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ENEM 2020 | ENEM: porque a decisão do INEP é insuficiente?

Mais uma vez, uma nova crise do ENEM, comandada e incentivada por Weintraub, traz à tona o problema dos vestibulares, colocando em questão o acesso ao ensino superior. Em meio a pandemia do novo coronavírus, que contabiliza mais de 20 mil mortos, o Governo Bolsonaro, sob pressão dos estudantes, anunciou o adiamento do exame com ressalvas.

João Guidugli Estudante do CEFET Varginha

segunda-feira 25 de maio de 2020 | Edição do dia

O Enem, Exame Nacional do Ensino Médio, é o segundo maior vestibular do mundo, que segundo o MEC, tem como principal finalidade a avaliação individual do desempenho do participante ao final do ensino médio, e servindo de acesso ao ensino superior em universidades públicas brasileiras, através do Sistema de Seleção Unificada (SiSU). O principal objetivo é contestado, pois, todos os anos milhares de jovens sofrem com a preparação exaustiva para passar nos vestibulares e tantos outros ficam de fora dessa avaliação, sem sequer imaginar com a possibilidade de entrar numa universidade, menos ainda pública. Existe um obstáculo elitista, racista e excludente, o vestibular que funciona como um filtro social, que mesmo com a implementação das cotas raciais e sociais, faz com que a maioria da juventude negra e pobre fique de fora das universidades.

Leia: A crise do Enem e o problema do filtro elitista e racista do vestibular (Editorial sobre a crise do início de 2020)

Em meio a pandemia do novo coronavírus a situação se agrava, expondo os estudantes a regimes de EaD improvisados, como faz o governador Romeu Zema, desconsiderando a real situação dos mineiros, onde 700 mil estudantes tem de lidar com a falta de acesso a internet, e a alternativa televisiva do canal Rede Minas, chega a apenas 183 dos 853 municípios de Minas Gerais. Assim, aqueles que já sofriam com a preparação exaustiva para o vestibular, precisam agora lidar com diversos enfermos causados pela crise capitalista e sanitária, prejudicando ainda mais a saúde física e mental dos estudantes, algo que nunca foi a preocupação desse governo, e consequentemente o desenvolvimento dos estudos.

Para tentar amenizar os problemas enfrentados pelos estudantes, a primeira medida seria o adiamento do ENEM e demais vestibulares de acesso ao ensino superior público. Assim, o Ministério da Educação, após pressão dos alunos que promoveram manifestações virtuais, publicou uma nota oficial informando o adiamento do exame em até 60 dias ao previsto no edital. Para tanto, o Inep, organizador da prova, promoverá uma enquete direcionada aos inscritos, por meio da Página do Participante. Mas essas são realmente as medidas necessárias e defendidas pelos estudantes? É possível confiar no discurso de preocupação do ministro Weintraub? E por último e não menos importante, o vestibular deveria existir?

Logo após o anúncio do MEC, os estudantes se prontificaram em comemorar a decisão, o que é compreensível, mas seus representantes esqueceram que a luta não tinha acabado. Isto repercutiu na Câmara dos Deputados, onde o PCdoB, indagou elogios a Maia e Alcolumbre, dizendo ser grandes negociadores com o governo, ao ponto do presidente da casa negociar via WhatsApp com Bolsonaro a decisão, e por fim aceitaram a retirada da pauta o projeto de lei que votaria a suspensão do calendário de todos os vestibulares, que havia sido votado no dia anterior pelo Senado. A ideia de Weintraub foi estratégica, pois conseguiu impedir a votação do projeto, atacou a organização dos estudantes, e ainda fez com que a esquerda burocrata e reformista caísse em seu conto.

Aceitar a ideia de adiamento em 60 dias é aceitar o conformismo de “mal menor”. O calendário do Enem precisa ser adaptado ao das escolas públicas, sendo planejado após a superação da pandemia e o retorno das aulas em todas as escolas do país. Para se ter exemplo, o CEFET-MG anunciou no dia 15 de março a suspensão das aulas, contabilizando até agora 66 dias de quarentena, tempo superior ao do adiamento, e sem menor perspectiva de retorno.

Além disso, dentro da proposta do ministério encontra-se a ideia de fazer uma enquete aos alunos já inscritos, perguntado se eles aceitam a mudança, como se assim fosse o caminho mais “democrático” para o ministro. A pergunta que fica é: mas e os que nem conseguiram se inscrever, vão poder opinar também?Vale lembrar, que o MEC precisou prorrogar as inscrições devido à baixa adesão. E os outros 30% dos estudantes que não possuem acesso a internet, o sr. ministro vai perguntar a cada um o que acha disso?

Ainda, quem deve estar a frente dessa discussão são os estudantes, mas com a participação de suas respectivas entidades representantes, que Weibtraub muito tem atacado, ao ponto de publicar em seu Instagram que “faria uma enquete sem a participação da UNE”. Podemos criticar a direção dessas entidades, incluindo a UBES, comandadas por setores burocráticos e reformistas da esquerda, mas não deixaremos de defender as maiores organizações nacionais estudantis da América Latina.

É preciso chamar todos os estudantes do país a participarem da campanha contra a manutenção do calendário do ENEM, superando esse prazo insuficiente de 60 dias, defendendo nossas entidades e denunciando o papel burocrático das direções majoritárias, e o cínico discurso do MEC de que estão preocupados com o futuro das novas gerações, enquanto os capitalistas se aproveitam da pandemia para acelerar os ataques e a precarização das nossas vidas.

Uma luta que também passa pelo defesa do fim desse do filtro social racista e elitista dos vestibulares, como é o ENEM, que todos os anos excluem os jovens oriundos da classe trabalhadora a ingressar nas universidades públicas. Contra esse governo de Bolsonaro, Mourão e os militares que despreza as condições de vida dos trabalhadores e da juventude, como ficou escancarado no vídeo da reunião ministerial. Por um ensino público superior de qualidade sem vestibular!




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