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RESPOSTA AO GLOBO | Editorial do GLOBO força começo da injusta privatização do ensino superior

Carolina CacauProfessora da Rede Estadual no RJ e do Nossa Classe

terça-feira 26 de julho de 2016 | Edição do dia

No dia 24/07/2016 o jornal O GLOBO escreveu novamente um editorial com supostas respostas a crise econômica pela qual passa o país, nas mãos do governo golpista de Temer. Resgatou o velho argumento dos setores privatistas propondo que as universidades públicas tenham suas vagas pagas, ou seja, privatizadas. Com mais um título daqueles que vira piada no facebook: “Crise força o fim do injusto ensino superior gratuito”, tentam vender como uma forma de resolver a injustiça entre estudantes que pagam para estudar no ensino superior e aqueles que poderiam pagar por uma universidade, mas tem acesso ao ensino superior público, ou seja, propõe como resposta a privatização do ensino superior.

O editorial do jornal O GLOBO, ainda tenta mostrar a sua proposta privatista como “uma ideia nunca aplicada” para resolver as crises orçamentárias das universidades públicas e do problema da injustiça no acesso: “Para combater uma crise nunca vista, necessita-se de ideias nunca aplicadas. Neste sentido, por que não aproveitar para acabar com o ensino superior gratuito, também um mecanismo de injustiça social? Pagará quem puder, receberá bolsa quem não tiver condições para tal. Funciona assim, e bem, no ensino privado”. Não é de se espantar que tente mascarar sua proposta de privatização como forma de resolver a injustiça do acesso para alunos pobres, sem citar nenhuma vez as palavras cotas raciais e sociais, sem dizer que o vestibular é hoje o principal funil social e racial que garante a manutenção das injustiças do acesso às universidades públicas.

As respostas inovadoras do editorial não passam por mudar a estrutura social que filtra jovens pobres e em sua maioria nas universidades públicas, transformando-as em instituições extremamente elitistas. Não é possível discutir alternativas a crise das universidades sem debater o acesso e democratização nas universidades e sem debater as cotas étnico raciais, o fim do vestibular e a as políticas de permanecia oferecida aos estudantes.

O aumento do ingresso de negros nas universidades no governo do PT e o surgimento do maior monopólio educacional privado do mundo

O PT foi o primeiro governo a implementar a lei de cotas, aprovada em 2012, garante 50% das vagas nas universidades federais para alunos advindos de escolas públicas, dentre as quais, a proporção de negros do estado é aplicada como porcentagem para distribuição de vagas. Junto a essa lei, o financiamento e a ampliação do ensino privado só se fortaleceu. Os grandes projetos do governo como “universidade nova” (REUNI), o Programa Universidade para Todos (PROUNI), e Fundo do Financiamento Estudantil (FIES) aumentaram a porcentagem de jovens de escola pública e negros na universidade, mas junto a isso também foi neste governo que se consolidou o maior monopólio educacional provado do mundo, a Kroton-Anhanguera.

Segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, divulgados aqui, apesar do número de negros que ingressam na universidade ter crescido exponencialmente nos últimos 10 anos “a proporção dos estudantes de 18 a 24 anos pretos ou pardos que frequentam o ensino superior ainda não chegou ao mesmo nível que os jovens brancos tinham dez anos antes”. De acordo com a mesma pesquisa, “ (...) em 2004, 16,7% dos alunos pretos ou pardos estavam em uma faculdade, em 2014, esse percentual saltou para 45,5%. No caso dos estudantes brancos, em 2004, 47,2% frequentavam o ensino superior; dez anos depois, essa parcela passou para passou para 71,4%. Mesmo tendo aumento o número de negros nas universidades ainda são porcentagens discrepantes e a maioria dos jovens negros no ensino superior estão pagando e se endividando com as mensalidades das universidades privadas. Segundo os dados do MEC, os negros são maioria nos financiamentos do FIES (50,07%) e nas bolsas do Prouni (52,10%).

Apesar de ter feito com que uma série de universidades tenham se tornado mais negras, a política de cotas não veio acompanhada da ampliação da permanência estudantil, não garantindo condições básicas para que o aluno se mantenha nas universidades, o que só tende a piorar com os cortes na educação. Além disso, antes do impeachment da presidente afastada Dilma, o governo já vinha implementando cortes drásticos nos orçamentos das universidades e nos programas FIES e PROUNI, como já denunciamos no Esquerda Diário.

A resposta privatizadora do GLOBO tenta mascarar um cenário já consolidado no ensino superior, a sua financeirização. A oligarquia financeira é dona da educação e o Brasil é o país com o maior monopólio educacional do mundo, formado nos 13 anos do Governo do PT. A fusão entre o grupo Anhanguera e o grupo Kroton da Kroton-Anhanguera é um salto privatizador e monopolista que o capital financeiro alcançou no sistema educacional brasileiro, com patrimônio de R$13 bilhões, um patrimônio maior dos 7 maiores monopólios de educação no mundo. A financeirização da educação e a transferência sistemática de verbas públicas para instituições provadas como Prouni e Fies para salvar estas instituições não são nem tocados neste debate.

A maquiagem para a distorção social ou a democratização radical das universidades

A proposta do editorial é que os alunos ricos paguem mensalidades e os alunos pobres recebam bolsa. Vem na esteira da aprovação da cobrança de mensalidade para pós-graduação latu senso nas universidades públicas. Dizem abertamente acabar com ensino superior público gratuito e usam a “distorção social” como justificativa. Muito cinismo daqueles que sempre se colocaram contrários a mínima possibilidade de democratização das universidades com as cotas, alimentando o elitismo e a meritocracia. Usam a USP, principal universidade do país para ilustrar “sua proposta inovadora para salvar as universidades”, os mesmos jornais criminalizam as greves na educação. Propositalmente não citam que a USP da qual eles falam tão preocupados, estava em greve há 65 dias junto com as estaduais paulistas, lutando contra o corte de orçamento da ordem de R$ 40 milhões na Unicamp e R$ 370 milhões na USP, contra o desmonte das creches e dos hospitais universitários e de sua desvinculação da universidade e atribuição à entidades privadas por meio das OSS (Organizações Sociais de Saúde), ela é por cotas para negros e indígenas que as universidades racistas de São Paulo se recusam a implementar. Obviamente não falam também dos altos salários da burocracia acadêmica e suas fundações privadas dentro da universidade, conforme viemos denunciando no último período, o que comprova que o editorial do jornal mente em afirmar que sindicatos nunca denunciaram isso.




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