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ELEIÇÕES 2022 | Encontro de Lula e FHC expõe direita tradicional em queda livre

A péssima condução da pandemia segue abalando a popularidade de Bolsonaro, como mostrou a pesquisa do Datafolha. Lula aproveita o momento para dialogar com o Centrão e a direita. Neste breve artigo buscamos analisar o impacto que pode ter o jantar entre o petista e o líder tucano, FHC, sobre a crise da direita tradicional.

sexta-feira 21 de maio de 2021 | Edição do dia

Foto: Ricardo Stuckert

O PSDB no último período passou por crises importantes, dado o naufrágio de sua candidatura presidencial 2018 e também a disputa interna entre Doria e Alckmin para 2022, além da morte do prefeito Bruno Covas que deixa a prefeitura da capital paulista nas mãos do MDB e Temer. É nesse cenário de divisões internas que o principal partido que representou a direita desde os anos 90 até, pelo menos, 2014, busca saídas para as próximas eleições presidenciais.

A última pesquisa Datafolha expôs de forma acentuada o que já vinha se demonstrando como tendência: entre Lula e Bolsonaro, o espaço para projetos lidos como de centro ou da direita tradicional é muito pequeno para levar ao segundo turno. Enquanto Lula aparece com 41% das intenções de votos contra 23% de Bolsonaro no primeiro turno, nenhum dos outros candidatos da direita consegue atingir nem 10%. Moro, o mais bem colocado, aparece com 7%, seguido de Ciro, Huck e Doria, com 6, 4 e 3 pontos, respectivamente.

Em sua coluna publicada ainda em abril, Ascânio Seleme, um dos principais diretores do Jornal O Globo, já dizia que Lula parte para o terceiro mandato. A certeza na Globo de que um segundo turno entre Bolsonaro e Lula é inevitável é tanta que o apresentador Luciano Huck aparentemente está desistindo da corrida eleitoral e já fecha com a emissora um novo programa no lugar de Fausto Silva. Huck será o novo destruidor dos domingos do povo brasileiro.

Ciro Gomes tem apostado na tese de que a pandemia desgastará tanto Bolsonaro que a disputa pelo segundo turno se dá na direita, e por isso tem elevado seu discurso direitista contra Lula e o PT. O pedetista busca agradar o antipetismo reacionário e se projetar como principal figura que possa oferecer uma terceira via. Rodrigo Maia inclusive chegou a dizer que Ciro deveria ser o nome unificador do centro. Mas a verdade é que a cada nova pesquisa Ciro vê suas intenções de votos diminuindo, o que impacta diretamente na disposição de setores burgueses e partidos da direita em apostar na sua candidatura para o ano que vem. É verdade que Ciro ainda reserva uma base própria desde 2018, mas é preciso acompanhar o quanto ela não se dissolve em meio à polarização. Por enquanto é apenas uma hipótese que os votos da direita migrem para Ciro.

A ruína do sonho tucano

De volta ao PSDB, muitas coisas apontam para que uma eventual candidatura presidencial de João Doria seja um novo fracasso. Evidentemente isso pode mudar e ser Doria quem capitalize a tendência de derretimento de Bolsonaro, que ainda não está claro até onde pode chegar. Diferente do que muitos analistas da mídia paulista chegaram a dizer, a Coronavac e a Butanvac não foram suficientes, pelo menos por enquanto, para fazer a rejeição a Doria diminuir a ponto de tornar sua candidatura tão competitiva para as eleições presidenciais. Frente a isso, o plano b de disputar a reeleição em SP vai ganhando cada vez mais peso nos cálculos dos tucanos. Isso porque todos temem, e aqui também se inclui Sérgio Moro, repetir o fracasso de Alckmin em 2018, espremido entre Bolsonaro e Lula-Haddad.

Com Doria em rejeição e Alckmin saindo do partido para ir para o PSB de Márcio França ou PSD de Gilberto Kassab, FHC vem dando demonstrações de que a melhor alternativa seria apoiar em um grande pacto nacional da direita com Lula. Em entrevista na Rede Globo, FHC chegou a dizer que votaria com certeza em Lula em um segundo turno contra Bolsonaro. Essa declaração vindo de alguém do PSDB, que ganhou SP na onda do BolsoDoria, é importante, pois mostra as fissuras profundas desse partido.

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E no meio disso tudo, em virtude da força eleitoral do próprio Lula, o PSOL vê a saída de Jean Wyllys para o PT como primeira expressão mais contundente de crise interna, com especulações de até uma possível ida de Freixo para o PSB. O PSOL, que veio se adaptando ao petismo nos últimos anos, agora mergulha em incertezas sobre seu futuro em 2022 com o próprio Boulos realizando encontro com Lula enquanto não dizia nada em apoio à greve de metroviários de São Paulo.

Uma terceira hipótese

Ainda há uma terceira hipótese, nem da emersão de Ciro ou Doria como candidato unitário do centro, nem do grande pacto nacional entre Lula, setores do Centrão, do PSOL e até com apoio do PSDB. É a hipótese da luta de classes, que pode reordenar as peças no tabuleiro da política nacional. Todas as análises sérias veem como inscrita na situação a possibilidade de luta de classes aberta, dada a degradação social na qual a classe trabalhadora brasileira está submetida, com um alto nível de mortes por COVID diariamente e a fome batendo à porta de dezenas de milhões.

Nesse sentido, o que se viu essa semana com a greve dos metroviários de São Paulo deve ser analisado com atenção. Toda a mídia, inclusive aquela opositora a Doria e mais alinhada a Bolsonaro, rapidamente saiu em defesa do governador contra os metroviários. Vimos toda a grande mídia girar suas forças (e isso enquanto ocorria o aguardado depoimento de Pazuello na CPI) para criminalizar a greve, fazendo uma “super cobertura” de calúnias e difamações contra os trabalhadores. Fazem porque sabem que se os metroviários vencem, isso fortalece a classe trabalhadora como sujeito social e pode inspirar outras categorias a lutar contra as reformas, Bolsonaro, Doria e todo esse regime, ao invés de esperar por 2022, como quer o PT buscando canalizar o descontentamento nas urnas. Tal possibilidade, com uma Colômbia revoltosa tão perto do Brasil, é o pior pesadelo de todo o regime do golpe.




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