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UNICAMP | Em defesa das vagas no Vestibular Indígena na FCM - Unicamp, contra o racismo!

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quinta-feira 17 de junho de 2021 | Edição do dia

No dia 28 de maio, às 9h, ocorreu a reunião da antidemocrática Congregação da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que foi transmitida pelo Youtube e pautou a adesão dos cursos de graduação da FCM ao Vestibular Indigena — esta pauta específica foi debatida entre 51:50 e termina em 2:12:40 —, visto que a Deliberação do CONSU-A-008/2017, que propõe o aprimoramento da política de ingresso no Vestibular Unicamp a partir de 2019 e institui o Vestibular Indigena como uma das formas de ingresso, teria estipulado o ano de 2021 como prazo para todos os cursos da Unicamp ofereçam no mínimo 2 vagas para essa modalidade de ingresso. Ocorre que mesmo estando cientes a quase 4 anos desta deliberação, usaram inúmeros argumentos, desde a pandemia, até mesmo argumentos racistas, para expressarem que, embora fossem favoráveis a adesão dos estudantes indígenas por essa modalidade de ingresso, não estavam preparados para recebê-los no próximo ano e tão pouco estes estariam aptos ao alto desempenho dos outros estudantes não-indígenas requeridos pelo curso (sic!).

Embora não tenham expressado — diretamente, nessa congregação — uma recusa a adesão do Vestibular Inidigena, é explícito o racismo semeado por diversas falas de professores e professoras que reiteraram a necessidade de tutelar os estudantes indígenas para que fossem ingressados a sociedade, se adaptarem, fossem mais bem selecionados, dentre outras falas, que sinalizavam haver diversos problemas específicos aos indígenas, até mesmo um suposto alcoolismo. Nas palavras de um dos membros da congregação, “temos que preparar os indígenas para um curso de alta performance, mas não precisar ser já um fracasso”.

Houveram até mesmo argumentos de que a tutela é necessária, pois se não precisassem entrariam pelo vestibular em ampla concorrência, descartando todo o racismo estrutural do Brasil e os diversos conhecimentos e saberes que os diferentes povos indígenas carregam junto a sua cultura que justifica essa modalidade de ingresso. Foi todo esse debate que levou a uma votação em um espaço antidemocrático (a maioria dos votos é de professores, sendo que na universidade os maiores setores são estudantes e trabalhadores) que não habilitou sequer a opção de ser favorável às vagas indígenas sem a tutela, como se houvesse apenas esta possibilidade.

Na proposta que foi aprovada, ficou confirmado que a FCM irá disponibilizar 2 vagas para os estudantes indígenas no próximo ano, mas farão um percurso diferenciado, chamado de tutela. Eles entrarão em 2022 apenas no segundo semestre e serão guiados para matérias diferenciadas no período de cerca de 6 meses para entrarem em 2023 de fato nas disciplinas específicas referentes ao curso que estarão matriculados. Mas aqui não se trata de uma “mão amiga” para com as dificuldades enfrentadas por esses estudantes, mas sim, um retrocesso histórico, pois o termo “tutela” está alinhado a um discurso histórico que coloca os indígenas como “bárbaros” e “atrasados”, ou seja, é uma subjugação a esses povos e sua cultura, do qual Bolsonaro e Mourão também se apoiam para destilar seu preconceito e ódio, ao lado de garimpeiros e madeireiros ilegais que hoje avançam contra o território Yanomami e tantos outros. Ora, se os estudantes indígenas têm enfrentado dificuldades no decorrer da sua vida acadêmica isso não justifica uma suposta falta de aptidão destes, e sim escancara o tremendo filtro social e racial presente não só no vestibular, mas também no dia a dia da universidade. Não são apenas os estudantes indígenas que apresentam dificuldades acadêmicas, embora tenham sim suas demandas específicas, diversos estudantes também o apresentam, que vão desde fatores sociais, econômicos e até mesmo a insana “aptidão” que um curso de graduação pode exigir, o que leva a diferentes grupos de estudantes a atrasarem seus cursos, reprovarem em matérias, necessitarem de apoio pedagógico e/ou psicológico, etc.

Infelizmente, alguns membros da congregação contra argumentaram à necessidade de mais burocracia para a entrada nos cursos da FCM referindo-se a alta concorrência dos cursos como pressuposto para uma seleção dos melhores, ignorando aqui o filtro que o vestibular representa não somente aos indigenas, mas negros e estudantes de escola pública. Pois bem, por que alguns podem ter acesso ao ensino superior e outros não? Por que alguns têm que fazer anos e anos de cursinhos populares para ingressarem em um curso de graduação? Qual a superioridade de uns e a “inferioridade” de outros para que haja essa divisão? Bom, não se trata aqui de uma seleção dos melhores, mas dos melhores preparados para passarem no vestibular versus os que foram preparados social e economicamente para servirem de mão de obra precária ao capital nacional e internacional, tal como é expresso em um jovem trabalhador negro carregando um bag de um dos famosos aplicativos de comida rápida.

Frente a esse debate, nos colocamos intransigentemente favoráveis à adesão de todas as formas de ingresso na Unicamp por todos os cursos. As cotas étnico-raciais e o Vestibular Indígena foram conquistados a partir de uma greve histórica na Unicamp, acompanhada da ocupação na reitoria, onde os estudantes estavam na linha de frente por cotas, ampliação da moradia e contra o golpe que ocorreu em 2016, ou seja, essas conquista jamais foi por uma bondade da reitoria em aplicá-la, pelo contrário, em inúmeras reuniões se mostrava desfavorável à adesão, inclusive foi parte de perseguir e punir estudantes da greve. Além disso, ainda hoje, setores de professores continuam desfavorável as cotas, praticando racismo velado ou descarado contra os negros, íngenas e cotistas. A força dos estudantes, ligada a uma ampla campanha por cotas que garantiu as bases para transformações na universidade e é a mesma que poderá garantir que cada conquista não retroceda e que também avancemos por mais, lutando contra os déficits do orçamento, contra as tentativas de corte de bolsas, contra as parcerias com as empresas privadas, por uma universidade gerida proporcionalmente pelos três setores que dela fazem parte, pela efetivação de todas as terceirizadas sem concurso público, e juntos com demais universidades e os trabalhadores, lutando pelo fim do vestibular e a estatização das universidades privadas para que todos, todas e todxs que queiram possam estudar.




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