho, eleição de delegados que possam unificar a luta entre as diferentes categorias, e um debate profundo entre os trabalhadores para erguer uma estratégia para vencer nas lutas.

Em seguida, ocorreram diversas intervenções feitas pelo plenário. Um gari da Comlurb resgatou todo o importante processo de luta da categoria, em particular a greve de 2014 que foi exemplo para os trabalhadores de todo o país, e defendeu a necessidade de unificar a luta.

Uma servidora da UERJ resgatou a dura luta que estão travando em defesa da universidade contra os ataques de Pezão, que hoje deixa a universidade sem orçamento e os professores e servidores sem salários.

Uma servidora da Procuradoria Geral do Estado se expressou colocando preocupação com a necessidade de que os trabalhadores tenham uma alternativa nas eleições de 2018, e que para isso é necessária uma unidade de toda a esquerda.

Outra servidora interveio colocando a proposta de que se lutasse por uma assembleia geral dos servidores do Rio de Janeiro, para que a base das categorias pudesse se expressar e construir uma alternativa à direção do MUSPE, que tem sido um entrave nas lutas.

Eliane, professora da rede estadual em Niterói, foi uma das professoras que interviu, dizendo que o diferencial daquele encontro era que ele procurava construir um dia 28 combativo, e não um ato passivo como o show que está sendo articulado pelas centrais.

Desirée, estudante da UERJ diretora do Centro Acadêmico de Serviço Social, ressaltou o papel que as mulheres estão cumprindo nas lutas. Falou, como parte do Pão e Rosas, do papel que essa agrupação cumpriu, estando na linha de frente das manifestações e da greve internacional de mulheres do dia 8 de março em distintos países. No Rio, o dia 8 de março foi uma contundente expressão de que as mulheres estão destinadas a cumprir um papel fundamental na luta dos trabalhadores. Ela propôs que se realizasse uma reunião do grupo de mulheres Pão e Rosas na UERJ.

Vitoria, estudante secundarista e militante da Faísca, retomou energicamente a memória das lutas recentes dos secundaristas do Rio, que ocuparam suas escolas em luta. Falando sobre o potencial de luta da juventude, disse que basta um “empurrãozinho” que a juventude “vai que vai”.

Renato, estudante da PUC e militante da Faísca, falou também sobre a importância da juventude nas lutas, relembrou a importância da solidariedade de classe e dos combates contra a repressão policial na luta contra a privatização da CEDAE.

Em seguida ocorreu o fechamento da mesa. Adailson relembrou o exemplo incendiário da revolução russa, que é uma demonstração de que não há nenhuma utopia nas propostas defendidas pelos revolucionários, e que podemos fazer hoje novamente o que, há cem anos atrás, fizeram as trabalhadoras e trabalhadores russos. Pablito dialogou com a preocupação colocada em relação à unidade dos trabalhadores reforçando a necessidade da construção de uma frente única, com exigência aos sindicatos e centrais para que se coloquem na luta, mas a organização dos trabalhadores em cada local de trabalho. Cacau, retomando a questão das eleições de 2018, afirmou que é fundamental apresentar uma alternativa dos trabalhadores, mas que é imprescindível a independência de classe para fortalecer os trabalhadores. Ressaltou também que serão as lutas que estão em curso agora que irão definir o futuro, inclusive eleitoral. Também manifestou acordo com a proposta feita de uma assembleia unificada dos servidores, como parte da batalha por colocar de pé uma frente única dos trabalhadores contra os ataques, que deve ser construída pela base para erguer a luta, a começar pelo dia 28, uma tarefa de todos os presentes ali.

O Encontro se encerrou com um acordo entre todos de colocar todo peso na construção de um dia 28 de abril combativo e pela base. Com agitação nos locais de trabalho e estudo, com panfletagens massivas, lambe e cartazes.
Também incorporou a proposta da reunião do Pão e Rosas na UERJ, bem como da Faísca em cada um dos locais de estudo, e dos materiais do Nossa Classe para cada uma das categorias ali presentes para que em cada local se fortaleça muito a construção de uma alternativa de organização e de um dia 28 combativo. Ao final, os presentes também colaboraram com a campanha financeira e tiraram uma foto com os cartazes da campanha em curso.

Leia os depoimentos de alguns dos trabalhadores que estiveram presentes sobre o que acharam do Encontro

Gari da Comlurb

Olá pessoal do Esquerda Diário, foi ótimo ter estado aí na construção de novas ideias para a luta da juventude e também dos trabalhadores. Vi pessoas de diversos segmentos trabalhistas, Cedae, metroviários, servidores públicos, etc. Ao longo dos depoimentos de cada trabalhador e estudante, percebi que cada um teve uma história de luta diferente, mas com características semelhantes na luta contra o domínio dos "chefes" ou "burguesia", pode-se chamar assim. Sou gari da Comlurb reintegrado, acordei do sono profundo em 2014 com a greve dos garis em pleno Carnaval carioca, infelizmente, por causa da ganância dos políticos brasileiros e também dos políticos do Rio de Janeiro, pessoas perderam e continuam perdendo seus empregos. Ainda com tantos escândalos de corrupção, creio que o Rio de Janeiro possa sair dessa lama. Minha conclusão é que para uma luta os trabalhadores devem se unir independentemente dos sindicatos pelegos. Só a força trabalhista e também da população pode anular qualquer efeito que seja danoso à camada mais frágil da sociedade que são os pobres, negros e gays.

R. Santana, metalúrgico

O encontro foi encorajador e fundamental para o engajamento na luta de classes. As experiências dos companheiros são essenciais pois demonstram que é possível impedir que propostas tão danosas a nação se perpetuem. Acredito que a iniciativa como a de ontem é basilar para conscientização da luta de classes. Que o caminho para revolução é a reeducação dos trabalhadores. Visto que os mesmos foram educados a uma submissão opressora que não permite contestação. Precisamos romper com essa mentalidade colonizada e conscientiza-los de que são eles (a classe trabalhadora) os protagonistas, a engrenagem fundamental da economia do país.

P. Dantas, trabalhador de indústria química

A minha impressão do encontro foi muito boa, porque encontrei interesses e ideais recíprocos. Cada fala martelou na minha cabeça a ideia e certeza de que não lutamos pela nossa classe dentro da função que exercemos, lutamos pela classe trabalhadora em geral que mantém o país de pé e que paga por todas as falcatruas que vemos nos poderes. Agora como conscientizar, pois é a chave da mudança. Porque o que mais vemos são trabalhadores dizendo que não há jeito. Mas eu como um sonhador, ainda acredito que seja possível sairmos dessa escravidão remunerada.

Eliane, professora da rede municipal do Rio, da rede estadual em Niterói e diretora do SEPE Niterói

Sobre o encontro do MRT, posso dizer que foi muito importante conhecer outras frentes de lutas fora do Rio de Janeiro e constatar que existem pessoas e organizações com a mesma indignação diante da atual conjuntura nacional e com grande disposição para a luta. Penso que toda essa disposição e indignação devam ser direcionadas para a organização dos trabalhadores e estudantes, com atuações nos nossos locais de trabalho, escolas, universidades e comunidades. Em relação ao dia 28 de abril e para além da greve geral, precisamos nos contrapor às centrais sindicais que constroem uma luta “fake” visando interesses próprios e, também à burocratização dos sindicatos que travam a mobilização dos trabalhadores. Diante de tudo isso, torço para que esses encontros se repitam, que não percamos de vista as nossas propostas, e que possamos construir um campo de resistência contra todos esses ataques que sofremos do Estado opressor e repressor, que possamos construir a unidade na luta através de plenárias por fora dos sindicatos e do diálogo com comunidades e movimentos sociais.




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