×

DEBATES | EUA e suas relações com a América Latina na era Trump

Na última sexta-feira, 31 de agosto, organizado pelo Curso de Relações Internacionais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), na cidade de João Pessoa, no marco do Seminário “Os Estados Unidos e as Relações Internacionais na era Trump”, fiz parte de uma mesa-debate sobre “Estados Unidos e suas relações com América Latina”, desde Esquerda Diário.

quarta-feira 5 de setembro de 2018 | Edição do dia

Nesta matéria apresento o conteúdo de minha intervenção que desde o inicio anunciei que tinha relação com o acúmulo de discussões sobre o tema no Esquerda Diário, impulsionada pelo Movimento Revolucionário dos Trabalhadores. Por esta razão adverti que minha apresentação seria do ponto de vista da independência de classe, o imperialismo e o internacionalismo operário, e não a partir de um ponto de vista hegemônico nas relações internacionais, entendidas como relações entre estados do ponto de vista do Estado-nação.

Em primeiro lugar, há dez anos do início da crise capitalista mundial de 2008, caracterizei esta como uma crise orgânica diferenciando em termos gramscianos este conceito de crise conjuntural. Estamos frente a uma crise geral do capitalismo, econômica, política e social, que vai além de uma crise cíclica “normal”, onde há um período de expansão, se sucede um período de retração para depois tomar novo impulso outro período de expansão, já que deste ponto de vista as perspectivas de crescimento da economia mundial são raquíticas até nos países capitalistas avançados, já que se inicia na principal potência imperialista mundial (Estados Unidos) e articula de forma desigual e combinada crises econômicas, políticas e sociais que se manifestam de forma particular em cada formação econômico-social, mas batem muito forte na América Latina em geral. Mesmo tendo contido uma grande depressão como a da década de ’30, os sinais de melhora da economia mundial no ano de 2017 são insuficientes. Para aprofundar sobre este tema recomendamos a leitura desta matéria, entre várias outras, escrita por André Acier para Esquerda Diário.

No marco da crise orgânica, Donald Trump é expressão de um conjunto de tendências nacionalistas, que também se expressam pela direita no Brexit e o crescimento de partidos xenófobos na Europa, apresentando como hipótese que isso significa o esgotamento do consenso globalizador neoliberal hegemônico pós guerra fria.

Existe uma mudança na política dos Estados Unidos, uma vez que sua liderança não se limita a dirigir através de organismo multilaterais como a Organização Mundial do Comercio (OMC) que garantiam benefícios ao capital norte-americano, mas também a aliados como Alemanha, Japão ou a própria China. Esta ordem entra em crise no ano 2008 e a principal potencia imperialista não está adotando os “valores da globalização”. Desse modo, USA obriga aos demais países a agir dessa forma. Isto não significa que Trump não enfrente contradições com as classes dominantes norte-americanas para aplicar seu programa nacionalista em alguns aspectos, a possibilidade de impeachment, mesmo que não avance é um reflexo disto, mas mesmo assim é inegável que mudou a agenda internacional, perseguindo de forma mais agressiva seus interesses nacionais em detrimento dos demais países, o que para América Latina significa aumentar a exploração e opressão.

Esta reestruturação e novas lutas inter-imperialistas, mesmo não chegando a guerra aberta entre países imperialistas, tem repercussões e consequências na América Latina. Tudo isto no marco de uma guerra comercial Estados Unidos-China, onde para a USA a China aparece como um competidor estratégico, aparecendo a competência estratégica entre potencias como prioridade no lugar da luta contra o terrorismo, que fica num segundo plano. Sobre a guerra comercial e seu impacto na formação econômico social brasileira recomendamos estas matérias de André Acier e Lenadro Lanfredi publicadas também neste jornal em duas partes, a primeirae a segunda.

Por sua vez, sobre as guerras comerciais com a China e a vocação desestabilizadora de Trump, indicamos esta outra de André Acier.

A América Latina vivencia uma situação particular. Os Estados Unidos depois dos fracassos no Iraque, Afeganistão e Líbia, voltam-se de novo para América Latina. Em 2015 é realizado o acordo com Irão, em momentos que Assad na Síria, mesmo apoiado por Teerã e a Rússia, estava fraco e o Estado Islâmico e a luta contra o terrorismo era o central. Agora com Assad fortalecido em 2018, os Estados Unidos saem do acordo com Irão alternando suas prioridades.

A nova ofensiva imperialista na América Latina não vem no marco do triunfalismo neoliberal dos anos ’90, mas reaparece como um neoliberalismo senil no marco de giro à direita na superestrutura política depois do ciclo “pós-neoliberal”, como o estão mostrando a crise do governo Macri na Argentina com sua volta ao FMI ou ausência alguma de popularidade de Michel Temer no Brasil pós golpe institucional, só por mencionar dois casos, os ciclos estão se encurtando produto de crise políticas. As novas políticas de ajuste requeridas pelo neoliberalismo senil não tem consenso de massas para garantir triunfos eleitorais na institucionalidade “normal” dos países capitalistas, é preciso denegrir ainda mais estas democracias para ricos. Brasil fala por si mesmo com a proscrição à Lula, a quem não apoiamos politicamente, mas é inaceitável que a justiça sequestre o direito do povo decidir em quem votar. Também poderíamos falar de Nicarágua e o custo político da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) na tentativa de aprovar a reforma da previdência impulsionada pelo imperialismo.

Temos também um conjunto de experiências neoreformistas que se esgotam muito rapidamente como é o caso do Syriza na Grécia, do Podemos na Espanha ou a Frente Ampla no Chile, e diferenciamos com a situação da Argentina, onde o Partido dos Trabalhadores Socialistas (PTS), organização irmã do Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT) que fazem parte da Fração Trotskista – Quarta Internacional (FT-QI) e integra a Frente de Izquierda y los Trabajadores(FIT) uma frente política de independência de classe, não permitiram desde uma esquerda anticapitalista e socialista o surgimento fenômenos como estes.

Como conclusão, do ponto de vista estratégico, foi defendida da integração econômica e politica de América Latina, mas que só pode ser realizada por governos operários em ruptura com o capitalismo, conquistando uma federação de republicas socialistas da América Latina que sirva de apoio à toda a classe trabalhadora mundial. Isto em luta contra o imperialismo e seus governos de direita desde um internacionalismo de combate, fortalecendo na classe trabalhadora, no movimento de mulheres e na juventude, correntes revolucionárias que permitam organizar uma força material partidária para preparar a destruição do capitalismo.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias