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Crise do PSOL | Em vale tudo eleitoral MES aprova Federação do PSOL com a Rede de Marina Silva e Itaú

O MES, corrente interna do PSOL, foi uma das forças internas que votou pela Federação com a Rede Sustentabilidade, um passo decisivo para a bancarrota do PSOL e sua ausência de independência de classe. A Rede é um partido golpista, que votou por ataques como a reforma da previdência, e que não será nenhuma “oposição de esquerda a um eventual governo Lula-Alckmin", pelo contrário, é uma alternativa da direita e servirá para minar qualquer perspectiva que defenda os trabalhadores. O MES mostra mais uma vez que a ideia de “PSOL independente” só serve para o oportunismo eleitoral e não para enfrentar Bolsonaro, a direita e as alternativas de conciliação de classes.

domingo 3 de abril de 2022 | Edição do dia

O MES é uma corrente interna do PSOL e conta com figuras como Sâmia Bonfim, Luciana Genro e Fernanda Melchiona, e foi uma das forças internas do PSOL, junto com Revolução Solidária, Primavera e Subverta, que nesta quarta votou pela Federação do partido com a Rede, contando com a abstenção de correntes como a Resistência e Insurgência. A ausência de independência de classes no PSOL já vinha sendo pavimentada há anos, mas diante das eleições nacionais de 2022 teve passos decididos com o apoio à chapa Lula-Alckmin, querendo entrar até mesmo no comitê de campanha, e agora tem sua expressão ainda mais contundente com a aprovação da Federação.

A Rede é um partido golpista, que apoiou o golpe e a lava-jato, operação que também foi apoiada pelo MES, e votou pela reforma da previdência, além de se colocar contra direitos elementares dos setores oprimidos, como é a legalização do aborto. Nessa mesma semana vimos sua parlamentar em São Paulo, Marina Helou, votando com Doria contra os professores da rede pública que terão seu trabalho mais precário e controlado pelo estado. É com esse partido que o PSOL decidiu fazer a federação, para atuar como um só partido, por 4 anos, com estatuto e programa em comum.

Para justificar essa política no mínimo vergonhosa, o MES justificou seu voto a partir de dois argumentos centrais expressos no artigo "Sobre a Federação PSOL e Rede". A cláusula de barreira e a necessidade da oposição ao possível governo Lula e Alckmin. Sobre a cláusula de barreira, o MES justifica que é preciso manter a legalidade porque "no Brasil, a política institucional tem um peso enorme". E vale tudo por fundo partidário, eleitoral, espaço na TV? Claro que a cláusula de barreira é um ataque antidemocrático - inclusive nós sempre denunciamos isso, diferentemente do PSOL que votou a favor da cláusula de barreira em 2015. Mas o MES quer justificar sua posição como se a cláusula fosse colocar o PSOL na ilegalidade/clandestinidade. Não iria. E ainda que fosse, pelo menos para os que se reivindicam revolucionários e vêem no Estado um órgão de opressão e repressão, e não um caminho para melhorar a vida da população, é parte da nossa tradição atuar sem legalidade eleitoral, ou mesmo na clandestinidade, quando necessário, e a união com partidos burgueses nunca foi aceita como solução para evitar isso.

O outro motivo se liga a esse, porque dizem que é preciso construir uma oposição de esquerda, leia-se oposição parlamentar apenas, ao possível governo Lula-Alckmin, que segundo o MES será possível fazer ao lado da Rede: "uma potencial aliada em diversos temas para fazer a crítica do governo pela esquerda". Mas que oposição será essa se a Rede é um partido que foi desde sua origem financiado pelo Itaú, cuja herdeira coordenou a campanha de Marina, que é de direita, defende um “ecocapitalismo”, deu votos à reforma da previdência que quer fazer os trabalhadores seguirem trabalhando até a morte? Essa é a Rede e não essa abstração de esquerda que pinta o MES.

Chegam a dizer que o PSOL terá hegemonia na Federação dizendo que ela terá mais a cara e o programa do partido do que da Rede, o que a realidade já provou que não é verdade. Já que os pontos programáticos da Federação é um programa burguês e liberal, que tem a cara da Marina Silva e do Itaú, o que mostra já qual perspectiva a Federação vai fortalecer.

É chamativo como o MES busca salvar um espaço parlamentar e dizer que assim vai enfrentar os ataques por fora de qualquer organização e enfrentamento da classe trabalhadora, apenas com as alianças institucionais que o regime permite. Ou mesmo como veem a organização da esquerda ligada não à organização da classe trabalhadora com independência de classe, mas sim como uma oposição institucional baseada na união com um partido inimigo de classe. É "nada mais que parlamentarismo".

"PSOL independente" de quem?

Diferente de organizações como a Resistência que já antes embarcaram na candidatura de Lula-Alckmin, o MES veio dizendo que ao menos no primeiro turno quer um PSOL de cara própria, independente e anticapitalista, e por isso veio levando a frente a pré-candidatura de Glauber Braga à presidência, que como analisamos aqui é uma variante eleitoralista sem nenhuma independência de classe. Além disso, em São Paulo, depois da retirada da pré-candidatura de Boulos para deixar o caminho livre à Haddad, o MES também lançou a vereadora de Campinas, Mariana Conti, como pré-candidata à governadora, dizendo que o PSOL precisa apresentar uma alternativa independente para São Paulo para derrotar o bolsonarismo e o tucanistão.

Mas o fato é que neste artigo já começam a mudar o discurso e deixam mais claro para onde ruma sua política, quando eles mesmos já dizem que no âmbito nacional, em nome da "reconstrução da democracia", "apoiar Lula é uma obrigação moral e política básica porque será um voto a favor de um regime democrático versus um projeto contrarrevolucionário", e que "o apoio a Lula na eleição, mesmo que no primeiro turno, não é uma ameaça ao caráter do PSOL". É verdade que Bolsonaro significa um projeto reacionário, de ataques bárbaros à classe trabalhadora, e que precisamos derrotá-lo. Mas é fato também que Lula já deixou claro que não revogará os ataques que passaram no governo Bolsonaro e Mourão, e governará com setores reacionários como Alckmin, mantendo militares no poder e governando com as Igrejas, como foram nos anos de governos do PT, mas agora estará sob um regime golpista e uma crise capitalista profunda. Esse não é o caminho para derrotar Bolsonaro, esse foi o caminho que abriu espaço para o fortalecimento da direita e nos trouxe até aqui.

Ou seja, o que já poderia ser refutado mostrando o papel que o PT cumpriu em seus anos de governo e como não vão combater a base da extrema direita no país e os ataques, ainda ganha mais força pelo fato de que hoje não existe Lula sem Alckmin, não existe "Lula sim, Alckmin não", como diz a Resistência. O que existe é uma grande possibilidade de Lula-Alckmin se consolidar, e é esse projeto político que o MES já declara que irá apoiar, ainda que tente manter uma cortina falando de “independência”. Mesmo em SP, a partir da candidatura da Mariana Conti, é preciso questionar: Como é possível derrotar o tucanistão apoiando Lula-Alckmin?

Mas poderíamos nos perguntar ainda mais, como ter um PSOL independente unido, com um estatuto e programa único, à Rede golpista e de direita? Não existe independência quando se está aliado com partidos que atacam os trabalhadores, as mulheres, negros e LGBTs. A Rede não será oposição de esquerda nenhuma, não foi oposição de esquerda nem ao Bolsonaro, já que chegou a dar votos para a reforma da previdência que foi um ataque central desse governo, que dirá oposição a Lula e Alckmin.

Essa política não tem uma vírgula de independência nem do PT de Lula, nem de Alckmin, nem da Rede, e enfim nem da burguesia, jogando qualquer perspectiva de independência de classe no ralo e deixando o socialismo que dizem defender para os dias de festa.

Diante dessa enorme crise do PSOL, é preciso abrir um debate sobre os rumos da esquerda no Brasil e chamamos todos os setores que não concordam com os caminhos que vem tomando o partido, em especial com a Federação, a romper com o PSOL e construir um Polo de independência de classe, esse sim poderia ser parte de uma oposição de esquerda a todos os ataques que estão colocados hoje e que estarão para o próximo período, defendendo que seja a classe trabalhadora que entre em cena a partir da sua mobilização para derrotar Bolsonaro e toda extrema direita.




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